Agenda fúnebre (minimalista)

Antes de atender o telefone, pensou em atirá-lo contra a parede. "Quê? Tão cedo?"

-- Alô?

Silêncio.

Desligou intrigado. Não é que os trotes o surpreendessem mais. O problema era o dia e o hora. Olhou para o quadro emoldurado há tantos anos, quando, por brincadeira, ele e os amigos foram à tenda cigana, brincar de ver o futuro. "Madame Zoroastra garante: você há de morrer entre um dia 13 e 15 de agosto qualquer, no prazo das duas às quatro horas da madrugada, ardendo nas chamas que o levarão para o inferno!"

Por ironia, pendurou a frase, que ele mesmo escreveu na frente da mulher, com deboche.

Então, sentiu o cheiro do gás e o estrondo que se seguiu no andar 25, logo abaixo do seu, não deixou dúvidas do que viria em seguida. Sentou na cama, acendeu um cigarro e resignou-se. Passavam das três horas do dia 14 de agosto de um ano qualquer.