A Perseguição.
Estava escuro. Estava muito escuro no lugar onde ele se encontrava. E, na verdade, onde ele estava? Mal podia ver a luz do único poste aceso, bem distante. Não havia lua, não havia estrelas naquela noite. Chovia pouco, só aquelas gotinhas que irritam e aquele forte vento frio que lhe corta o rosto, e embora ele estivesse sozinho andando por aquela rua, sentia que havia pessoas seguindo-o. De instante em instante olhava para trás, mas nada via, até sentir como se alguém o tivesse empurrado, e estirado no chão, visse pessoas sem rostos, emanando um ar de terror, deixando a rua muito mais assombrosa do que ela já aparentava. Todos iguais. Com calças, sem camisas e sem rostos, somente algo cor de pele, liso. Depois de se deparar com aqueles seres, levantou-se e começou a acelerar o passo. Ele andava cada vez mais depressa tentando se livrar das pessoas que o perseguia, talvez fosse mais fácil se ele soubesse o que estava acontecendo. De repente, quando virou novamente para encará-los, percebeu que também haviam quatro mulheres vestidas com poucas roupas brancas. Elas tinham rostos e neles, mescla de ódio e tédio. Elas andavam mais rápido que os “sem-rostos”, o que fez com que ele corresse; para onde, nem ele sabia. O que ele sabia é que não demoraria muito para ser alcançado. Realmente, quando deu por si, estava no meio de um círculo improvisado por eles. Nesta hora eles começaram a dizer de suas intenções e mostrar no ar, como se hologramas, coisas ilícitas que ele sempre teve vontade de fazer, mas que por conta de seu medo avassalador, nunca o fizera. Mas, qual era o motivo daquilo tudo? Ele sabia de suas vontades e anseios, ainda que terríveis fossem, ele tinha consciência. No entanto, logo seu questionamento foi atendido. Foi deixado claro naquele momento que os que lhe perseguiam só iriam parar se ele fizesse aquilo, realizasse seus desejos mais secretos porque também eram os deles que talvez não tenham podido realizar e agora que não tinham mais corpos, que não eram mais matéria física, se projetavam naquele jovem covarde. Ele precisava fazê-lo e pelo jeito, não poderia demorar muito se ainda quisesse manter sua sanidade mental em paz.