Amelie

Ano de 1637, Sul da França.

Um crime duplo macabramente executado aconteceu em uma manhã totalmente ensolarada...

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Amelie acordou feliz, seu coração prometia uma noticia fabulosa naquela manhã de primavera, a melhor noticia de sua vida que seria partilhada docemente com seu amado marido Jean.

O esplendor realçava cada traço de seu rosto angelical, onde duas safiras reinavam adoravelmente emolduradas por lindos cabelos cor de noite enluaradas, uma pele sensivelmente clara e aveludada se fazia notar entre os decotes de um lindo vestido rosa que lhe caia perfeitamente como a mais bela das jóias... em um de seus dedos de alabastro uma aliança cintilava enquanto seus lábios cor de romã depositavam nele um gentil gracejar.

Ela desceu as escadas de mármore branco indo até a cozinha procurar por noticias de seu querido marido, lá encontrou apenas a Ama preparando um bolo para o café da manhã... foi correndo até o jardim, ele realmente havia saído como ela suspeitara ao não encontrá-lo na cozinha.

O dia estava agradável, resolveu passear pelo jardim despreocupadamente até que seu adorado chegasse ou até que o bolo ficasse pronto porque ela andava se sentindo faminta há vários dias... sua atenção foi despertada por lindas flores azuis que embora pequeninas, mostravam toda a sua graça em vários cantos do imenso jardim do castelo Le Rouge... ao lado delas, delicadas rosas cor de pêssego repousavam docemente sentindo a delicada brisa daquele dia primaveril que acabara de começar.

Estava Amelie tão compenetrada em seu passeio que não se deu conta da presença de outro alguém que a observava com um sorriso de cobiça nos lábios.

- Minha caríssima Amelie, que prazer inenarrável vê-la nesta manhã tão sublime, e o melhor, sozinha – disse ele gracejando.

De um sobressalto Amelie virou-se para a direção da voz e suas pernas tremeram, ela tinha um medo profundo, mas aparentemente infundado por aquele homem cínico que teimava em gracejá-la mesmo sabendo que ela era uma jovem senhora muito bem casada e feliz ao lado de seu esposo.

- O que faz aqui? – Indagou ela em um sopro de voz.

- Vim ver a mais doce de todas as criaturas. Não me canso de contemplar a beleza mais estonteante que já vi em toda minha vida – disse ele com o sorriso de cobiça ainda nos lábios.

- Sabe que não é bem vindo aqui, Jean não vai gostar de vê-lo quando chegar então por gentileza retire-se de minha casa antes que ele volte. Sou uma mulher casada e não é correto que fiquemos aqui conversando sem a presença dele. Por favor, saia agora.

- Por que me trata assim minha doce Amelie, sabe o carinho imenso que devoto a você. Deixe seu marido e fuja comigo, podemos ir para onde você quiser, posso lhe oferecer tudo que desejar, mas venha comigo.

- Eu já tenho tudo que desejo, e o que mais desejo é meu amado marido, ele é minha vida, não o trocaria por nada, nem todas as riquezas do mundo chegam aos pés de meu tesouro mais valioso. – entre dentes – Retire-se agora mesmo.

Ele se aproxima dela com um olhar dominador, tenta abraçá-la, mas ela o repudia, empurrando-o para longe de si e se afastando em passos rápidos quase correndo para escapar de suas mãos que a cada passo pareciam mais próximas dela, uma mão segurando a ponta do vestido e a outra na barriga apertou o passo, agora ambos corriam pelo jardim, ele com um sorriso sarcástico e ela com olhos onde o medo reinava transformando sua expressão delicada de boneca de porcelana.

- Não se aproxime de mim, nunca serei sua, jamais, meu marido esta prestes a chegar, vá embora, vá agora. – em sua voz o pânico falava por si só e seu corpo todo tremia de medo e asco por aquele homem indigno e perverso.

- Eu a quero, você será minha ou então de mais ninguém, entre viver sem você e vê-la com aquele basbaque, prefiro a primeira. Você será minha querendo ou não e se não quiser mesmo assim será minha, mesmo que depois de tê-la em meus braços, eu tenha que acabar com tudo, dele você não será mais, nunca mais.

- Nunca.

Ela corria, corria mais e ele cada vez mais perto, só de pensar nas mãos dele a tocando um enjôo abafado tomava conta de seu ser.

Chegaram ao píer do castelo onde um belíssimo lago de águas cristalinas dormia calidamente... ela continuou correndo até chegar ao final do píer, sem ter para onde ir, o desespero falou mais alto que tudo, ela gritou por socorro, mas quanto mais próximo ele estava mais baixa sua voz de cantante saia.... ao perceber que ninguém ouviria aquele fio de voz, começou a chorar, as lagrimas caiam molhando sua bela face, uma das mãos ainda protegendo a barriga, os pensamentos rodopiavam em sua mente enquanto lutava para se esquivar daquele que participava ardentemente de seus piores pesadelos.

- Fique longe de mim. Nunca serei sua, nunca... mesmo que se passem mil vidas jamais serei sua.

- Se não será minha, dele também não vai mais ser.

Uma risada pesadamente diabólica saiu de seus lábios assustadores fazendo com que ela tremesse ainda mais, sem ter para onde ir, acuada, tentou gritar novamente, mas não havia ninguém para ouvi-la, exceto ele.

Ao ver a dona de seus desejos totalmente acuada um sentimento de vitoria tomou conta de seu sorriso e trouxe um brilho ameaçador aos seus olhos cinza escuros como a noite mais tempestuosa.

- Eu venci você é minha. – disse isso a agarrando.

Os pés de Amelie já não tocavam mais o chão, debatendo-se tentava se livrar daquelas mãos ásperas que arranhavam sua pele.... sempre protegendo a barriga, ela lutava para libertar-se sem êxito algum porem.

Ao tocar seus lábios forçosamente, uma mordida o atingiu, ao sentir o sangue em sua boca, a lascívia transformou-se em fúria e o som de um tapa invadiu o ar, tão entorpecida pelo medo ela estava mal sentiu.

Ele a jogou no chão e pulou sobre ela, uma das mãos segurando suas mãos, a outra cobrindo seus lábios para que ela não mais gritasse.... o temor abateu seu ser, ele era muito mais forte que ela.

- Prefiro a morte a ser sua, jamais em momento algum serei sua, minha alma, meu coração e minha vida são dele. Solte-me agora seu infame, canalha.

Um lampejo de ódio passou por seus olhos, ele estava furioso.... como ela ousava dizer que jamais em momento algum seria dele? Se não fosse dele, jamais seria de ninguém outra vez.

Levantou-se rapidamente, sacou da pistola escondida ardilosamente em seu colete, mirou a doce criatura de seus caprichos mais íntimos e atirou... seu vestido rosa agora ensopado de sangue, uma de suas mãos no peito, a outra ainda tentando proteger o ventre contra o canalha que lhe tirara o direito aos sonhos mais perfeitos de sua vida, ao longe, em suas lembranças a imagem de seu adorado, tão lindo, olhos verdes maravilhosos.... olhos que a fitavam com amor, o sorriso que nunca mais iria ver os toques que jamais poderia sentir novamente.... não, um dia ela iria sentir novamente porque o amor deles era tão forte que a eternidade não seria suficiente para expressar.

Seu ser vagava diante das cenas mais marcantes de sua vida ainda quando ele a jogou no lago.... sem forças ela apenas suspirou pedindo perdão ao fruto de seu amor por seu amado Jean que não teria chance de nascer.... do lago se fez o tumulo de duas almas que esperariam pela chegada da terceira alma para serem finalmente completos em toda sua essência.

Essência di Ana
Enviado por Essência di Ana em 25/10/2008
Reeditado em 25/10/2008
Código do texto: T1247775
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