Vampiros vs Humanos (cap. 04)

Olhei para a garotinha encolhida na minha cama, um pequeno demônio, mas não somos todos praticamente um, afinal hesitei em abrir a janela, hesitei, e por pouco não permaneci ali parada apenas olhando, vendo-a morrer queimada pelo sol, mas abri a janela, e mesmo depois de ter feito isso pensei em mudar de idéia em abri-la novamente deixando os raios solares entrarem atingindo-a em minha cama.

A garota se mexeu e olhou para mim com aqueles olhos azuis, como se tivesse pressentindo meus pensamentos, vi que sua pele já estava se regenerando, que as marcas da violência a qual foi submetida já não estavam tão nítidas.

Ela já esta sarando, pensei com admiração, bem pelo menos fisicamente, porque por dentro levará muito mais tempo, se é que vai sarar um dia.

Percebi que a garota ainda me fitava, então perguntei:

----Qual é o seu nome? foi a única coisa no momento que consegui dizer.

---- Dayanna, me respondeu num fio de voz, Logo em seguida fechou os olhos e entrou em transe vampírico, me aproximei de vagar, toquei em seu rosto branco e frio, arrumei seu corpinho na cama e a cobri com meu edredom.

Estava mais calma agora, mas não conseguia deixar de pensar em que iria fazer, como é que ia ser, fui até a cozinha beber um pouco de água e percebi que minhas mãos estavam um pouco tremulas, respirei fundo e disse pra mim mesma é só uma criança.

De forma automática fui novamente para o quarto, e lá estava ela, aparentava ter não mais que oito anos, fiquei a observá-la, seu rosto era lindo, mesmo sendo extremamente pálido, e estando de olhos fechado, imóvel sem o característico som da respiração, exercia uma certa atração, um magnetismo, Já pensou quando crescer?

Ai lembrei de uma coisa: crescer, envelhecer? Vampiros não envelhecem, Meu Deus! Quantos anos será que essa menina tinha? Quer dizer ela era de fato uma menina? Estremeci ao pensar nisso, e se ela fosse uma mulher, até mesmo mais velha do que eu? Bem, dei de ombros não importa, o que foi feito, foi feito, disse pra mim mesma afastando essas preocupações.

Estava na sala ajeitando algumas coisas, quando olhei para sacada, me dei conta de que o sol havia se deitado para além do horizonte, era praticamente noite, a hora deles abrirem os olhos, a hora deles saírem... Fui correndo até o quarto, e lentamente abri a porta com os olhos pregados na cama, vazia, rapidamente mudei a direção do meu olhar e ali estava ela no meio do quarto olhando para mim.

----O... oi? Falei.

----Oi, respondeu meio sem jeito, um tanto tímida.

Percebi, que ela estava tão apreensiva quanto eu, relaxei um pouco, mas não sabia o que fazer, ficamos por um tempo em silêncio, até que, querendo ser simpática, eu disse:

Deve estar faminta, talvez queira comer alguma cois... engrolei, droga o que eu estou falando?

Percebendo meu embaraço ela sorriu,

----Estou bem, obrigado, voltou para cama e sentou-se.

----Obrigado, repetiu de cabeça baixa, por me salvar.

----Porque veio até aqui? perguntei.

----Eu não queria ser um deles.

----Como assim?

----Eu não quero ser assim, um monstro.

Aproximei-me, sentei ao lado dela e disse:

----Você não é um monstro, é diferente, apenas diferente.

Ela olhou para mim como se nunca tivesse pensado dessa forma.

----Mas... mas... eu bebo sangue, e sangue é vida, eu me alimento de vida Ellen.

Não perguntei como ela soube o meu nome, estava sensibilizada demais para isso,

Cheguei mais perto e disse:

----Eu também, Ela me olhou sem entender, eu continuei, Nós humanos vivemos a custa da exploração e da morte de muitos outros seres vivos.

----Mas, vocês usufruem de seres inferiores, agora eu, eu quero sangue, o seu sangue.

Seus olhos brilharam intensamente ao dizer isso, um arrepio percorreu o meu corpo, mas, não deixei me intimidar e continuei:

----Quem disse pra você que os seres dos quais nós humanos usamos, e eu incluo ai não só os animais, mas, a natureza em geral, são inferiores? Como ela não respondeu, continuei:

Essa superioridade humana, não passa de prepotência, somos apenas parte da natureza e você esta inclusa nela.

----Mas... eu... Hesitou.

Peguei suas mãos tão pequenas e prossegui:

----A questão é o respeito pelos seres em geral, e o controle sobre nós mesmo, veja, se você respeitar a minha humanidade e tiver controle sobre seus atos, podemos conviver muito bem.

Ela me olhou, e em seus olhos pude ver um brilho diferente, talvez um brilho de esperança.

----Antes deles me... antes de me pegarem, eu morava num orfanato.

Percebi que ela relutava em falar de si, esperei pacientemente até ela continuar:

----Junto com outras crianças, mas, eu nunca ficava perto delas, não brincava, sequer conversava, eu tinha medo de perder o controle e... machuca-las.

----Alguma vez você perdeu o controle?

----Sim, disse com pesar.

----Quanto tempo morou nesse orfanato?

----Mais ou menos um ano.

----E durante esse tempo... fui avançando com cautela, sabia que estava em terreno perigoso, que era difícil para ela se abrir assim. Bem, como você fazia para se alimentar?

----Quando eu morava com o Lú, ao mencionar essa pessoa, seus olhos brilharam de uma forma enigmática, com um que de amor e de ódio ao mesmo tempo, fiquei sem entender, mas, não dei importância,

----Ele na maioria das vezes trazia pra mim, depois, no orfanato ou manicômio, como quiser, Havia sarcasmo em sua voz. Me alimento de ratos, há muitos por lá.

Meu Deus! que tipo de lugar é esse? Mudei de assunto, um tão delicado quanto o outro.

----Quantos anos você tem?

----Oito, respondeu ela sem titubear.

----E... a quanto tempo você tem oito anos?

----Cinco, a cinco anos, disse carrancuda, se levantou, foi até a janela, abriu-a, e ficou a olhar para fora, a conversa estava encerrada, sabia que não ia adiantar insistir, tive pena da garota que sozinha estava aprendendo a lhe dar com o mundo, que por mais que ela negue, é parte dele tambem, e principalmente, aprendendo a lhe dar consigo mesma. Então lhe disse:

----pode ficar, pode morar comigo se quiser.

(continua)

sutini
Enviado por sutini em 01/12/2008
Reeditado em 22/12/2008
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