De quem é a culpa? Uma história quase real
Era o seu terceiro plantão nas ruas e um misto de orgulho e medo anuviava seu coração. Não sabia se nascera para isto... correr, perseguir pessoas, prender em nome da lei. Mas, que lei? Há muito tempo deixara de acreditar em justiça, ou melhor, já não sabia o que era justo ou injusto; o drama diário de inocentes, mortos pela violência, da grande cidade fazia seu coração gelar, num temor mudo, ao sentir que poderia ser uma vítima, ou pior; ser apontado como réu. Para ele sabia não haver escolha.
Não abraçara a profissão de policial, como vocação e sim por necessidade... Desempregado, filho pequeno e uma mulher quase uma santa, a correr de um lado pra outro, fazendo faxina nas casas de madames, para ganhar um extra no dia de folga.Cleonice, este era o seu nome, trabalhava como auxiliar num hospital público, mas o dinheiro não chegava para pagar o aluguel e as demais despesas. E ele olhando tudo, se sentindo uma nulidade. Não, isto não era certo tinha de fazer alguma coisa... Então resolveu entrar pra policia.
A mãe chorou implorou para ele desistir, mas não teve jeito o argumento da quase miséria, que estava vivendo foi mais forte... E agora estava ali, olhado com desconfiança por uns, com ódio por outros e ele próprio se vendo com insegurança.
Aprendeu pegar numa arma, a atirar, a limpar, a tê-la junto a si como se fora uma outra pele a protegê-lo, assim o velho sargento, o aconselhara tentando passar num tempo recorde, aquilo que só o tempo lhe daria, a experiência...
Agora já não tinha jeito era preciso passar pela prova de fogo: ir às ruas... E lá foi ele, coração aos pulos, nada mais poderia ser feito. Fez o sinal da cruz ao entrar no carro onde encontrou outro novato como ele para enfrentar não sabia o quê, mas fosse o que fosse sentia muito medo.
Conversou um pouco com o parceiro que lhe contou está noivo e feliz... doido para o dia acabar logo e ir ao pagode com os amigos. Alegre, parecia está à vontade.
Marcelo descontraiu um pouco e até contou as travessuras do filho, agora com três aninhos.
Juliano, o parceiro, falou um pouco dos seus sonhos. Falou que quando criança queria ser jogador, mas não levava muito jeito, depois resolveu ser músico outra frustração. - Ai já viu né? Terminei o ensino médio não tinha condições de fazer uma faculdade o jeito foi fazer concurso e vir para policia.- Minha noiva não queria, sabe como é mulher tem medo de tudo. Mas, acabou se conformando, já tou aqui tem quase um ano já passei por maus momentos mais graças a Deus me saí bem. No início foi duro, mas a gente se acostuma. Já tive que prender caras que jogaram comigo na escola, meninas, filhas de colegas do ginásio, na prostituição... Mas que se pode fazer quando os governantes só se preocupam em encher os bolsos deixando o povo sem escolas, sem hospitais, sem dignidade...
O dia foi transcorrendo sem grandes transtornos. O céu muito azul trouxe as pessoas para as praças e um colorido suave cobriu à tarde de outono que se espreguiçava pelas ruas arborizadas.
Quase cinco horas e do inesperado nasceu o horror...
- Atenção, atenção, carro preto roubado com quatro homens nas imediações da rua X.
- Começa a perseguição, Juliano ao volante entra e sai de ruas no encalço dos bandidos.
Marcelo está tenso, as mãos geladas, num rasgo lembra que sonhou com algo parecido na noite anterior, só não consegue visualizar o desfecho... Juliano solta palavrões quando perde o carro de vista, entra numa rua próxima à delegacia e olha o carro a sua frente e começa outra vez a correria, não consegue vê quantos homens são; - vidros escuros são horríveis... - Inesperadamente o carro da frente para, no acostamento. Marcelo e Juliano descem atirando sem enxergar quem está dentro do carro, atiram por puro medo. Algo é jogado pela janela eles recuam pensam ser uma bomba... Agora a mulher abre a porta do carro e se joga em meio aos tiros, gritando, (...) - Meu filho, meu filho! - Marcelo olha para o banco de trás (...) e na criança ferida só consegue vê, o rosto do próprio filho.
Jacydenatal