Primeira porta à esquerda.
Parado em frente à porta da mansão, lá estou, como em conde Drácula as portas abrem-se do nada, entro com muito medo e calafrio, mas sigo (como todos os dias). Só escuto uma voz que sei exatamente de onde vem, vou seguindo a voz, e entro na casa que está muito escura, sinto um arrepio na espinha, um ar sombrio em minha volta.
Continuo a escutar aquela voz linda (que vem lá de cima), subo as escadas que ringe bastante. A voz cala-se. Agora escuto gritos ao longe, não de desespero, mas de prazer (é o pai dela). Parado em um corredor, vejo várias portas, mas uma chama-me muito atenção. Primeira porta à esquerda. Foi nela que quis entrar, parecia um imã me puxando. Giro a maçaneta e entro, lá vejo deitada à cama Inês que estava dormindo como um anjo, um anjo num Castela de trevas, as paredes agora têm mais cor, o ar está mais respirável.
Primeira porta à esquerda, nunca mais me saiu da memória, Inês não dormia, flutuava. Eu nem a tocava, só olhava. E só então voltava para meu posto naquela grandiosa mansão (mordomo). Um mordomo que era apaixonado pela filha do patrão, que de coma sofria há dezessete anos e há esse mesmo tempo sempre fazia a mesma coisa, todo o dia com os calafrios e medos ia ao quarto de Inês, primeira porta à esquerda, só para matar a “cede de amor” que sentia por ela.
Cada dia parecia ser diferente, parecia que era a primeira vez que a vira, sabia que era um amor platônico, que nunca a teria, mesmo que estivesse sadia, então no dia que completara exatamente dezessete anos que ele fazia tudo aquilo, ele saiu do quarto da donzela, quando abriu a porta viu a sua frente uma janela larga, não pensou duas vezes e pulou-a, na pancada quando ele chegou ao chão, Inês sentiu sua dor e acordou gritando pelo seu nome (Carlos), ele caiu de cabeça e chegou a óbito.
Na queda só falara uma coisa, a mesma frase: “se não posso tê-la, não posso viver” e Inês, depois de acordada do coma, em seu velório só falara uma frase também: “agora que podes me ter, então por que morrer?” (tarde demais Inês, tarde demais).