Camile era apenas um anjo obscuro vagando 
  pela sombria estrada.
  Ainda vestia sua fantasia predileta de anjo,
  tal como no dia em que não voltara para ca-
  sa.
  Quantos anos haviam se passado desde que 
  aquela garotinha não voltou para casa.
  Muitos diziam que ela era um fantasma mas 
  para João alguém que precisava de ajuda.
  Certa noite ao voltar para casa e dirigin-
  do pela estrada deserta ele a viu caminhan-
  do no acostamento.
  Ele diminuiu a velocidade e deu ré no carro
  mas quando tentou ve-la de novo ela havia
  sumido no novoeiro.
  Um tanto pertubado por sua aparição por dias
  ele ficou angustiado e tenso.
  Melina sua mãe estranhou a inquietude do fi-
  lho mas se silenciou.
  Eram recem chegados a cidadezinha pequena e
  as pessoas do lugar não eram dadas a intimi-
  dades.
  Jõao parecia cada dia mais atormentado, suas
  noites eram povoadas por pesadelos.
  Pela manhã a noite mal dormida era vísivel
  em seu rosto marcado pelas olheiras.
  Durante o trabalho resolveu investigar por
  conta própria sobre a menina.
  Talvez por sua teimosia Sara sua colega de
  trabalho o chamou para um café.
  Quase aos sussurros ela confidenciou sobre o
  desaparecimento de uma menina de dezesseis a
  dez anos atrás.
  Assustado diante do que ouvia ele deu um pro
  -fundo suspiro.
  Como as pessoas poderiam ser omissas, sim-
  plesmente ignorar que uma garotinha desapa-
  resse.
  Sara segurou suas mãos e dizendo baixinho pe
  -diu a ele para não contar sobre a conversa
  a ninguém.
  Os meses se passaram rapidamente, algumas ve
  -zes tarde da noite ao voltar para casa pela
  aquela estrada ele tinha a nítida impressão
  que a garotinha permanecia no acostamento a
  sua espera.
  Numa madrugada acordou suado, trêmulo e a 
  viu parada ao lado de sua cama.
  Seus gritos apavorados arrancaram sua mãe da
  cama que veio ao seu encontro.
  Achando que ele delirava devido a um quadro
  febril deu a ele um analgésico e por toda a
  noite permaneceu ao seu lado.
  Fora a noite mais longa e pavorosa de sua vi
  -da.
  A febre o fazia ve-la caminhando pelo acosta
  -mento, ele ouvia seus gritos ecoarem até se
  tornarem sem nexo.
  Com alívio o dia clareou, Jõao tinha a sensa
  -ção de ter vagado por vales sombrios.
  Seu corpo doia terrivelmente e a cabeça gira
  -va causando uma dor latente e aguda.
  Cambaleando se levantou e tomou uma ducha ge
  -lada.
  Enquanto a mãe preparava torradas e um leite
  quente ele saiu de casa sorrateiramente.
  Dirigiu até a casa de Sara e ela ao ve-lo
  extremeceu.
  Um tanto fria veio ao seu encontro sendo re-
  preendida pelo olhar severo do seu pai.
  Ambos ignoraram o olhar e sairam de carro, 
  pararam próxima a estrada.
  Sara o olhou demoradamente e depois de um 
  longo silêncio revelou toda a verdade.
  A dez anos um fazendeiro chegou a cidade com
  sua família.
  Mas todos possuem suas verdades e mentiras e
  a verdade arruinaria suas pretensões.
  Eram uma família católica com grande poder
  financeiro e que controlavam a todos.
  Boatos corriam solto sobre seus filhos e di-
  -ante do inevitável uma trágedia anunciada 
  se concretizou.
  Jõao estremeceu, mas Sara fez um sinal para
  ele se calar e prosseguiu.
  Os filhos do fazendeiro possuiam uma relação
  incestuosa.
  Na epóca um escândalo diante da sociedade 
  conservadora e moralista que violava a fé
  cristã.
  Os irmãos foram perseguidos, espancados mas
  o amor que um nutria pelo outro era muito
  mais sólido que qualquer violência.
  Numa fria manhã de agosto encontraram o ra-
  paz enforcado num pé de chorão nos fundos da
  fazenda.
  Diante do triste e fatidico acontecimento a
  culpa recaiu sobre sua irmã.
  A doce menina foi definhando dia após dia 
  até que um dia desapareceu.
  As pessoas prefiriram atribuir a culpa a ela
  do que investigar os reais motivos.
  Meses depois sua mãe foi internada numa ins-
  tuição psiquiatrica e o caso foi abafado.
  Exceto por um andarilho que jura que a meni
  -na foi sepultada por seu pai na mata exis-
  tente na estrada.
  Jõao estava paralisado a revelação havia si-
  do por demais avassaladora.
  Após tomar folego pediu a Sara que fossem 
  vistoriar a mata.
  Movidos por uma força sobrenatural adentra-
  ram á mata.
  E não tardou a encontrar numa cova rasa os
  ossos humanos.
  Ambos se olharam e uma ventania balançou as
  copas da árvore.
  Quando olharam viram a menininha que acena-
  va para eles.
  Sara sentiu as pernas tremerem e foi Jõao
  que começou a fazer uma prece.
  Uma luz forte e colorida envolveu a garoti-
  nha se misturando a eles.
  Maravilhados e perplexos a viram sumir no ar
  quente.
  Sairam de lá e foram até a delegacia.
  Os dias se sucederam e todos na cidade se re
  -feriam a aquele pai como um monstro.
  Se esquecendo que monstros foram todos a 
  aqueles que conscientemente ou não destila-
  ram suas opiniões.
  Mas os pesadelos prosseguiram e joão pensava
  que ia elouquecer.
  Não compreendendo o porque da menininha pe-
  dir sua ajuda até que um dia sua mãe propos
  a ele visitar a instituição psiquiatrica.
  Chegando a aquele hospital foi recebido pe-
  las enfermeiras que não o animaram dizendo
  que a mãe da garotinha a anos não falava.
  Ele se aproximou dela e neste momento ela se
  virou dizendo obrigada meu filho.
  Silêncio quebrado pelas lágrimas, ele a abra
  -çou.
  Após profundo momento de tristeza e lágrimas
  ela disse a ele, eu sabia que você me devol-
  veria a paz.
  De algum modo mesmo longe da realidade dos
  fatos acontecidos ela sabia de tudo.
  Não fora tão somente a meninha que encontrou
  o caminho para casa, mas sua mãe.
  Que fora confinada a aquele hospital por seu
  marido e sabendo de seus atos translocados
  não pode esconder a verdade da espiritualida
  -de.
  -camomilla hassan-
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
 

CAMOMILLA HASSAN
Enviado por CAMOMILLA HASSAN em 13/11/2008
Reeditado em 14/11/2008
Código do texto: T1282175
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