O PESADELO DA MURALHA
Enorme muralha o cercava, não se lembrava de quase nada antes daquele momento, exceto o fato de ter ido dormir depois de uma noite festiva e alegre.
A alegria era conseqüência da reunião que tivera com pessoas ligadas ao seu círculo de amizades, quando haviam discutido vários aspectos do momento e tudo transcorrera em um clima da mais completa harmonia.
No entanto, agora lá estava ele emparedado por muralhas que deveriam ter mais de cinco metros de altura e estava só. Não tinha mais ninguém ali.
Não havia lugar para se sentar, a não ser o piso frio que revestia o enorme cômodo. Não tinha a menor idéia do que teria ocorrido para estar naquela situação.
Talvez fosse um sonho, que naquele momento mais parecia um pesadelo. Gritou várias vezes, beliscou-se, fez tudo que podia, tentando acordar para sair daquela situação que muito lhe desagradava e lhe provocava mal-estar e lhe infundia terror e medo.
Andando pelo cômodo, verificou a parede com mais atenção, procurando descobrir algum sentido para o que acontecia naquele momento. O cômodo era amplo, parecia ter mais ou menos 22 metros quadrados, fato que observara contando os passos em todas as direções. O piso parecia ser de granito, era frio e extremamente liso. Fora polido de uma única peça
Sentou-se, levantou-se e, como fera enjaulada, circulou várias vezes pelo pequeno espaço que o retinha. Procurava uma saída, uma brecha por menor que fosse, que lhe pudesse indicar a saída para uma possível fuga.
Procurou ver as horas, porém notou que o relógio havia parado exatamente às 20 horas. Tirou o relógio do pulso e o balançou várias vezes, procurando com isso fazê-lo funcionar. Mas as horas e minutos continuaram os mesmos, o relógio parecia estar quebrado.
A impaciência que o impedia de ficar parado naquela situação fez com que se sentasse e levantasse várias vezes, obrigando-o a andar em todas as direções, olhando constantemente para cima como que procurando um meio de fuga. Ele, naquele momento, era uma fera enjaulada.
As paredes pareciam de vidro, porém opacas, não tinham ranhuras ou qualquer saliência. Era um quadro fantástico que lhe infundia medo e terror.
Começou a sentir frio, fome e sede. Nem seus gritos e lamúrias emitiam som. Por instantes procurou aguçar a audição, tentando ouvir qualquer som ou ruído, porém nada, tudo era estático, naquele lugar de terror.
Tudo que desejava era sair dali o mais rápido possível, embora não tivesse a mínima noção de como poderia fazê-lo.
Estaria preso por algum delito? Seria aquilo um calabouço?
Tudo ficava sem respostas, não havia ninguém para responder as suas indagações. Somente o grande vazio que era ocupado por ele.
Ainda não sabia que tudo não passava de uma simples ilusão criada por si mesmo. E somente após vencer o trauma da mudança poderia então compreender que havia morrido, vivendo o seu próprio pesadelo.
02/11/83-VEM