A Confissão do Diabo -

Estava sentado em um banco de madeira, com minha

velha mochila azul, dentro de uma igreja velha e pobre.

Atrás do altar havia uma cruz e a imagem de Cristo

parecia esculpida em prata, só parecia, era bronze

trabalhado.

acendi um cigarro.

Tudo bem, não havia ninguém para reclamar mesmo,

ninguém a não ser um careca com a cara encostada no banco

cheio de sangue coagulado.

É, ele estava morto.E eu fumando.

Tudo isso dentro de uma pequena e escura capela em Blumenau.

O cara da cruz não me disse se aquilo era errado.

Quem era o homem careca? Como eu me encontrava ali dentro?

Como começou? Quer saber mesmo?

É meio longa a história, mas vamos lá seu curioso.

Eu viajo bastante, principalmente pelo Brasil, este país tão fantástico e tão rico em magia, quase desconhecido esse valor, e por isso mesmo mais valioso. Estava passeando por Blumenau, interior de Santa Catarina e então em uma rua eu o encontrei.

Ele já era um homem caído pela idade, barriga, careca e passos cansados. Mas o reconheci mesmo assim. Caminhava sem pressa, com um enorme casaco a lhe proteger do frio que a tarde catarinense faz em Blumenau. Não percebi se ele me viu.

Filha da puta! Desgraçado! Não pude conter minha raiva.

Mas me encolhi junto a um muro, assim que o vi.

Eu tremia. De frio é que não era. Era raiva.

Um ódio que vinha do passado.De repente criei coragem e

fui atrás do safado.

Vi quando ele virou a esquina. A uma certa distância eu

o segui. Queria pegar o miserável. Botar minhas mãos

naquele filha da puta. Agora eu não era mais um moleque...

e ele devia ter mais de setenta. Ele ia me pagar.

E dessa vez a coisa seria muito... muito diferente.

Quem teria medo seria ele!

Com passos curtos e cabeça baixa ele entrou na casa do nazareno. Depois de uns minutos eu entrei. Caminhei em silêncio até o banco onde ele sussurrava suas preces.

----- Pai nosso que estais no céu... perdoai a quem nos tem ofendido... - ele olhava para o homem de bronze na cruz como a esperar um sinal deste --- .... Oh Deus... eu preciso.... me diga que não é verdade! Me liberte... Eu preciso de um sinal.... Fale comigo!!

Ele estava ajoelhado, de frente para o altar e de costas para mim. Fiz uma entrada triunfal.

---- Seu desgraçado!!. Monte de merda!!....

Assustado ele voltou sua cabeça para trás. Eu fiquei sério e encarei o maldito.

---- Você ... o ... o rapaz de Floripa... O caroneiro! João José...

----- Xamã, seu safado!! - falei forte, sentindo o sangue ferver ao encarar aquele velho decrépito.

Lembrei-me então de tudo.