A vigarista - III parte (final)

O médico, vendo que eu era a única pessoa que acompanhava o jovem doente, informou-me que ele teria que ser submetido a uma cirurgia no dia seguinte. Há mais de dois anos estava acometido por uma doença e sempre se recusava a submeter-se a intervenção cirúrgica. Foi então, que comecei a entender o jeito como ele tratava as pessoas. Pela manhã ele foi submetido a cirurgia, e após uns dias voltamos para a casa dele. Participei ativamente de sua recuperação e a medida que ele melhorava eu via que chegava a hora de partir.

Eu havia recebido autorização de Michel para passar mais 15 dias. Outra vítima de nossas farsas ele já havia encontrado e eu precisava me adequar ao caso. Já bem recuperado, Pablo me levou para jantar e aproveitando o ensejo aproveitou para me pedir em casamento. Relatou o modo fantástico como havia me conhecido, com toda sua inocência, falou que era como se tudo fosse perfeito e planejado.

Recebi o anel de suas mãos e o abracei. Na noite seguinte eu teria que partir, mas nada mencionei a respeito. Pela manhã, vendo o noticiário, vi a reportagem sobre um trágico acidente ocorrido em uma cidade próxima. A repórter falou que nenhuma identificação foi encontrada com o rapaz. E pelo jornal ao ver as imagens percebi que era o corpo de Michel que mostravam estendido no chão. Saí para confirmar minhas suspeitas. Eu sabia que era ele, mas, precisava ir até lá. Chegando até onde o corpo estava guardado, falei que gostaria de ver se se tratava de meu irmão. Um homem me mostrou o corpo e friamente me retirei. Com Michel morto, pensei, eu poderia casar com Pablo e desfrutar de sua fortuna sozinha. O dinheiro que Pablo havia me dado para sanar a suposta dívida estava intacta na minha conta. É que eu e Michel tínhamos costume de somente começar a gastar o dinheiro, quando já estávamos fora do alcance de nossas vítimas. Mas, pela primeira vez, senti nojo de todo aquele meu cinismo. Sentia-me uma miserável pela minha capacidade de enganar as pessoas, aquilo já não era mais um dom. Toda minha habilidade transformou-se numa praga. Eu amava verdadeiramente Pablo e precisava contar a ele a verdade.

Chegando a casa, relatei a Pablo toda a verdade. Desde meu nome verdadeiro até a morte de Michel. Ele enfurecido não aceitou minhas desculpas. Pediu que eu deixasse a casa até antes do seu retorno e comigo levasse todos os meus pertences. Depois de muitos anos, eu chorei de verdade. Senti-me sozinha. Era como se um punhal rasgasse meu coração. Comecei a arrumar minhas malas e quando estava trancando a porta para sair ouvi o telefone tocar. Pensei em não atender, mas acabei aceitando a ligação. Do outro lado do telefone, uma enfermeira me falava que Pablo havia sofrido um acidente de carro e estava no hospital. Parti imediatamente para lá. Vendo-o acordado me aproximei. Ele não me reconheceu. Falei que era sua noiva. Daquele momento em diante, eu tinha a oportunidade de me reaproximar dele sem mentiras, nem encenações. Com a perda de memória dele enterrei junto todo meu passado sujo. Tinha a chance de recomeçar de novo. Eu o reconquistei. Casamos-nos e eu acabei dando o maior golpe de toda a minha vida.

Debra
Enviado por Debra em 18/07/2008
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