Reflexos de prata

Ficou a olhar o Sol, que vermelho, tocava a água, no horizonte... Lá longe, tão longe quanto iam seus pensamentos que deixava correrem livres.

Era triste, sentia-se triste, e não sabia o porquê. Aquela relva verde, de um verde de outono, contrastava com a toalha branca, sua pele branca enlaçada... Ele estava ali. Não deveria estar feliz então?

Ele lhe havia dado um lindo anel de compromisso, anel sobre o qual jurara amor eterno à beira do grande lago, com todo aquele encantador crepúsculo como testemunha.

A brisa era forte o suficiente para sacudir seus cabelos, de leve. Estava em silêncio, estavam sozinhos e o tempo havia parado.

Não sentia a respiração dele, ou a sua própria. Talvez tivesse adormecido. Como se estivesse sonhando, flutuava. E aquela paisagem...

A água fazia reflexos de prata agora, movia-se de vez em quando, perturbada por algo que vinha de dentro do lago.

Olhava o anel agora, também tinha reflexos de prata, tinha o nome de quem tanto amava em seu pequeno dedo direito. Estivera tão feliz com isso, sonhara tanto tempo com alguém que lhe correspondesse, e agora estava triste?

E aquele silêncio, nenhum dos dois falava.

Ela falou, e não emitiu som algum. Tentou mais alto, mas que coisa... Nada.

Então cansou, ficou ali. Acariciou a mão dele, e não foi retribuída. Não sentia a brisa no rosto, não sentia nada, só um vazio, uma tristeza angustiante agora.

Teve vontade de chorar, e o fez baixinho. Para que? Não emitia mais som.

O tempo havia realmente parado? Não avistava mais ninguém no parque, olhou ao redor. Onde estava o quiosque rústico? Só havia gramado e o lago, e por toda parte lagos e gramados.

Assustou-se. Teve medo, encolheu-se, onde estava o frio?

Tentou levantar, não movimentava, impossível... Estava entrando em pânico.

Porque ele não fazia nada? Estava como ela?

Aqueles reflexos na água iam se intensificando, mas o Sol estava imutável, e o vento sumira! E o brilho da linda aliança se intensificava como a água.

Refletia a água, havia algo na água que a perturbava.

E prestou atenção, só podia olhar, não mexia mais nada. O que a água refletia?

Tudo tão prata... Nuances tão belos... Havia um rosto! E um corpo! O que era aquilo?

Apavorou-se, "não entre em pânico". Havia alguma coisa em cima da água, podia vê-la. Etérea... Andrógena, angelical... Terrível! Que o Sol ocultava, e o anel refletia. Alguma coisa que notou o olhar percebendo que fora descoberta.

Algo perturbava a água, movimentos lânguidos, trêmulos...

O silêncio, ouviu o silêncio... Ouviu uma pergunta, não captou.

O Sol tão vermelho, o anel não refletia mais nada. Um medo nunca experimentado tomou conta dela. Lembrou-se do nome de seu amado, gravado no lindo anel de prata.

Conseguiu fechar os olhos.

O vento voltara a balançar seus cabelos, sentia o calor dos parcos raios do Sol que ia embora.

Fora um sonho...

Abriu os olhos, a água era azul petróleo e o Sol não mais estava aparecendo. Seu lindo anel ainda estava lá:

- Vamos embora meu amor?

Silêncio.

Voltou-se para ele. Aquele rosto etéreo!

E não mais se movia, um rosto indefinível, belo e terrível, a encarava.

Ouviu a pergunta, compreendeu-a.

"Ainda deseja que esse momento se eternize?".

Silêncio.

Um pavor lascivo.

Fechou os olhos novamente, com horror.

Não pensou em mais nada. Não respirava.

Morrera?

Passou-se muito tempo. O tempo passava?

O vento voltou a balançar seus cabelos, uma brisa noturna agora.

Temia a noite, temia olhar novamente.

De repente, um toque. Um toque no ombro. Medo. Um toque no rosto. Pavor. Uma sacudida nos ombros quase histérica.

Abriu os olhos de uma vez por todas. Escuro. Tudo escuro.

Vislumbrou uma silhueta conhecida, sentiu uma felicidade inexplicável. Um conforto instantâneo. Seus olhos se acostumaram ao escuro.

Viu o rosto, o rosto de seu querido amor, pálido, tão apavorado quanto estivera.

Que a sacudia frenéticamente. Viu que abrira os olhos agora.

Pegou em sua mão. Um impulso para cima. Estava de pé. Estava com as pernas trêmulas. Olharam-se.

Não precisaram de palavras, viram o quiosque.

De mãos dadas, correram pra lá.

De repente ela virou-se. Ele quis impedir.

Havia algo na água, havia aquele ser na água. Irresistível, belo, terrível. Sentiu-se atraída para lá. Para o ser, tão etéreo.

Não ouvia ele chamar, ouvia aquela pergunta.

E então lembrou-se do laço que a unia a pouco a este mundo, estava falando de outro mundo...

- Não desejo mais!

Era tarde?

Ficou a olhar o Sol, que vermelho, tocava a água, no horizonte...

Gisele de Andrade
Enviado por Gisele de Andrade em 20/10/2008
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