Os amores da minha vida - II Capítulo

A viagem era longa e no caminho comecei a perder-me nas minhas lembranças. Foi como se eu voltasse ao passado e revivesse momentos de minha juventude. Estudávamos na mesma escola, eu e Fábio, ao final da aula íamos com os amigos passear no rio e aproveitar um pouco para namorar. Era o último ano da escola e por não ter faculdade na cidade que morávamos, meu pai me mandaria no ano seguinte para a capital. Voltar para casa, só nas férias. Ia ser dura para mim, uma mudança tão grande. Longe da minha família, longe do Fábio. Ele nunca foi muito de estudar, comparecia as aulas somente para ficar ao meu lado. Falava-me que não me deixaria ir, que trabalharia e viveríamos felizes com o que ele ganhasse. Já no segundo semestre do último ano colegial, ele acabou se envolvendo com um grupo de rapazes que só viviam para duas coisas, beber e arrumar encrenca. Começou a perder aulas, a beber constantemente e apostar corrida de moto em troca de cigarros. Conclui o colegial e ele reprovou. Daquele dia a dois meses, eu mudaria de cidade. Agora, constantemente, Fábio dormia fora de casa, passava grande parte do seu tempo no seu mais novo vício, jogo de cartas. Meu pai desaprovava totalmente nossa relação e eu não conseguia nem ao menos encontrá-lo sóbrio para falar o quanto eu estava triste com minha partida. Resolvi ir à casa da mãe dele, ficar de prontidão até que ele aparecesse. Ao tocar a campainha, uma figura masculina se aproximou, abriu a porta e convidou-me a entrar. Era o Estevam, meu futuro marido, que voltara para passar as férias e pensar na proposta feita pelo prefeito de trabalhar como médico no hospital da cidade. Com um tom firme e educado pediu que eu sentasse, e perguntou o motivo da minha vinda. Nesse exato momento eu me dei conta de que eu nunca havia trocado uma palavra sequer com ele. Sempre que o via com um raso sorriso eu o cumprimentava e ganhava outro sorriso da mesma profundidade por parte dele. Então, comecei a responder a pergunta que me fizera, dizendo que o Fábio havia mudado e eu nem conseguia confirmar a ele minha partida que já estava marcada. E continuei a conversar sobre o assunto. Eu nunca tinha tido a oportunidade de conversar com uma pessoa tão culta. Incrível como duas pessoas que nasceram dos mesmos pais possam se demonstrar na idade adulta tão diferentes. Enquanto Estevam tornou-se um homem maduro e inteligente, Fábio se afundava cada vez mais nos seus vícios.

Mais uma vez a porta se abriu, o cheiro da bebida exalava pela casa, era o Fábio que chegava de mais uma noitada. Completamente bêbado, abraçou-me. Estevam vendo que eu fiquei perplexa com a cena que se passava, pegou pelo braço dele, que não ofereceu nenhuma resistência devido ao estado que se encontrava, e levou-o até o quarto. Comecei a chorar copiosamente. Estevam desceu as escadas. Sentou ao meu lado. Com a ponta dos dedos, segurou meu queixo, inclinou meu rosto em sua direção e falou que na semana seguinte levaria Fábio para conhecer um grupo de pessoas que o ajudariam. Ele, disse Estevam, será submetido a um tratamento na capital. Despedi-me dele e saí. Quando cheguei à rua, senti uma vontade inexplicável de olhar para trás. Ao saciar minha vontade, vi Estevam na porta, olhando para mim e acenamos um ao outro nos despedindo novamente...

Continua no próximo capítulo

Debra
Enviado por Debra em 14/07/2008
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