Sangue Negro

Passos em uma calçada de ladrilhos, brancos e negros. Os sapatos comuns, no estilo sapatênis, as calças, em um cinza desbotado, com pequenos rasgos, estrategicamente feitas, como se vê muito nas lojas de marca. Ele parece somente mais um jovem que caminha nas ruas de Los Angeles. Vestindo uma camisa branca, com uma estampa de alguma banda de rock qualquer, e um casaco até os joelhos de jeans preto. Seu cabelo castanho claro está meio comprido, quase batendo nos olhos e está um tanto assanhado, como é de costume da moda hoje em dia, a sua barba está por fazer já a um bom tempo, ela é rala e de cor mais clara que o tom de seu cabelo. Ele caminha calmamente por uma rua, de um bairro qualquer, seguindo para uma lanchonete chamada de “A Casa de Tortas de RosyBlue”. O nome do jovem é Romeu e, nesse fim de tarde de outono, ele possui hora marcada para se encontrar com seu contato, nessa lanchonete tão comum quanto esse bairro e as pessoas que vivem nela.

Ao abrir a porta o sininho, que fica acima, toca anunciando as garçonetes à chegada de um novo (e suposto) cliente. Em uma das últimas mesas, sozinho. Encontra-se um homem (novo) careca, vestido com roupas escuras, exeto por seu casaco que está pendurado na cadeira onde se encontra sentado. Ele bebe seu café e na mesa há um prato, de tamanho médio, com uma torta pela metade. O homem olha para Romeu de Soslaio.

* * *

É o XXIII Baile da Primavera. Somente convidados escolhidos (cuidadosamente) irão participar dessa grande noite. O traje para os homens é um fraque, de modelo antigo, negro azulado, e é um requisito obrigatório para a festa. Já as mulheres possuem a liberdade de abusar nos vestidos, contando que se adequem ao tema do baile. Que é em um estilo do século dezenove, e sejam exclusivas como as máscaras (daquelas do tipo que cobrem do nariz para cima e deixa a boca e o queixo livres), aos quais todos os convidados receberam, juntamente com seus convites, mais uma carta especificando o dia, a hora e o local da festa.

Romeu, trajado a caráter, caminha por uma estrada, feita de pequenos paralelepípedos, que dá até uma enorme mansão estilo vitoriana, que se encontra muito afastada da cidade. Seguir esse caminho, também foi uns dos requisitos que se encontrava na carta. Ao final da estrada de pedras ele pára diante de uma escadaria de mármore branco. Sobe elegantemente enquanto retira do bolso, de seu paletó, o convite feito em um papel preto, com letras douradas e um símbolo na parte inferior dele. O símbolo é um desenho simples de dois arcos horizontais, um em cima, dobrando para baixo cruzando com o outro arco, abaixo, que curva no sentido oposto ao primeiro, formando um olho em que a ires é uma meia lua. E para finalizar o desenho há uma única lágrima saindo do olho.

Com sua outra mão, Romeu, põe a sua máscara; uma máscara de palhaço com ar tristonho, com nariz grande e bochechas muito redondas.

Ao subir as escadas chegou até a porta de entrada, uma porta alta e larga de madeira enegrecida e base arredondada, com imagens de árvores e folhas talhadas nela. Bem acima do arco da porta, o mesmo símbolo que se encontra no convite. Um olho de meia lua que derrama uma lágrima. Ele toca a campanhia... Nenhum som é emitido além do barulho do vento e o farvolhar das folhas nas árvores que arrodeiam toda a propriedade. Em seguida, quase que imediatamente, a porta é aberta por um homem gigantesco e largo com uma máscara de gorila. Romeu não conseguiu evitar esboçar um sorriso ao ver aquela imagem. O gigante com a voz abafada e muito grave, mas estranhamente cordial, fala para o jovem a sua frente:

- O seu convite, senhor.

Romeu lhe entrega despreocupadamente, como se fosse um ato corriqueiro. O gigante, após, passar o convite por uma máquina de leitor infravermelho, indica com seu enorme braço a direção de um corredor todo rubro:

- Divirta-se, senhor. – Por trás da mascara de gorila, Romeu, pôde sentir o surgir de um sorriso malicioso.

* * *

Dentro da lanchonete, sentados um de frente para o outro, encontra-se o homem careca e Romeu. Ambos comendo tortas com café.

- Devia experimentar a de nozes... Você sempre pede de chocolate. – Diz o homem, após dar mais um gole.

- Pode ser... Um dia. – Responde Romeu de forma desinteressada.

O homem entrega a ele uma cardeneta preta de couro:

-... Você esqueceu isso. – Romeu a pega e abre como se fosse algo insignificante. Dentro da cardeneta há uma foto (que parece ter sido tirada do alto, ou de uma câmera daquelas de vigilância), em preto e branco, de um homem um pouco acima do peso, bem vestido em um terno, com os cabelos bem penteados para trás, já meio calvo, e de barba bem feita e aparada. Parece ser um pouco velho demais para os cabelos e a barba serem tão, impecavelmente, pretos. A foto parece ser de algum saguão de um hotel de luxo e ele está acompanhado de dois outros homens que, nitidamente, dá para ver que são seus guarda-costas. “ Cães”, ele pensou.

Na cardeneta também há um envelope, em um tom de papel envelhecido, com um desenho de um olho derramando uma lágrima, destinado a um tal de Jonas T. Brown. Ele fecha a cardeneta e a guarda em seu casaco e se volta para seu contato:

- Obrigado. Nem tinha me dado conta que havia esquecido dela. Rose vai bem?

- Sim... Está bem... – Responde o homem com o garfo ainda na boca.

Uma garçonete (sorridente) se aproxima:

- Os senhores desejam fazer mais algum pedido? – Ela olha principalmente para Romeu, que lhe responde com um sorriso bem ensaiado:

- Não, minha querida... Estou satisfeito. Obrigado.

- Mas eu não. – Fala o contato de Romeu sem nem olhar para o rosto dela - Eu quero mais café e uma torta de nozes para viajem, por favor.

- É pra já. – Fala a garçonete sorridente e sai para atender ao pedido.

* * *

Até mesmo Romeu não conseguiu evitar de se espantar com a grandiosidade e perfeição da organização da festa. É como voltar no tempo ou de entrar em um imenso set de filmagens de algum filme de época. As roupas, as músicas, o ambiente... Como se estivesse em um sonho daqueles tão reais que você se perde dentro dele. E de fato, aqui nessa noite, dá para esquecer da existência do mundo moderno lá fora.

Ela se mistura entre os convidados, todos escondidos por suas máscaras. Até mesmo os garçons, em seus uniformes de calças negras e paletós brancos, estão de máscara, todos com aquele modelo do cavaleiro solitário. O salão de festas possui uma forma de cúpula e seu teto tem uma belíssima obra de arte de um afresco. A iluminação amarelada, pelas velas dentro de pequenas esculturas de vidro, dá uma atmosfera quase sobrenatural reforçando ainda mais a sensação de estar dentro de um sonho.

Os homens, todos iguais em seus trajes, somente diferenciados por suas máscaras personalizadas ou por uma diferença física facilmente notável, como o fatos de uns serem mais altos, outros gordos ou pelo cabelo (ou pela quase ausência dele). As mulheres, todas com seus vestidos criados, especificamente, para essa única noite, são uma combinação de beleza, vaidade e de uma disputa silenciosa de qual delas está usando o vestido mais lindo e original. Suas máscaras são cheias de brilho, algumas com plumas, enfeites e coisas assim. Diferente das dos homens, que possuem a imagem de elfos, palhaços, demônios e até de animais. Provavelmente uma forma nada sutil de demonstrar o que o organizador, ou organizadora, já que ninguém possui o conhecimento de quem realiza e criou esse tipo de festa, pensa sobre as representações de como vê seus convidados e o modo como define o caráter dos sexos.

Romeu, agora com uma taça de vinho branco em sua mão, busca seu alvo entre todo esse mar de luxo, fantasia e vaidade. Ao distante, no alto do primeiro andar, em uma mesa, ele o avista. O Homem, um pouco acima de seu peso, usando uma máscara de uma face risonha com uma coroa de rei. Sentado com ele se encontra as suas tão faladas “ninfas”, uma mais enfeitada (e bela) que a outra. Próximo de sua mesa, seus guarda-costas, em pontos estratégicos formando um triângulo. Os três atentos como aves de rapina e imóveis como se fossem estátuas. Eles estão trajados como requisitados a todos aqui presentes, cada um com sua máscara própia. Um com uma máscara de algum felino, outro usando a de um cão (essa bem adequada) e o último de urso.

Ele começa a caminhar entre todas aquelas pessoas de rostos cobertos para aproximar-se mais do homem de máscara de rei risonho. Faz isso tranquilamente, de forma que não levante nenhuma suspeita, afinal, a ausência de seguranças aqui dentro, mostra que apesar do estilo antigo da festa, há câmeras que devem estar monitorando tudo e a todos. Um erro e certamente uma equipe sairia do nada e daria fim a sua missão e a ele também. Sua estratégia prossegue normalmente até que uma imagem lhe rouba a completa atenção. Uma mulher de vestido vermelho escarlate, dançando com um senhor de idade com uma face de demônio negro. Ela usa uma máscara simples, ao contrário das demais, uma máscara branca que a faz parecer uma boneca de porcelana fina e frágil. Ele ficou vendo-a dançando, seus cabelos finos e longos, negros como a própia e misteriosa noite, rodopiando pelo salão e sorrindo com um encanto quase que hipnótico. Romeu nota que não é somente ele quem está preso a aquela deslumbrante imagem. Outros homens também a observam, só que apesar das máscaras, dá para sentir a lascívia por trás daqueles olhares. Ele ficou a observá-la ainda, vendo seu vestido girar e girar... E uma imagem lhe vem à mente, como em um filme quando uma cena muda de uma para outra completamente diferente de forma abrupta.Vem-lhe a imagem de uma menina de casaco vermelho, daqueles com capuz, próxima de um homem de sobretudo negro, ambos perto de uma árvore em que muitas folhas caem devido ao outono... Em seguida outra imagem vem. A de uma mulher usando um vestido rubro vivo, brilhoso, lhe falando muito perto de seu rosto, quase que em um sussurro: “... Lobos só andam com lobos”.

Romeu “volta” à festa... A música tinha parado de tocar, e os espectadores estão aplaudindo o casal que acabara de dançar. O senhor com face de demônio, sorrindo, agradece, a dama de vermelho também. Ambos passam por todos, ele segurando a ponta dos dedos dela com o braço um pouco levantado, como se fazia antigamente. O casal passa por Romeu. A jovem o olha com o canto de seus olhos; ele não. Somente se dispõe a fechá-los e sentir seu perfume que ainda flutua no ar... E guarda-lo na memória, um hábito que adquiriu desde sua infância.

* * *

- Você deve tomar muito cuidado. Vai ter que ser mais rápido e preciso que de costume. Como já tentaram mata-lo antes, a velha raposa só anda agora muito bem acompanhado. – Fala, com a voz muito séria, o homem careca para Romeu, apesar de não estar olhando para ele.

- E como irei então chegar até a “velha raposa” se ele possui sombras mais do que eu e você juntos?

- Isso já foi arranjado... A mais de um ano uma de nossas “meninas” está com ele. Ela vai ser seu ás. E tem que ser de forma discreta... O "velho" quer usár a raposa como um aviso...

Ele se cala subitamente.

A garçonete sorridente chega trazendo os pedidos. Mais uma xícara de café e uma embalagem colorida:

- Aqui está, senhor, o seu pedido... Mais café e sua torta para viajem.

- Obrigado... - Diz o homem. – Daqui a pouco traga a conta, está bem?

- Claro. – Responde ela sorrindo e antes de sair (mais uma vez) olha para Romeu. O homem aguarda que ela esteja longe o suficiente para prosseguir a conversa:

- Isso já está ficando irritante... Espere aqui. – Ele se levanta. – Preciso ir ao banheiro.

Enquanto seu contato encontra-se ausente, por suas necessidades fisiológicas, Romeu começa a olhar a rua pela vitrine da lanchonete. Lá fora lê vê as pessoas seguindo com suas vidas normalmente, e imagina quais são seus sonhos e objetivos, seus problemas corriqueiros e de como possuem liberdade e ao mesmo tempo muitas limitações. Até mesmo seus medos são comuns...

Do outro lado da rua uma bola de futebol surge do nada, ela quica na parede de um prédio qualquer e cai em uma enorme poça de água enlamaçada. Logo em seguida algumas crianças, meninos e algumas meninas, aparecem atrás da bola. De onde ele está não dá para ouvir direito o que elas falam, mas se quisesse poderia ler seus lábios para saber. O menor deles, um garotinho de cabelo curto e espetado, pega a bola sem nem se importar com a lama nela... Na bola suja de futebol...

* * *

Da janela trancada de um velho edifício, de tijolos desbotados, um menino observa a rua e as crianças que brincam. Elas devem ter a mesma idade que a dele. Ele as observa como eles correm atrás de uma velha e suja bola de futebol e de como riem com isso. Algo tão simples.

Não dá para ouvir o barulho ou os gritos que fazem, pois as janelas e as paredes do edifício foram projetadas para isso. Para preservarem o silêncio; Não para impedir os sons que invadem, mas sim, para aprisionar os barulhos oriundos do lado de dentro.

- Afaste-se da janela, meu jovem. – Uma voz forte como trovão despertou o menino que estava aprisionado pela imagem das crianças lá fora.

Acompanhando o senhor de voz poderosa está uma linda mulher, de seus quase trinta anos, em um deslumbrante vestido, de um rubro escuro e brilhoso, que desenha perfeitamente bem seu corpo magro e voluptuoso. O menino aproximou-se da mulher e lhe perguntou de forma direta e segura:

- Por que não posso nunca brincar com os outros lá fora?

Ela inclina-se até o ponto em que seus rostos fiquem muito próximos um do outro, e com uma voz doce, um sorriso nos lábios de cor púrpura, e gostosa de se ouvir, diz, quase que em um delicioso sussurro:

- Porque eles são somente ovelhas, meu bem. E lobos só andam com lobos.

- Basta de conversas. – Intervem o homem - Temos um horário a cumprir, meu jovem. E uma tarefa que já está atrasada a duas longas semanas.

- Eu sei... – Responde o menino intimidado.

A charmosa mulher afasta-se sem nem olhar para o jovem, mas antes de sair da sala, ela vira um pouco seu rosto, o suficiente para seus olhos cruzarem com os dele e dar-lhe uma piscadela. Em seguida sai e fecha a porta delicadamente do mesmo modo como chegou.

Na sala o silêncio reina com toda a sua plenitude. O grande homem vai até a uma mesa comprida de madeira com pernas de metal dourando, que se parecem patas de algum animal mitológico; Como de um dragão.

A mesa está coberta por um manto. O homem o retira revelando o que se escondia sob ele. Devidamente enfileirado encontra-se inúmeros utensílios como simples martelos de carpintaria, facas de cozinha e até pequenas armas medievais. Mas, uma peça em peculiar chama a atenção... Um cano. Um simples cano de metal.

De longe o menino observa todos os objetos que repousam sobre a mesa. Alguns são velhos e sujos, outros são novos e até há uns brilhantes, como se tivessem sido lustrados ou envernizados. O homem aproxima-se do jovem e lhe entrega, até de uma forma suave (contrário de seu costume), Um par de luvas de couro marrons. O menino as calça perfeitamente bem. Já existe certa prática nisso. As luvas, os gestos... Tudo isso soa como um ritual ou como uma cena de peça ensaiada.

De uma outra porta o homem trás um enorme leitão. Um monstro imundo e fétido, dono de sons nojentos e perturbadores.

- Você sabe exatamente o que deve fazer - Diz a voz de trovão.

O menino vai até a mesa e seus dedos pequenos deslizam entre os objetos frios até parar em um deles. Ele o segura firme com as duas mãos. Não existe tremor algum nele.

- Quando o fizer, não grite, não emite nenhum som sequer. O silêncio e a surpresa também são armas. E quando terminar... Meu jovem. Não chore. Para nós não existem culpa, remorso... E nenhum tipo de piedade.

* * *

- Está meditando garoto? – A voz do homem careca traz Romeu de suas lembranças.

- Estava pensando nas variáveis... Para a noite da festa. Arquitetando...

- Certo... – Ele tira de sua carteira algumas notas de dinheiro e a põe sobre a mesa. – Dê isso à garçonete quando ela vier com a conta... E... – Ele encara Romeu bem nos olhos. -... Tem mais uma coisa que você terá que fazer lá...

* * *

Romeu vê seu alvo saindo da mesa com suas acompanhantes, juntamente com seus guarda-costas logo atrás, até um dos quartos do primeiro andar. Dois dos seguranças dele ficam na porta e o terceiro entra com seu chefe e as garotas. Ele observa para vê se há alguma câmera avista no corredor. Nada. Se há alguma está bem escondida. Depois se encosta-se ao canto de uma das paredes, de onde nenhum dos dois posa vê-lo, fingindo estar meio tonto por beber demais, aguarda o momento certo de agir... Espera que seu ás lhe dê esse momento certo.

Alguns minutos se passam, um leve barulho vem do quarto, um barulho o suficiente para atrair a atenção dos dois cães de guarda. O momento é agora. Tudo é muito rápido e preciso como deve ser. Antes mesmo de qualquer um dos guarda-costas conseguir disparar um tiro, após um deles puxar a arma ao vê-lo, Romeu já o dominou, quebrando o braço do que está com a automática e atingindo-o na traquéia para não gritar enquanto com um chute esmaga e quebra o pescoço do outro contra a parede, que ainda iria entrar em ação. Em seguida, com um só movimento, gira a cabeça do que ainda estava vivo, quebrando, também assim, seu pescoço. A ação inteira levou menos que vinte segundos.

Com a arma (que está com um silenciador) de um deles, Romeu entra no quarto. O Lugar está iluminado somente por abajures dando uma cor esverdeada. A sua frente, no chão, ele vê o último dos seguranças caído com uma agulha em seu pescoço. “Envenenado”. Ele logo pensou. “Nem teve chance”.

No outro vão, onde se encontra a jacuzzi, estão às outras duas garotas caídas do mesmo modo o outro. A iluminação aqui já é em uma cor avermelhada. No canto está a terceira moça, o seu ás, agachada com uma das mãos apoiada no chão e na outra mão, entre os dedos, três agulhas envenenadas. Ele sabe que todas elas estavam escondidas em seus cabelos. Na frente dela está o alvo, um homem de cinqüenta anos de idade, completamente nu, com seus cabelos e barba pintados de negro. As rugas de seu rosto e seu corpo flácido e enrugado não combinam com a tinta que insiste em usar. Ele parece aterrorizado e não consegue gritar devido a uma agulha bem no meio de sua garganta.

A jovem encara com um olhar frio para Romeu:

- Eu sou muito bem capaz de fazer tudo sozinha, mas as ordens eram que você o eliminasse... – Fala com um tom de deboche. – Mas aí está... Ele é todo seu.

Romeu olha para o homem que tenta emitir algum som, mas no máximo que consegue é dar um chiado baixo parecendo com a de um rato sendo esmagado, depois olha para a jovem que lhe parece mais um animal prestes a dar o bote em sua presa.

* * *

O homem careca em pé, diante de Romeu, inclina-se apoiado um dos braços na mesa e a outra na cadeira, em que ele está sentado, lhe fala próximo em um tom leve e baixo:

- A mulher... A nossa “menina” que está com a velha raposa... Ela nos traiu. Fez algo que não devia. Você tem que elimina-la também, entendeu? – Nessa última frase a voz dele muda para séria e sombria.

* * *

Romeu direciona a arma para a jovem. Sua expressão de predadora muda para a de uma mulher qualquer que foi pega de surpresa. Ela sabe que não é párea para ele, sua fama já se propagou o suficiente para até outros assassinos temê-lo. Ela só se limita a abrir a boca e dizer:

-... Por quê...?

O brilho do disparo da arma ilumina o rosto de Romeu. A face do homem despido desfigura-se para desespero e a arma muda de direção novamente. Seu alvo fecha os olhos, e chorando, aguarda pelo inevitável.

* * *

Na lanchonete, o contato de Romeu, veste o casaco enquanto caminha para a saída:

- Se cuida, garoto!

- Hei, “Branca de neve”!- Chama Romeu em um tom irônico. O Homem o olha sério, mas com um meio sorriso nos lábios.

- Adeus! - A voz dele saiu séria, sem nenhuma falsidade nela. Pelo menos, nenhuma que se pudesse detectar.

O Homem dá um sorriso, bem nítido dessa vez, e antes de sair diz:

- Leve a torta e a experimente depois. – E sai porta afora, acompanhado do som do sininho.

Romeu permanece sentado... Olhando lá fora, a rua e as pessoas. Vendo as crianças brincando com uma bola de futebol, completamente despreocupadas com o dia de amanhã. Simples crianças e nada mais. Crianças que conseguem sorrir... Sorrir e brincar com uma velha e suja bola de futebol.

FIM.

Jaguar SS
Enviado por Jaguar SS em 15/01/2009
Reeditado em 22/01/2009
Código do texto: T1385598