Encontro Para Uma Nova Paixão

Jeferson ligou o computador. Há muito vinha marcando encontros com novas amizades virtuais para obter novos relacionamentos. O que gostava desta forma de marcar encontros é que ninguém sabia realmente quem ele era na vida real, portanto, não precisava se preocupar em assumir compromissos sérios. Em alguns encontros se dava bem e em outros nem tanto, porém isso pouco importava, tal o manancial de novas oportunidades aparecendo todos os dias. Utilizando esses métodos de comunicação pela internet, já vivera até grandes paixões, mas sua busca por novos desafios e novas paixões era insaciável. Entrou em um site de relacionamentos ao qual já estava acostumado. Estava se comunicando com algumas velhas amizades, quando de repente viu uma foto de uma jovem que nunca vira antes: cabelos cacheados, morena, lábios cheios e corpo extremamente lindo. Naquele momento seu coração se agitou e pulsou mais forte. Aquela morena, realmente, valeria a pena. “Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Pensou sorrindo. Estabeleceu a comunicação o mais breve possível. A jovem era de Minas Gerais.

- Luciene, gostei de você e queria conhecê-la melhor. Como faço. Perguntou utilizando um microfone atrelado a um fone de ouvido pelo sistema voip.

- Meu nome é Luciene e moro no interior de Minas Gerais. Respondeu a jovem com uma voz suave e cativante.

- É um pouco longe. Eu moro em São Paulo.

- São Paulo! Sempre vejo São Paulo, mas só pelas novelas.

- Verdade. Que tal um dia nos encontrarmos? A pergunta foi feita em tom extremamente sedutor.

- Mas você mora longe...

- Não é tão longe assim e se eu for de carro, bastarão algumas horas.

- Não sei... É que minha mãe mora comigo.

- Não tem problema, eu sei me relacionar bem com as pessoas. Ela vai gostar de mim, pode ter certeza. Insistiu Jeferson fazendo perspectiva no pensamento sobre o encontro eminente.

- Tenho certeza que ela vai gostar de você, mas eu aviso quando você pode vir e você não poderá faltar nesta data, pois eu não tolero atrasos.

- Eu prometo que chegarei no dia e horário que você marcar, mas não demora, que estou louco para te encontrar pessoalmente, pois já cansei de ficar olhando para sua foto na internet.

Os dias passaram, e ela nada de marcar a data. Eles se comunicavam todos os dias e ele ficava cada dia mais ansioso para desfrutar daquela morena. Ficava imaginando se embrenhar por aqueles lábios, por aqueles cabelos. Imaginava ela sem roupas e chegava mesmo a suspirar de desejos. Cada dia mais, a ansiedade aumentava e tomava posse de seu corpo e seus pensamentos, até que um dia chegou a comunicação virtual tão esperada:

- Jonas, como eu havia dito, esta semana é a data em que eu posso recebê-lo.

- Eu irei. Prometo.

- Você tem que chegar às seis horas da tarde do sábado e tem de ser pontual. Lembre-se não tolero atrasos.

- Eu serei, Pois quero muito conhecê-la mais de perto.

- Pois eu te digo com sinceridade, estou louca para sentir seu corpo dentro de mim. Estou mandando o endereço. Não falte, pois eu e minha mãe estaremos preparando um jantar especial para a noite de sábado.

- Eu não faltarei. Eu prometo.

Jeferson, já excitado, se arrepiou por todos os cabelos do corpo, olhou um mapa da região, calculou o tempo para chegar até o local e o horário de saída de São Paulo. Sairia até um pouco mais cedo para não correr o risco de se atrasar e perder aquela oportunidade tão esperada.

Chegado o dia, Jeferson foi ao cabeleireiro, cuidou das unhas e deu um trato no cabelo. Colocou a roupa que considerava a mais bonita e atraente, se perfumou, ligou o carro e se colocou na estrada. Chegou ao local duas horas antes do necessário, mas resolveu cumprir o horário e perambulou pela cidadezinha até chegar o momento estabelecido. Seis horas em ponto, dirigiu-se à casa da morena de suas noites delirantes. Tocou a campainha e uma mulher de uns cinqüenta anos, trajada com roupas largas e coloridas o atendeu e abriu a porta para que entrasse.

- A senhora é muito bonita. Certamente, deve ser a mãe de Luciene? Falou, demonstrando elegância e sensibilidade para encantar a mulher.

- Sim, sou. Disse a mulher com um sorriso cativante que fez Jeferson se sentir em casa e mais confiante em alcançar os objetivos traçados em suas noites de ansiedade.

- Ela está?

- Ela deu uma saidinha para comprar alguns temperos especiais e logo estará de volta. Sente-se, fique à vontade enquanto isso.

- Obrigado. Respondeu Jeferson admirado com o jeito cativo e interessante da mulher.

- Gostaria de um pouco de vinho...

— Jeferson.

- Jeferson. Belo nome. A oferta continua...

— Sim. Gostaria.

A mulher pegou uma garrafa de vinho de debaixo de uma pia com aspecto de muito antiga, daquelas com apenas uma cortina cobrindo a frente e dois copos de cristal em forma de taça. A garrafa continha mais ou menos um quarto de seu conteúdo. A senhora encheu as taças e ambos tomaram silenciosamente. O vinho realmente era muito saboroso e fez ambos desejarem um pouco mais. Ela esvaziou a garrafa dividindo um pouco em cada copo, fez questão de despejar até a última gota no próprio copo. Aos olhos de Jeferson, pareceu que a mulher gostava muito de vinho, principalmente daquele. Em outro momento, perguntaria sobre a procedência do vinho, mas naquele momento tinha aspirações mais urgentes.

- ela está demorando. Será que não vai chegar? Questionou Jeferson olhando para o relógio e tentando entender por que Luciene exigiu que chegasse no horário se não estaria lá.

A mulher, enquanto conversava com ele, seguia fazendo os preparativos para o jantar. Em uma panela grande, colocava vários ingredientes e os mexia com uma colher de pau frequentemente.

- Logo ela chega. Não se preocupe muito, porque ela nunca faltou a um encontro.

— Está cheirando bem essa sopa! Exaltou Jeferson ao sentir o odor do cozimento se alastrando pelo ambiente.

— Na verdade não é uma sopa e quando colocar o ingrediente especial que Luciene trará em breve, ficará muito mais perfumada e saborosa. Enquanto isso, sei que posso estar pedindo muito, pois acabei de conhecê-lo, mas você poderia fazer um favor para mim?

- Claro! Tenho de esperar mesmo! Respondeu solícito o rapaz.

- Pode pegar outra garrafa de vinho para nós lá no porão?

- Claro que sim.

- É só acender a luz no final do corredor e descer as escadas. Lá, há um armário cheio delas.

Jeferson levantou-se da cadeira, já um pouco atordoado por causa da bebida. Desceu as escadas, entrou no porão, avistou as garrafas de vinho, encaixadas em um armário, com os fundos para fora, entretanto, quando ia pegar uma das garrafas, a luz foi apagada, a porta se fechou e tudo ficou escuro. Muito escuro. Então, ouviu uma voz suave e sexy, daquelas de excitar até o homem mais frio: “Que bom que está aqui Jeferson, você deve ser muito gostoso”. Ouvindo aquela voz, enfiou a mão no bolso, pegou uma caixa de fósforos. Acendeu um e quando a luz do fogo iluminou o ambiente, momentaneamente, recebeu, sem ter tempo para pensar, uma pazada na fronte e apagou.

Pouco tempo depois, no andar de cima, estavam mãe e filha reunidas, conversando e jantando:

- Está um pouco dura essa carne, mãe!

- Não reclame. Se quer carne mais mole, vê se o mês que vem arranja alguém mais novinho.

— A senhora sabe que pela internet nem sempre dá para saber a idade verdadeira das pessoas.

- Mais um pouco de vinho? Ofereceu a mãe gentilmente.

- Sim, pode encher o copo...

Com o copo cheio, brindaram, com duas taças de cristal, mais uma noite de jantar especial.