A vigarista - I parte

Eu sou Anny. Sou uma vigarista. E ser vigarista não é fácil. Mudar visual, sotaque, lembrar do enredo da mentira e sumir sem deixar vestígios não é pra qualquer uma. Isso sem falar que um rosto e corpo perfeitos não são tudo. Existem muitas mulheres lindas por aí, e o meu diferencial é saber mentir. Minto tão bem que chego a ser inesquecível. No começo foi complicado mentir, mas, depois a coisa fluiu tão naturalmente que até eu às vezes acredito nas minhas histórias.

Meu último trabalho foi há seis meses, ganhei aproximadamente trinta vezes mais que o capital investido. Depois de um período desses nos bastidores é hora de voltar a encenar. Não trabalho sozinha, conto com a ajuda de Michel, meu fiel companheiro que me ajuda com toda a historinha. Dessa vez, vamos para o Brasil, encontrar um milionário mal humorado. Meu treinamento dessa vez foi difícil. O cara é um fanático por jogo de futebol e por acaso eu odeio futebol. Passei três meses decorando nome de jogadores do Brasil e do mundo, lendo sobre a copa, revendo jogos que Michel falou serem indispensáveis para uma apaixonada pelo futebol como eu tenho que aparentar. Ainda por cima, tive que aprender as regras do jogo e praticar um pouco o esporte para ficar mais “verdadeiro”. Ir ao Brasil, necessariamente me obriga a estar interada com a cultura do país. É tão diversificada que quase desisti. Quando lembro que tive que aprender algo chamado samba, num salto de 12 cm, me faz admitir o quanto meu serviço, às vezes, é penoso.

Já tenho todo o roteiro na cabeça. Com as malas prontas. É hora de ir em direção ao Brasil. Pelo menos com a língua do povo, não tive que me preocupar. Falo fluentemente cinco línguas, dentre elas a portuguesa. Mickey vem comigo, ele também terá sua participação especial. Rastreamos nosso alvo e ele viaja sozinho de férias. Hospedo-me no mesmo hotel. Tudo é muito bem preparado, até mesmo o modo como devo abordá-lo pela primeira vez. Passamos os últimos meses lendo sobre Pablo, nossa vítima. Chegamos ao diagnóstico dele, é uma pessoa altamente desagradável.

A noite finalmente chegou. Uso uma maquiagem marcante, cabelos soltos, vestido vermelho, saltos altos e brincos enormes. É que lá embaixo acontece uma festa com música ao vivo para os hóspedes. Desço as escadas e testo minha comunicação com Michel, tudo está funcionando perfeitamente. A minha entrada seria triunfal se um idiota não se engraçasse de mim, fazendo eu e Michel perdermos dez preciosos minutos tentando nos livrar da estúpida criatura, com delicadeza, sem sermos notados juntos.

Quando voltamos ao nosso plano, havíamos perdido de vista nosso alvo. Procuramos, procuramos e nada. Num piscar de olhos ele havia simplesmente evaporado. Conseguimos a informação de que ele havia subido para o quarto. Já que não podíamos fazer mais nada aquela noite, aproveitei para curtir a festa. Pela manhã providenciamos outra aparição. Dessa vez, com um biquíni cor de vinho e pés descalços eu me apresentaria. Sentei na areia da praia numa distância que dava para ser notada por ele. Fiquei tomando sol. Michel do outro lado da praia me dava a posição exata de Pablo. Recebi a ordem que era hora de entrar em ação. Levantei em seguida e comecei a caminhar em sua direção. Quando cheguei perto dele, fingi que tropecei em algo. Com cuidado me sentou na areia da praia e perguntou se eu estava bem. Com um doce sorriso e um arrastado sotaque francês, eu respondi que sim. Mas, que ainda doía um pouco. O plano parecia que dava certo, até o momento em que ele se levantando e saindo falou-me que eu ficaria bem. Fiquei pasma vendo ele entrar no hotel. Parecia que a combinação de um cofre cheio de dinheiro tinha ido pelo ralo.

Michel sentou ao meu lado na areia e passamos a manhã refazendo nossos cálculos. Era hora de usar o plano B.

Debra
Enviado por Debra em 17/07/2008
Reeditado em 17/07/2008
Código do texto: T1084992