OS DILEMAS QUE A PAIXÃO PROVOCA
Euclides resolveu seguir à risca o que havia prometido a si mesmo. Mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou outra, ela teria que ficar sabendo. Então por que rodeios? Por que adiar?
Tinha que ser agora.
Mas como iniciar a carta?
Ele nunca havia escrito uma carta!
Tudo começou naquele final de tarde fria em que, embaixo de uma caneleira, Camila, entre uma lágrima e outra, relatava sua vida.
Um casal de filhos pequenos, brigas intermináveis com o amasio (um ator esperando que a Globo batesse em sua porta) e que trocava o dia pela noite enquanto o sustento da casa ficava por conta dela. Além de ter que deixar os filhos todos os dias aos cuidados da bondosa cunhada.
No momento em que Euclides iria dizer o que seu coração sentia (decisão que poderia mudar o destino dele e dela), - PLOF!
Sentiu que alguma coisa havia caído em sua cabeça.
Passou a mão pelos cabelos e confirmou a suspeita.
Embora estivesse com o rosto molhado pelas lágrimas, Camila achou o fato engraçado e sorrindo perguntou:
- Cocô?
Euclides olhou para cima da árvore e muito sem graça respondeu:
- Sim!
O encontro que se imaginava sigiloso, tinha pelo menos uma testemunha ocular.
Mas agora Camila iria saber a verdade. O dilema era como iniciar a bendita carta. Será que primeiramente lhe convidava a levar sua escova de dente para fazer companhia a sua, convite que foi adiado pelo motivo já citado ou, que o pássaro daquela árvore já não está mais vivo?