O CONDENADO
Somente a luz da lâmpada de quarenta velas iluminava as barras da cela onde ele se encontrava. Segurava-as como se tentasse rompê-las e sair dali rumo ao destino que ele desejava há muito tempo.
Todas suas palavras haviam caído no vazio e nada poderia mudar aquele destino que já se apresentava muito sombrio. A justiça procurara não um criminoso para um crime tão horrendo, mas um “ bode expiatório” que viesse apaziguar os anseios e dores de uma população que julgava poder aplacar sua ira e frustração.
Inocente, mas sem poder prová-la sujeitar-se-ia a execução com dor e amargura. Sabia que o criminoso voltaria a praticar os mesmos crimes quando ele já houvesse sido executado. O arrependimento posterior não poderia devolver-lhe a tão preciosa dádiva que recebera: A vida.
Tentou de várias maneiras fazer-se ouvir e provar a inocência, mas as evidências apontavam para ele como responsável por aquela série de atrocidades praticadas contra crianças de poucos anos de vida.
Quinze crianças haviam sido mutiladas com requinte e crueldade, demonstrando o grau de insanidade de um criminoso que além de inteligente era um sádico, pois ao mutilá-las se comprazia com o sofrimento das vítimas. Os gritos de dor das vítimas eram gravados e colocados ao lado dos corpos.
Talvez o maior prazer do criminoso naquele momento era saber que outro seria executado em seu lugar, encerrando com isso todas as investigações que poderiam chegar até ele.
Somente um dos investigadores parecia acreditar nele. Mas este nada conseguira para inocentá-lo. A justiça foi implacável e o condenara à pena de morte. Agora, ali, ele segurava as grades como se quisesse rompê-las e fugir do destino que estava sendo esperado para acontecer em poucas horas.
A noite longa fizera-o refletir sobre tudo e as circunstâncias de sua prisão e condenação. Embora fosse ele inocente, ainda não sabia como fora parar na cena do último crime e teria, sido encontrado as suas impressões digitais na arma que fora usada para esquartejar a criança.
Sabia, apenas, que não era ele o criminoso, embora todas as evidências lhe apontassem como o único responsável.
Olhou novamente o relógio que se encontrava pendurado na parede do outro lado das grades. Onze horas. Em pouco mais de seis horas estaria se despedindo do mundo, pagando por um crime que não cometera.
Enquanto pensava, lágrimas continuavam escorrendo e caindo aos seus pés. Estava descalço, pois se sentia melhor assim.
Na cela ao lado, outro prisioneiro roncava a sono solto como se de nada de anormal estivesse acontecendo. Na realidade, nada realmente havia.
Durante toda a noite, ora sentado, ora em pé olhava o vazio dos corredores escuros. As luzes quase todas haviam sido apagadas.
Tentou dormir diversas vezes, mas sempre voltava ao mesmo local, onde fora preso. Durante todo o processo, tentara entender os fatos, mas, nada...
Vez por outra, via em suas lembranças imagens que não conseguia decifrar. Eram imagens confusas.
Chegou a hora.
Com passos lentos, foi caminhando ao lado dos policiais que o escoltavam até o fatídico lugar, onde se daria em holocausto, pagaria por um crime que não cometera.
Quando se sentou na cadeira, onde seria executado, sabia que tudo se acabava naquele momento. Elevou mentalmente uma prece pedindo ajuda, embora soubesse que essa ajuda não viria.
Quando acionaram a chave, uma corrente suave percorreu todo seu corpo.
Levantou-se devagar, olhou em todas as direções e viu diversas pessoas sorrindo para ele. Um deles, vestido de branco, parecia ser o líder do grupo, aproximou-se e, com um sorriso nos lábios, disse:
- Vamos?
Então partiram.