Os Dois Velhinhos

OS DOIS VELHINHOS:

Presídio Estadual da Cidade de Montenegro. Às 9 horas da manhã de um domingo qualquer.

É hora dos prisioneiros tomarem sol. Todos estão no pátio, grupos distintos ocupam espaço nas arquibancadas laterais, alguns caminham. Os guardas, com armas em punho, caminham nas passarelas elevadas, com olhos vigilantes sobre os presos.

Em um dos cantos, esguios e furtivos, se encontram três elementos, que conversam animadamente.

- O “Véio” era pequeno e vivo. Moreno de rosto, de olhos inquietos e penetrantes e traços bem marcados. Tudo nele era definido: mãos pequenas e fortes braços delgados, nariz fino e ossudo.

Homem com mais de 50 anos, por isso o apelido. Naquele momento, ele diz aos demais:

- É isso aí, caras, é pegar ou largar, se vocês não tiverem coragem, vou arrumar outros que tenham.

- Eu estou nessa, disse o rapaz, com mais ou menos 28 anos, que atendia pelo apelido de

Loiro. Um homem enorme de rosto sem forma, grandes olhos pálidos e ombros largos e caídos; seu caminhar era compassado, quase se arrastando. Quando caminhava, seus braços não oscilavam, acompanhando o movimento das pernas, mas pendiam frouxos ao longo do tronco. Suas pernas eram cambotas, formando um arco que separava ambos os joelhos.

O terceiro coçou a cabeça, encolheu os ombros e disse após um ligeiro arrepio.

- Eu tô nessa também!

Ele tinha a alcunha de “Pequeno”. Era um homem alto, grande, de ombros encurvados, forte como um touro, tipo atlético, que sempre se exercitava quando não estava dormindo, o que na cadeia fazia, na maior parte do tempo. Não se sabe como adquiriu o apelido de Pequeno, embora tivesse quase dois metros de altura.

- Não esquece que precisamos juntar, entre nós três, duzentos mangos, para o “Loco” começar a briga.

Tudo fora combinado e tudo estava acertado. A fuga dos três ocorreria no dia seguinte, às 9h15min, quando todos estivessem no pátio.

O banho de sol iniciara pontualmente às 9 horas. Os 275 detentos começavam a chegar ao pátio do estabelecimento prisional. O “Véio” e seus dois asseclas se acomodaram nas posições previamente estabelecidas. Às 9h15min o “Loco” tirou a camisa, jogou-a para o lado e começou a caminhar à procura de alguém. Sua camisa é apanhada pelo “Véio”, que a colocou debaixo do braço. O “Loco” acha seu desafeto, um crioulão com quase dois metros de altura, com um tônus muscular no braço, que superava a coxa de muitos dos prisioneiros. Aproxima-se dele e o golpeia pelas costas. Este cai, logo se levanta e ataca ferozmente. Outros prisioneiros tiram as camisas e começam a brigar entre si. O “Véio” e seus dois companheiros recolhem as camisas e as escondem.

Os guardas, por sua vez, abandonam seus postos de vigilância e descem para ajudar os guardas do pátio a desmantelar a luta campal.

Quando o tumulto estava generalizado, guardas e presos brigando uns contra os outros e entre si o “Véio” e seu dois asseclas amarram as camisas, fazendo delas uma corda resistente. Escalam a murada até a passarela lateral, amarram a corda de panos e descem a murada pelo lado de fora do presídio.

Embrenham-se no mato e começam a caminhada para escapar.

- Olha aqui pessoal, o negócio é o seguinte: Vamos esperar a noite chegar, caminhando pela mata escondidos. Mas, continuaremos caminhando longe de qualquer estrada. Vamos ficar o mais distante do presídio que pudermos. À noite, nós vamos atacar alguma fazenda ou chácara para buscar alimentação e roupas. Depois é cada um por si e Deus por todos.

- Eu não concordo! - disse o prisioneiro Louro. - Eu acho que devemos continuar juntos, pois um pode vigiar enquanto os outros assaltam. Temos que roubar um carro e um revólver, viajar e assaltar os postos de gasolina nas estradas.

O prisioneiro afro-descendente coçou a cabeça, fungou e disse:

- Bom, eu topo, pois não tenho para onde ir mesmo!

O “Véio” arregaçou as pernas da calça, sentou em uma raiz exposta, e disse:

- Eu tenho para onde ir, tenho uma mulher, que é doida por mim. Posso passar alguns meses com ela até esfriar as buscas. Mas, pra vocês não dizerem que sou um mau companheiro, vou fazer uma proposta. Eu vou com vocês e juro não lhes abandonar jamais, sob as seguintes condições: eu serei o chefe do grupo e depois de alguns assaltos vamos recrutar mais gente para ajudar. Vamos formar uma quadrilha para ampliar o nosso negócio. E, aí, como é, aceitam?

- Eu aceito. - disse o afro-descendente.

O Loiro apenas balançou a cabeça em assunção ao que tinha sido proposto.

O SÍTIO DOS VELHINOS:

O sítio era muito lindo e harmonioso. Chorões e salseiros rodeavam a aguada, que sempre continha água fresca surgida de uma rocha. Em ambas as laterais da estrada, que davam entrada à casa, as folhas formavam um tapete tão espesso e seco, que a fuga de um gambá, perseguido pelos dois cachorros, por entre elas provocava uma longa crepitação. A casa era velha, mas muito conservada, um grande alpendre a circundava pelas quatro laterais. A alvenaria sempre bem pintada, as portas em madeira de lei, esmaltadas, deixando a madeira em sua cor natural. As pesadas dobradiças eram reforçadas por uma robusta tranca de ferro. As janelas, da mesma forma, eram robustas e bem fechadas. Qualquer leigo poderia ver que se tratava de uma casa inexpugnável.

Um grande coqueiro fornecia uma sombra razoável nos dias de sol, plantado a cinco metros do avarandado, na parte frontal da casa. Uma cerca de arame liso circundava a residência, a uma distância de dez metros, em cada lado da casa, com seis fios, formada por moirões e estaquetas, isolando o resto do sítio da morada. Um caramanchão de maracujá, no lado direito do prédio, dava lugar a uma beleza singular, só vista em palácios e mansões.

Adentrando na casa podia se ver uma enorme lareira em um dos cantos da sala. Em cima da lareira uma cabeça de servo e um par de espingardas de caça. Um sofá para quatro pessoas, duas cadeira do tipo “do papai” e uma mesa de centro eram os móveis da sala. Na cozinha, uma mesa com quatro cadeiras, um pequeno fogão à lenha, uma pia, um refrigerador e um armário de guardar viveres.

O terceiro cômodo era um quarto de solteiro, contendo apenas uma cama e um pequeno guarda- roupa. O quarto cômodo, o quarto do casal, modesto como os demais, com uma cama de casal, dois criados-mudos e um guarda-roupa. Entre os dois quartos um pequeno banheiro, com um chuveiro, um vaso e uma pia.

Naquela tarde de domingo, o filho único do casal de idosos estava de saída.

- Bom, papai, o fim de semana foi muito agradável, a mamãe continua a fazer aquelas comidinhas inigualáveis. Eu não resisto àquele arroz com carneiro que ela fez. Desculpe, mas você não acha que deveriam ir comigo para a cidade, a mamãe anda doente, lá ela pode se tratar mais adequadamente.

- Não, filho, nem eu nem tua mãe gostamos da cidade. Quanto à doença dela é mais enxaqueca, coisa de velha. Eu também sofro de artrite, que às vezes não deixa eu fazer nada.

- Mas, papai! Eu fico preocupado com vocês, eu somente posso vê-los nos final de semana. Isso me preocupa demais.

- Não se preocupe filho, você tem que cuidar é de seus filhos e de sua mulher. Nós já estamos no final da vida, estou na inhapa há muito tempo e sua mãe também está no mesmo. Além do mais, a casa é uma fortaleza, foi preparada por mim mesmo, e qualquer necessidade eu ligo para você.

- Bom, papai, te cuida e cuida também da mamãe.

O carro cruzou a porteira, o filho abana para o pai que, com o chapéu na mão, lhe abana também. O velho adentra na casa e quando vê a velha lhe diz:

- Nosso filho se foi, vamos passar mais uma semana sem vê-lo. Bom, vou apartar o terneiro, se não amanhã não teremos leite fresco.

O velho pega seu chapéu, coloca-o na cabeça e se dirige ao galpão do outro lado da cerca, onde faz as suas lidas de final de dia, que dura mais de uma hora. Ao final, retorna a casa onde sua velha o espera com um chimarrão como sempre o faz.

Às 16 hora,s os três fugitivos chegam ao pequeno sítio, e, entre árvores e arbustos, passam a observar a distância. Eles vêem quando o filho do velho casal deixa o sítio em seu carro. Vêem o velho Firmino ir ao galpão apartar o terneiro e dar de comer a vaca leiteira. O cão Piloto ia até a porteira e ladrava, parava ,voltava para a casa e, em seguida, ia novamente até a porteira e latia.

O velho casal vivia um sossego quase do outro mundo. Não tinham máquina elétrica de cortar grama (nem queriam ter), num raio de cinco quilômetros, não havia qualquer vizinhança. Eles tinham um rádio e um televisor, mas somente os ligavam para ouvir e assistir aos noticiários. O único motor que se ouvia era de um velho trator de um lavrador local. Quando o vento estava a favor, seu barulho irregular chegava aos ouvidos deles vagamente. Uma ou duas vezes por mês, iam à missa na capela, que distava cerca de sete quilômetro do sítio.

Ele era um velho de cabelos brancos e pele toda enrugada. Seus olhos azuis-claros, naquele rosto tostado pelo sol, observavam tudo com uma vivacidade e avidez inquestionável. Só lhe restava cinco dentes no maxilar, mas o sorriso era brilhante e alegre.

Ela era uma mulher alta e magra. Naquele dia estava com um avental de plástico amarelo, por cima do vestido azul. Seus cabelos com um rinse azulado, estavam penteados numa série de ondas, parecendo degraus. Sua pele, embora enrugada, era corada pelo uso exagerado de ruge.

Os dois sentados, um ao lado do outro, conversavam longamente, na maioria dos casos, recordando o tempo em que eram jovens. O velho Firmino gostava muito de contar bravatas, na maioria das vezes inventadas, somente para distrair sua companheira, tudo ouvia com a maior atenção, embora sabendo que tudo não passava de simples invenções do seu querido velhinho.

A anciã diz:

- Meu velho, às vezes me parece que ontem eu tinha apenas 45 anos, ainda jovem, assistia à formatura de graduação do nosso filho. Tudo me vem à mente como se eu estivesse vivendo aquele momento de novo, e isso foi há 35 anos. Eu vejo-o de toga ser chamado, a música escolhida por ele me vem à mente, vejo descendo a escada e se dirigindo à mesa, onde a representante do reitor lhe outorgou o grau de bacharel em Engenharia Mecânica. Lembro do seu agradecimento a seus pais, mulher e filhos, a pose para fotos e tudo o mais, a festa de formatura que entrou noite adentro. Você lembra, Firmino?

O velho passa a mão na testa, assoa o nariz, e diz com voz embargada:

- Aquele foi um dos mais felizes dias da minha vida. Como poderia tê-lo esquecido No.

Firmino faz o chimarrão roncar e alcança a cuia à No, (Novembrina, sim, este era o nome da anciã, por isso era chamada de No), que arruma a bomba e o enche novamente, começando a tomar.

- Você se lembra, No? Do nascimento do nosso filho?

- Como não, o fiasco que tu fizeste, festejando o nascimento.

- Eu nunca te contei tudo o que aconteceu naquela noite. Lembras que teu irmão estava provisoriamente morando conosco? Lembras?

- Sim, e como me lembro!

- Acabamos de jantar, eu havia tomado uma garrafa de cerveja, e ele, uma de vinho. Fomos dar uma volta no centro. No bar central, tomamos alguns drinques, cachaça com biter, devíamos ter tomado mais ou menos uns três martelos, e íamos para a casa, quando na porta do bar estava parado um rapaz, vestido todo de preto, com um cinturão com fivela de prata e um chapéu preto de abas largas. Seu irmão, ao vê-lo, riu e disse que ele parecia o Durango Kid dos pobres. O rapaz enfurecido partiu para cima dele, mas foi atacado pelo atendente do bar que o segurou e o mandou embora. Damos uma pequena caminhada e fomos para o bar Lide., Lá tomamos mais algum drinque, não lembro quanto, só sei que eu estava bem, mas o seu irmão estava muito bêbado.

Quando nos dirigíamos para a casa, em uma rua deserta, o homem nos atacou, empunhando uma faca. Seu irmão, quando viu a faca disparou, eu permaneci na frente do indivíduo tentando segurá-lo, para que não perseguisse o seu irmão. Naquela noite, apenas por ter bebido demais, poderia ter sido morto, apenas tive sorte que o dito rapaz não era de má índole. Desde aí não mais bebi nem para comemorar esporadicamente, o que não me arrependo, pois assim nunca mais tive qualquer problema dessa natureza. Ao passo que o seu irmão sempre esteve envolvido em beberagem e brigas.

- Lembro como se fosse hoje, quando, no dia seguinte, vocês chegaram para me visitar no hospital, ambos com a cara inchada e com o fígado arrebentado. Como lembro!

- No, eu já lhe contei quando estive na força expedicionária brasileira nos campos da Itália?

- Não, Firmino, ainda não contou!

No já ouvira essa estória mais de uma vez, mas sempre que Firmino a quisesse contar de novo ela estava disposta a ouvi-lo.

Eu era apenas um jovem expedicionário, com meu uniforme cor de oliva, capacete de fibra por debaixo do capacete de aço, um mosquetão com baioneta calada, coturno, cinto de guarnição, contendo cinco granadas e mais de quarenta cartuchos carregados para serem usados no mosquetão.

Naquele dia, íamos tomar de assalto o Monte Castelo. No topo do monte havia um ninho de metralhadora, escondido numa casamata de pedra.

O velho Firmino cofiou o bigode, passou a mão sobre a testa, cruzou a perna direita sobre a esquerda e disse:

- Vamos ligar a televisão par ver as notícias! Já são 18h 50min.

No levantou da cadeira e dirigiu-se até a televisão, ligou-a na RBS. E, ambos atentos, tomavam o chimarrão e assistiam às matérias do noticioso.

“Hoje, por volta da 9 horas da manhã, durante uma rebelião, houve uma fuga de três prisioneiros do Presídio Estadual de Montenegro. Os evadidos se embrenharam no mato. Os elementos em fuga são Arthur Mendonça, o “Véio”, João Antônio Albuquerque, o “Loiro”, e Eloy Assumpção, o “Pequeno”. Os três são de altíssima periculosidade, com penas de mais de 30 anos, por assassinato, assaltos e estupros”.

Enquanto o repórter falava as fotos dos evadidos eram expostas na tela.

- Firmino! Por isso é que nós fomos contra a construção do presídio, nós ficamos no caminho desses maus elementos.

- Nada podemos fazer, embora já estivéssemos aqui à mais de quinze anos antes da construção. Deus é nosso protetor e certamente não deixará que eles venham para cá! Mas, liga para o nosso filho e diz que estamos apreensivos com essa fuga, enquanto eu vou fechar toda a casa.

- Firmino, o telefone está mudo.

- Esse é mais um problema! Aqui não pega celular. E o Piloto não pára de acuar, aliás, é o que está fazendo toda a tarde, agora ele não sai da porteira acuando.

Escuta, o Piloto está se esganiçando,e a Joaninha também está nervosa; há algo estranho no pátio.

O cachorro fica cada vez mais nervoso, seu esganiçar é de que está atacando alguém ou alguma coisa. De repente, ouve-se o cachorro gritar por ter sido atingido com algum golpe fatal e logo o silêncio por parte do cachorro é total, permanecendo apenas o barulho do esganiçar da cadelinha Joaninha, que logo também dá um grito de dor e silencia. Ambos os animais haviam sido sacrificados.

O casal de velhinhos, não mais tiveram dúvida de que lá fora estavam os três facínoras.

Os três celerados chegam à porta da casa e batem.

- Ô de casa! - disse o “Véio”.- “nóis semo de paz,” abram a porta para podermos conversar!

De dentro da casa, Firmino diz:

- Nós sabemos quem são vocês, e se fossem de paz não teriam matado os nossos cachorros!

- Os cachorros nos atacaram, não houve outro jeito.

- O Piloto até é possível, mas a Joaninha, uma pequinês, não havia necessidade de matá-la.

- Vão se embora, nós somos um casal de velhos, nada temos que possa lhes interessar.

- Nóis só queremos comer alguma coisa e um lugar quente para ficar.

- Vão-se embora, pois eu vou ligar para o meu filho, ele logo estará aqui com a polícia.

- Ah você vai usar o telefone que nós cortamos os fios é? O blefe não deu certo. Né?

- Deixa que eu pedale a porta, chefe!

A porta resistiu com eficácia à pedalada do robusto afrodescendente.

- Sai, que agora vou meter o ombro!

A porta mais uma vez mostrou-se resistente e resistiu o encontrão do pesado homem, o que fez com que o Véio dissesse:

- Loiro, vai até o galpão e vê se encontra alguma coisa para cortar este coqueiro.

- É para já. Fez o contorno na porteira de entrada e se dirigiu ao galpão. Lá revirou tudo, não havia nenhum machado, nenhum facão, apenas uma pá de corte.

Ele retorna com uma pá de corte e diz:

- Foi apenas isso que de melhor encontrei no galpão!

- Isso dá, vamos cortar ao redor e após derrubá-lo.

Esse trabalho deve ter demorado mais de meia hora e o coqueiro estava no chão, cortaram o caule na parte superior, obtendo dessa forma um pesado tronco.

Recuavam e vinham com o tronco e o batiam com força na porta, que resistiu a diversas pancadas, até que entrou em queda com ambas as dobradiças e a tranca arrebentadas. Após a queda da porta, eles se puseram de contra a parede em silêncio para ouvirem os movimentos no interior da casa.

O silêncio era absoluto. Invadiram a casa e começaram a procurar. Logo, chegando ao quarto do casal viram os dois anciões deitados na cama, um ao lado do outro, ele, com a mão direita, segurava a mão esquerda dela.

O Véio se aproximou e colocou a mão no pescoço do varão e disse:

- Está morto, o Loiro fez o mesmo na velhinha, constatando que ambos estavam mortos.

- Bom! -disse o Veio - Assim não foi preciso fazer o serviço. Agora vamos ver o que eles tinham para comer?

O robusto afrodescendente abriu o refrigerador e começou a tirar uma perna de salame, um meio queijo feito em casa e uma jarra com leite. Nesse momento, o Loiro disse:

- Não tem nenhuma bebida, nenhum vinho sequer, estamos com a garganta seca. Vou procurar nos armários! Aqui está o pão!

Deu uma bocada e disse:

- Feito em casa, a veia era boa nisso, tá bem gostoso.

Após revirar tudo disse:

- Bolas, não tem nada de bebida forte, apenas este vidro com compota de figo.

O “Véio” disse:

- Vamos comer tudo o que tem e logo vamos dar o fora. Pequeno, vê se tem nos cômodos roupas que nos possam servir. O velho era grande o suficiente para que suas roupas sirvam em nóis três.

Harthur, filho do casal de idosos, amanhece no dia seguinte muito preocupado, e telefona a seus pais. O telefone não está funcionando, por isso resolve ir à delegacia de polícia da cidade de Montenegro. Lá chegando, é atendido pelo inspetor de plantão.

- Bom-dia, eu quero ir ao sítio de meus pais e quero ver se você pode destacar um brigadiano para me acompanhar. O telefone está mudo e eu não quero chegar lá sozinho, pois receio que os evadidos tenham chegado ao sítio, uma vez que até agora não foram capturados.

- Soldado Tavares, por favor, acompanha o cidadão até o sítio dos pais dele, ele está preocupado com os prisioneiros evadidos.

Durante o trajeto, ambos visualizavam o fio do telefone na parte inferior da rede de eletricidade que vai até o sítio.

Alguns metros antes da porteira de entrada para o sítio, verificaram que o fio do telefone havia sido cortado propositadamente. Harthur fica desesperado, receando que o pior tivesse acontecido. Ao entrar na porteira do cercado da residência, já viram o coqueiro cortado e a porta arrebentada. O policial arma-se com seu revólver e avança com cautela. Logo atrás, Harthur o acompanha, passo a passo. Chegam ao alpendre, o silêncio era total. O policial se adianta e adentra na casa, a surpresa é total.

Os acelerados estavam mortos. O mais idoso, o “Véio”, estava com o corpo estendido sobre a mesa, o “Loiro”, caído no chão, e o “Pequeno”, com os dois braços sobre a mesa e a cabeça apoiada sobre a mesa.

Relatório da Polícia técnica:

O casal de anciões, quando chegaram à conclusão de que seriam admoestados pelos malfeitores, resolveram tomar uma dose fatal de cianureto, que provocou a morte quase que instantaneamente e sem sofrimento. No entanto, constata-se que antes de cometerem o suicídio, o casal de idosos colocou, em cada figo, uma dose de cianureto com capacidade para matar um elefante.

O cianureto é uma substância extremamente tóxica, um dos venenos mais letais conhecidos pelo homem. Possui um típico odor amargo, lembrando amêndoas.

Os cianetos de sódio e potássio são um pó branco. Supostamente, o cianureto foi muito utilizado em suicídios na Segunda Guerra Mundial, por espiões de ambos os lados do conflito que, ao se verem cercados por forças inimigas, optavam por dar cabo da própria vida para não serem capturados. A ingestão de uma dose de 0,5 a 1mg seria suficiente para matar instantaneamente um adulto.

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Otrebor Ozodrac.

Otrebor Ozodrac
Enviado por Otrebor Ozodrac em 19/01/2009
Código do texto: T1392727
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