3 Décadas depois...

Teresa Cordioli

Certo dia no corredor de um Hospital, uma linda jovem passou por mim com semblante assustado, fiquei preocupada, sabia que ela estava internada com cólicas renais. O que poderia ter acontecido para fazer aquela moça de repente ficar tão triste me perguntei? A procurei, querendo saber o motivo de suas lágrimas...

- Quer um analgésico? Seu médico poderá prescrevê-lo eu disse!

Ela saiu correndo pelo corredor, com soro no braço e em prantos dizendo:

- Por favor, não o chame, por favor não! Nãooooo!

Por conhecê-la há algum tempo, insisti, sabia que aquele não era um comportamento normal dela, já tinha tomado todas as injeções possíveis que um ser humano possa tomar, se não era medo das agulhas, nem das sondas que extraiam seus cálculos renais, que medo era aquele que estava tomando-a?

Passei a observá-la, estava irreconhecível, olhar assustador,...sempre foi muito alegre, sorridente e falante, e naquele momento em minha frente com olhos vermelhos de tanto chorar.

Perguntei:

- O que foi menina? Está triste, são as dores?

Com um rápido movimento fez um sinal que sim. Preocupada me aproximei mais e tomei sua mão gelada dizendo:

- O que dói meu anjo?

Ela respondeu:

- A alma.

- Minha alma dói, meu corpo está sujo, preciso tomar um banho, me ajude, fique no quarto comigo, essa senhora internada aqui do meu lado é cega e não pode me ajudar, tire meu soro por um instante, você pode tirar para que eu tome banho?

Diante de tal situação, eu enfermeira há muitos anos, sabia que algo errado estava acontecendo, tirei o soro, ajudei a entrar no chuveiro e fiquei aguardando do lado de fora do banheiro...

Ao sair, sorri dizendo, é muito bom um banho não é? Coloque uma roupa limpa também... ela em silêncio, tomou sua sacola de roupas e colocou uma roupa de sair e não de dormir...como se costuma quando se está em um quarto de hospital. Nada comentei apenas a apoiei dizendo, “qualquer coisa me chame, olhe chegou seu chá, tome enquanto está quentinho”...

Mais tarde voltei para ver como ela estava e para minha surpresa não a encontrei, perguntando as outras plantonistas descobri que ela tinha fugido do hospital.

Na mesma hora chegou seu médico, todo sorridente entrou no quarto para vê-la, ao descobrir que ela tinha ido embora sem assinar sua alta hospitalar ficou muito bravo! Chutando tudo o que tinha na frente não disse nada e se foi.

Não me lembro o nome da paciente, lembro-me apenas que o nome do médico era: Roger.

Teresa Cordioli
Enviado por Teresa Cordioli em 25/01/2009
Código do texto: T1403695
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