Pornô sujo

Cansado, regressei de breve viagem. Nada melhor para recompor-se do que filhos, esposa, cachorro, família. Meio de semana, crianças à escola... Era só entrar, tomar um bom banho e socar o pau na coroa. Depois de enchê-la com o óleo velho, que me enche o saco, pego o carro, passo na casa do Pereirão e vamos à pescaria.

Enfiei a chave, entrei; silencio total. Certamente, a Coroa havia ido à padaria e logo voltaria. Banhar-me-ia, enquanto isso. Súbito, surgia barulhos estranhos, grunhidos de amor selvagem, no quarto, na minha cama. Meu Deus, Aninha já estaria transando? Ainda era minha menininha. Não, não podia ser minha criancinha que dera cano na escola e trouxera o namoradinho para casa...

“Ai, não, Pereirão. Nunca fiz anal. Nem com meu marido, àquele idiota”. E a réplica que me fez tremer: “Quer me comparar com aquele corno manso? Qualquer dia enfio o pauzão no rabo dele”.A tréplica: “Rsrsr”. Mal pude me manter de pé! Metiam, na minha cama, minha esposa e o Pereirão!

Quinze anos de casado e jamais desconfiei. A vagabunda me marcava em cima. Toda vez que eu comia uma biscate, na rua, era um sacrifício para apagar os rastros. Chifrar-me logo com o maior cacete da região... Até na zona, a fama de Pereirão é de que vagina que ele come, doravante, só serve para mijar. Uma fofoca desse quilate na boca do povo daqui... Vou ter que mudar de cidade.

Juntei os cacos que pude e saí fora. E agora, José? Deixar meus filhos sem pai ou aceitar que a mãe deles é uma vadia-vaca-vagaba-vagabunda? A rua inteira deveria estar sabendo do caso dos dois. Quanto tempo fazia? Ou será que cada vez que eu saía, ela arranjava um diferente, carne fresca...? Quem diria, toda àquela cara de santa somente para me enfiar o chifre!

A dor do chifre é como a dor no cu: dói doidamente quando entra a chapeleta grande, mas, logo passa! Passar, passar, acho que nunca passa. Mas com o tempo, transforma-se em outra coisa, resignação, talvez. Condoia-me a inocência das crianças – exceto a mais velha que andava puxando baseado e transando loucamente – a chamar aquela vigarista de mãe.Embrenhar-se-iam na farinha e pedra se soubessem quem, de fato, é a quenga da mãe.

Inteiro imbuído em mirabolantes planos de vingança, ainda não havia encontrado nem um que realmente a humilhasse e a fizesse pagar o que fizera de mim: um corno manso, como disse o Pereirão, aquele jumento tarado. Eu andava na rua de cabeça baixa e tinha a impressão de que todos sabiam. Todos sabiam! Estava explicado o sorrizinho cínico do açougueiro, do botequeiro, do vizinho da frente e da desdentada fofoqueira, vizinha cujo filho morrera crivado de bala na boca de fumo.

Tudo culpa da vagabunda que me jurou fidelidade diante de deus, do padre e da igreja. Pereirão, pé de mesa duma figa, é que tinha razão: metia a vara em quem dava mole; até mesmo na bunda do corno, pois, mulher de viado, segundo ele, é a pior especie sobre a terra e nunca mais engana ninguém. Comer o cu do marido corno, seria como colocar um letreiro na testa da traidora: “passei por todos os estágios da piranhice”.

Foi então que me ocorreu a grande sacada: vou dá a bunda! Só assim me vingo à altura. Mas, dá para o Pereirão, eu não dou. Vou procurar outro.

Achei um caiçara e disse-lhe “é contigo que eu vou voar”. Falava grosso, anda firme, solteirão, entroncado e, certamente, tinha pau médio. Marcamos. O litro de domecq, o motel e cem “real” na mão dele.

Banhei-me, atirei-me à cama, arreganhei o rabo e disse-lhe “vem meu menino do rio”. Ao que ele, molenga, sonhoso, engatinhando em direção a mim, disse “não, quem vai dar sou eu; eu sou a mulher desse caso”. Acabou o clima, suspendeu-se a foda e assistimos um fla-flu paulista.

O jeito foi apelar ao Pereirão que prontamente me atendeu e me catou sem dó nem piedade. Aff... Fez-me feliz, consolou-me e disse-me para deixar de bobagem e que o mais importante é a família.

Escutei-lhe e agora tenho minha companheira ao lado. Eu nem sei o que seria dos meus filhos – a mais velha perdida no crack e os outros, na farinha e na maconha, respectivamente – se não tivessem papai e mamãe a ampará-los. Quem ludibriaria aos traficantes?

É o que sempre falo: é tudo uma questão de ponto de vista, tudo bobagem, tudo passa. Hoje, facilitei a vida. Pereirão, numa viagem só, arromba-nos a todos. Ganhamos tempo e à noitinha – a família feliz – vamos à missa. Anormalidade somente quando os traficante se apressam à receber o consumo das criança.

"O escritor deste conto sou eu, Antonio Jotta. O narrador, és tu, bisbilhoteiro rieteense. É uma homenagem a ti e aos teus!