Paraíso tropical                          



Paolo acordou com frio, puxou as cobertas e olhou pela  janela. A neve caía lenta e o dia amanheceu  escuro e triste. Naquela manhã havia chegado ao fim do poço e precisava achar algum motivo para seguir adiante.

Estava sozinho, odiava o emprego, os amigos evitavam sua companhia sorumbática e até os pais não o convidavam mais para o almoço dominical.
Paolo havia-se transformado em uma pessoa amarga e negativa. Sempre reclamando de tudo, mau- humorado e impaciente. Ligou a Tv e um documentário mostrava uma praia linda, areia branquinha e mar azul. Porto Bonito era o paraíso tropical brasileiro. Tinha verdadeira  fixação pelo Brasil.  Foi então que decidiu fazer uma loucura.

Usou parte das economias e comprou uma passagem no primeiro vôo. O restante serviria para passar algum tempo sem fazer nada além de tomar sol. Estava decidido a tirar longas férias e nem se deu ao trabalho de avisar os  familiares. Deixou um bilhete e foi para o aeroporto. Carregou  as malas com todas as roupas de verão, tinha a cabeça cheia de idéias. Acomodado no assento apertado fechou os olhos e suspirou aliviado. Finalmente as aulas de portugues iam servir para alguma coisa.

O celular tocou e decidiu não atender  a ex-esposa . Quando casou-se com  Mariella todos ficaram surpresos: Era a moça mais feia da cidade. O pior aconteceu dois meses  após a união: A esposa pediu anulação do casamento e  ameaçou contar o motivo se não recebesse um bom dinheiro. Paolo precisava fugir da vergonha...

A imagem da areia branquinha e o mar azul não saíam de sua cabeça. Deixou Roma pra trás e pisou em solo brasileiro aliviado. A cidade pequena, quente e  aconchegante era apenas o cenário ideal. O enfeite perfeito eram as mulheres que ele nunca havia imaginado existir. Negras lindíssimas, divas esbanjando beleza natural em esculturas vivas. 

 Ele esperava encontrar uma mulher especial e ser feliz. Arriscou a moça que trabalhava na pensão onde se hospedava. Dono de um membro descomunal,  provocou tamanho dano na jovem que rapidamente a notícia se espalhou. Todas as mulheres,  inclusive as prostitutas repeliam  o estrangeiro. Foi aconselhado a deixar a cidade. Recusou-se.  Sentia que ali era seu lugar e ponto final.  Estava obcecado por Porto Bonito.

Mais uma vez segregado, resolveu alugar uma casa retirada e viver isolado até cair no esquecimento. Infelizmente um estrangeiro em uma ilha pequena, sempre é ponto de referência nas piadas do local. Ao invés da tranqüilidade esperada, tornou-se uma lenda viva com a fama de mais de 25 cm de comprimento. Alguns meses depois, em sua rede na varandinha, avistando o mar de águas claras, ele pensava na vida e em sua má sorte.
Certo dia acordou com o barulho da faxineira. Desfilou a nudez  até se deparar com uma jovem:- Meu Deus! Seu Paulo!

- Pensei que fosse  a dona Jussara.

- Minha mãe está doente e me mandou no lugar. O senhor sempre anda deste jeito?

- Dona Jussara não se importa com meu jeito. Desculpa.

Algum tempo depois encontrou a moça varrendo a sala e tirando o pó. Encabulada ela não levantou a cabeça:- Pode olhar agora. Como é seu nome, menina?

-  Ana.  Vou terminar a faxina e fazer seu almoço.

- Se quiser podemos comer na pensão. Hoje é dia de moqueca de camarão.

- Não precisa,  eu faço a moqueca aqui mesmo e deixo pro senhor.
 
Sentiu-se rejeitado, tinha feito o convite sem maldade e a moça não aceitou. Parado na porta,  passou a admirar a mulher de pernas grossas e firmes. Cintura fina e quadris fartos, a bunda redonda e empinada apertada no shortinho mínimo. Os seios balançando sob a blusa  curta e transparente. O que mexia com os sentidos e deixavam-no desnorteado era a pele escura e bronzeada. Lisinha, com jeito de maciez e pronta pra ser tocada.

Imediatamente sentiu o volume crescer, impossível disfarçar a vontade de ter aquela mulata. Todos os sentidos aguçados com a proximidade da moça. Ana continuava limpando a casa sem dar a mínima atenção. Fingindo procurar um cd, aproximou-se da estante que estava sendo lustrada:- Vou colocar um musica, eu adoro os ritmos brasileiros. São muito alegres, você tem jeito que dança muito bem...Acertei?

Paolo tentava disfarçar e cada movimento da moça era uma tortura. Tanta solidão e descaso pesaram como nunca. Havia nascido azarado e sua existência era um desastre. Queria aquela menina bonita por bem ou por mal. Aproveitou a distração da jovem e puxou-a de encontro a si:- Você é muito bonita, só quero um pouquinho de atenção. Te dou um extra.

- Vim fazer faxina! Não sou puta, só quero comprar remédio pra minha mãe.

- Um beijinho é pedir muito? Já disse que pago! Tenho alguma doença contagiosa? Sou tão repulsivo que até uma faxineira me recusa?

- Vou embora daqui...Bem que me avisaram que o senhor era esquisito.

- Veio toda gostosa com esta roupinha apertada e não quer nada? Vou te mostrar o esquisito.

 O homem  encurralou a moça em um canto da sala, Ana  mordeu o braço de Paolo com toda força. Ele reagiu agarrando-a pelos cabelos e recebeu um chute no meio das pernas.
Urrando de dor, atracaram-se aos gritos e tapas. Paolo perdeu a noção do tempo que lutaram. Estava cansado quando finalmente ela ficou quieta.
 Completamente fora de si, abraçou a moça e beijou repetidas vezes. Ela não esboçou qualquer reação e ele  entendeu como um sinal positivo. 

 Acomodou a moça com carinho no tapete da sala recém varrido:- Linda...Você é tudo que eu sempre quis sabia? Não tenha medo, não estou zangado...Sou muito carinhoso, muito carinhoso...

Desnudou o corpo desejado e fez amor como há tempos sonhava. Ela era tão dócil e suave... Aceitou  seu membro sem esboçar qualquer  temor. Não riu nem caçoou dele como as outras. Perfeita! Finalmente havia encontrado sua mulher especial. Ficou acariciando e abraçando a moça, embalado pelo ruído do mar até adormecer.
 Paolo despertou na escuridão, deitado no chão da sala não sabia ao certo o que havia acontecido. Sentiu o corpo da mulher ao seu lado e assustou-se.

Imediatamente alcançou a luminária e apertou o interruptor. Um grito de horror ficou preso em sua garganta.
Havia transformado  o rosto bonito em uma maça disforme. 
Olhos afundados, a boca escancarada por força do maxilar deslocado, filetes de sangues escorrendo dos ouvidos. Aninha parecia uma boneca de trapos toda retorcida.

Lentamente tomou consciência do que havia feito. Lembrou dos socos que aplicou continuamente até que Ana perdesse os sentidos. Não percebeu que naquele momento,  havia matado a garota. Não sentiu  nada além da raiva acumulada anos a fio.

Assassinato. Longe de tudo e todos, sozinho em um lugar pequeno e isolado. Com certeza diriam que era mais um psicopata escondido no Brasil. Como fugiria?Se o pegassem estaria perdido, tinha medo da policia e mais ainda dos locais.

Lembrou dos rostos que nunca o encaravam. Gente estranha com fama de cultos e mandingas que antes eram motivo de zombaria. Paolo estava apavorado, pegou todo o dinheiro e deixou a casa.
 No aeroporto aguardava o primeiro vôo para longe da cidade. Tremia por trás do jornal que usava para esconder o rosto.Um grupo de homens cercaram-no  sem alarde:- Polícia! Levante devagar e ponha as mãos pra trás. 

O italiano saiu escoltado  e de cabeça baixa. Sentou-se no meio dos troncudos e mau encarados policiais. Rodaram em silêncio muitos  quilômetros e Paolo estranhou o caminho tomado. Cada vez mais distante da cidade, embrenhavam-se na mata pela velha estrada de terra... Alguma coisa estava errada:


- Onde estão me levando? Quero um advogado, sou estrangeiro. Tenho meus direitos.

- Tem o direito de calar a boca antes que eu perca a paciência.

- Não podem fazer isso comigo! Exijo ir pra delegacia.

- Quem disse que somos policiais? Se toca gringo, vai pagar o que fez ...Pensou que éramos policiais? Pensou errado. Este aí no volante era noivo da Ana...Sabe que ela só tinha dezenove anos?

Neste momento levou o primeiro soco  na cara. A ordem era arrebentar completamente o rosto do assassino. Mas primeiro,   ele seria torturado e sofreria bastante. O noivo da morta fez  questão de assistir tudo. Paolo foi arrastado até uma clareira e espancado com vontade. Quando desmaiava, jogavam água, reanimavam e começavam tudo de novo. Quebraram cada osso prolongando a agonia horas e horas a fio:

- Agora vamos capar o monstro. Nem precisa segurar ...Rápido que tá quase estrebuchando.

- Queria ter feito no início- O noivo de Ana decepou o pênis de Paolo e exibiu na ponta do terçado.

Após urinar no que sobrou do corpo de Paolo, esquartejaram e jogaram os pedaços em vários locais. Entraram no carro e voltaram para o enterro da moça.  

A cidade de luto soube imediatamente que a justiça havia sido feita. Por estas e outras, eles não gostavam de gente de fora no vilarejo. Mas eles sempre apareciam... Atraídos pelas belezas naturais, as mulheres e o sonho do paraíso. E o final nunca era diferente.
 
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 25/03/2009
Reeditado em 20/06/2009
Código do texto: T1506183
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