A Porta do Desespero

Estou a uma hora olhando para essa porta, ela novamente volta a aterrorizar minha vida, a tempos não me sentia com tanto medo, sei que algo ruim mora atrás da mesma, sei que ao passar por ela meu coração poderá sair pela boca, e isso me faz ter certeza que tenho de ficar desse lado, mas ela grita do outro lado, ouço muito bem o som ensurdecedor vindo vagarosamente me derrubar nessa noite fria de trovões.

Por que ela só fica assim nesses dias? Por que tanto ela me perturba? Ou será ele, já não sei ao certo, sei que está atrás dessa porta, e nesses dias chuvosos sempre aparece, dizendo que irá me devorar no primeiro piscar de olhos, exceto se eu o libertasse de seu cativeiro.

Minha mente apenas diz duas coisas, se ele pode me pegar no cativeiro, por que não me pegará fora do mesmo, e tudo o que faço é olhar para a porta, a porta do medo, da ansiedade, e além de tudo, do desespero.

“Vamos, abra devagarzinho, eu estarei esperando aqui calmamente.”

Deixo minha mão cair na maçaneta, por um momento penso girar a chave a puxá-la de uma vez, acabando com minha vida, e aquela loucura toda, mas volto, dou dois passos atrás, e a porta se bate loucamente por dentro, parecendo que será lançada contra mim, coloco os braços sobre o rosto, esperando os estilhaços daquela antiga porta, um rugido acontece por trás da porta, e quando acredito sentir meu coração ser perfurado, tudo se silencia...

Lentamente vou apalpando meu corpo, procurando alguma ferida, algo de errado, mas não, nada mudou, ainda estou completamente inteiro, e a porta também, sorrindo, assim imagino... Me pegou dessa vez, penso, e dou outras passadas para trás, pensando em deixá-la para lá, os raios diminuíram, a chuva também, ela já não parece tão assustadora, não vejo motivos para me preocupar, o melhor a fazer, realmente é seguir em frente, e deixá-la para trás. Venci mais uma batalha...

“Mas não a guerra, hahaha” Um guincho de risadas saem de trás da porta, procuro onde me segurar, onde ao menos me apoiar, mas não a nada, nada mesmo, já não estou onde estava, apenas existe um imenso oceano ao meu redor, e a porta. Como? O que ela fez?

Não a respostas, mas a mão, no pouco de areia que tenho naquela minúscula ilha, e sinto que ela é real, penso em gritar por alguém, penso em pedir ajuda, mas não, não posso fazer isso, a porta parece saber o por que, mas não entendo, tento gritar, mas minha voz cessa antes de sair por meus lábios, ou melhor, eu nunca as disse... Por que? Por que não consigo falar?

Apenas as guinchadas de longas risadas atrás da porta, nada mais que isso, começo a sentir muito medo, olho para o céu, não vejo estrelas, apenas um céu escuro, um céu de ... Tempestade, logo os trovões começam, arrasando as risadas por trás da porta, aumentando ainda mais meu medo, e não demora muito, para eles, aqueles que sinto muito medo começaram. Primeiro um ao longe, o outro não tão longe, já o terceiro, sinto como se aquele raio passasse por dentro de mim, de tão perto que foi...

Caio de joelhos implorando para a porta me levar de volta, me tirar dali, apenas ouço risadas, e de uma maneira bem mansa, ela diz, ou seria ele, não sei apenas sei que a voz diz calmamente...

“Abra a porta, e deixe-me sair...

Volto a colocar a mão na maçaneta, e volto a colocar a mão na chave, aos poucos vou girando-a, ouço os estalos da fechadura lentamente... uma volta já se foi, imagino a criatura do outro lado segurando as mãos, esperando pela segunda volta, lentamente vou girando a chave, meu coração se acelera a cada milímetro, sinto com vou explodir antes de terminar a segunda volta, e quando já estou quase no fim... meu coração dispara loucamente... sinto tanto medo, e o que faço é voltar com a chave, tranco novamente a porta. Ela volta a se bater, a criatura do outro lado está tão louca quanto nunca esteve.

Dessa vez ele destruíra a porta de uma vez por todas, não a nada mais que possa fazer a não se fechar os olhos. Permaneço assim por um bom tempo, sinto uma paz apossar-se de mim, levando todo o medo embora, e imagino que aquela porta também já não deve está mais lá, abro lentamente os olhos, e a primeira imagem que tenho, é a maçaneta da porta e a chave, porém já estou de volta no meu território, isso me traz um grande alivio.

“Até quando vai ser assim, abra logo, podemos ser amigos, o que acha?”

Penso um pouco, e vou seguindo para trás, acredito que o melhor é esquecer de uma vez por todas a porta e seguir em frente, tenho muito a fazer, tenho muito pela minha vida toda.

Agora vou poder finalmente descansar, a porta nada poderá fazer, não mais por essa noite, chega de barulho, chega de confusão, e deixo os olhos relaxarem.

Não passa muito tempo, e tudo que posso ver em minha volta é uma grande arena, o chão começa a se abrir, leões aparecem, procuro novamente algo a me apoiar, e minha mão cai na maçaneta da porta, aquela grande risada volta ainda mais rigorosa que antes, até meio que triunfante. Dessa vez não poderei escapar, conto três leões, mas sei que deve existir muito mais, sei que deve ter muito mais, meus instintos dizem isso, meus medos dizem isso, e logo eles aparecem, perturbados, enlouquecidos, e dizendo “ Abra a porta, agora”, ou talvez a ultima cena seja apenas minha imaginação, acredito que não, assim corro, corro o mais que posso.

“Para onde acha que vai fugir?”

Como que vou responder, penso, estou cercado por leões, um mais faminto que o outro, um maior que o outro, e o que faço, a única coisa que penso...

__ Paiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, a porta quer me pegar!!!

Meu pai atravessa outra porta, fazendo a arena desaparecer, uma luz acender meu quarto, e abre a porta de meu guarda-roupa mostrando-me novamente que não há nada lá, apenas roupas, apenas isso.

Mas sei que a única coisa que aconteceu, foi que a porta verdadeira fugiu, a porta do desespero foi-se com medo de meu pai, pois ele é o maior de todos gladiadores que já existiu...

Fagner Costa Fonseca
Enviado por Fagner Costa Fonseca em 04/01/2009
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