O corcunda de Baltmor
Certo dia, decidi viajar até a aldeia sagrada de Baltmor, para conhecer um pouco mais sobre suas culturas e seus aldeões. Depois de muitas horas de viagem, enfim eu consigo chegar até a tal aldeia. Caminhando por lá, a procura de meu anfitrião, percebi que todos me observavam e isso me incomodou muito, fez-me sentir, como um verdadeiro estranho naquela aldeia, o que eu era de fato. Consigo ouvir sussurros pelos cantos, e ainda assim caminho tranquilamente entre os aldeões. Meu objetivo principal, era conhecer o ancião chefe, ou seja, o homem mais velho da aldeia. Logo cheguei até ele, e pude conversar muito sobre suas doutrinas e culturas. Fiquei muito surpreso com seus hábitos e sua metodologia milenar, o que superava antigos tabus.
Então após horas de estadia e muita conversa, coloquei-me a partir, pois, os habitantes da aldeia ainda estavam muito inquietos e apreensivos com a minha presença. Ao me despedir do ancião, segui apressadamente para a saída da aldeia, quando um velho corcunda segura repentinamente o meu braço:
- Não saia com tanta pressa, ele diz.
E, antes que eu possa responder alguma coisa, ele pergunta:
- Você tem muitos pecados?
Sem entender o motivo de tal absurda pergunta, eu repondo:
- Sim, tenho pecados, e muitos, aliás, todo o ser humano é possuidor de muitos pecados.
Então, o velho corcunda se cala, e com brilhos lacrimejantes nos olhos, ele se curva ainda mais e segue de volta à aldeia, sem sequer olhar em meus olhos, pois, sua deficiência é tanta, que o impede de erguer a própria cabeça. Então, antes que ele partisse, perguntei:
_ Ainda não entendo? Que mau eu posso lhe causar com meus próprios pecados?
O velho corcunda virou-se lentamente e disse:
- Já lhe foi dito, sobre as culturas da aldeia. Todos entram aqui e confessam seus pecados ao velho ancião, assim como você confessou os seus. Então, o que não lhe foi dito é que todos os pecados confessados, caem sobre mim, assim, toda a ira dos Deuses me abomina sem distinção, perpetuando em meu corpo a abominável imagem, a qual você vê agora. Diante das palavras do velho corcunda, pensei até em desmentir todo aquele conceito insano, mas, por outro lado, optei por respeitar as crenças e culturas impostas naquele lugar sagrado, tendo em vista, tudo o que eu já tinha aprendido. Assim, venho dizer que:
a realidade existente em cada um de nós, vem de um conceito interior, pré estabelecido por nossas próprias doutrinas.