Confusão Virtual ou o Perfeccionista

CONFUSÃO VIRTUAL ou O PERFECCIONISTA

Foi depois que assistiu o filme Get mail. Gostou, comprou um computador e usou. Nat gostava de romances porém para ela não aconteceu como no filme.

Viajou logo após. Muito rapidamente e durante o passeio, conheceu um homem.Conversaram. Foi agradável, simpático e interessante. Como ela ,era um profissional liberal altamente qualificado e também usava computador. Lembraram do filme, riram, trocaram endereços, e ele a convidou para sair .Tinha outros propósitos, percebeu Nat, recusando o convite. Era casado , pai de família, e além disto não se sentiu atraída fisicamente por ele.

A vida seguiu .Ela se divertiu na viajem, e descansou ao retornar.Estava sentada na cama ,checando a correspondência quando olhou o computador. Sorridente, lembrou da viajem onde tudo foi bem real e suspirou aliviada.

Guardava ainda um certo respeito ou temor pela máquina nova. Pertencia inteiramente à próxima geração pois a sua desfrutaria da nova tecnologia somente uns oitenta por cento. Afinal, qualquer criança manobrava o computador com maior perícia que um adulto.

Os investimentos andavam mal, e Nat acionou a Internet para ver a cotação do dólar . Foi o hábito que a fez ver o correio eletronico , quando:

“-Do Jack , do Jack, do Jack...

-Jack? Ah! Claro! Jack! O turista! Nem lembrava!”. Começou a ler.

Haviam cinco e-mails. Demonstrava preocupação por não ter chegado ainda, já que não respondia. Pedia que o entendesse, era casado, a mulher rastreava o telefone. Ela começou a responder mais para brincar.

Iniciou se uma correspondência via email. Partiu dele o escrever à manhã e à noite. Ficou interessante cada vez mais, e mais, e mais ainda. Chegou ao ponto de Nat vir correndo do trabalho para o computador ler os recados .E ele sempre simpático, amável e inteligente. Natalie lembrava dele vagamente , mas como não era boa fisionomista imaginava , e de repente, através do que lia ,ele foi crescendo , ficando um gigante, a ponto dela se sentir pouco para Jack. Já não sabia mais como era realmente ou fisicamente, mas sabia de sua generosidade pelos escritos ,pela perseverancia e insistência com que a procurava e finalmente soube da sua paixão por ela.

Que homem! Mas como ela o deixou escapar de primeira? Real ele foi. Foi?Agora é que estava sendo , cada vez se fazendo mais presente ,se insinuando dentro dela. E o que fazer? Isto tudo que aparece no computador é virtual? Ou é real ?Ela estava fazendo confusão? Onde a realidade? Nas conversas pelo computador ou onde o conheceu, no Rockfeller Center, em meio a uma lagosta quando recusou o convite para a noite?

Afinal, homens livres para o amor ,lindos, passavam ali e a olhavam todos os instantes . E nestes momentos,via email, ela descobria toda esta riqueza interna nele! Notou através dos escritos, dos livros que recomendava e da maneira decidida e correta com que deixou a mulher .O casamento já estava acabado quando viajei, disse lhe, entre uma garfada e outra de salada, relembrou Nathalie.

-Claro! Ela fez a confusão! Negou tempo a ele no primeiro encontro.

E chegou o dia em que Jack avisou de sua chegada para passarem juntos o fim de semana.Tudo foi real no aeroporto até o momento em que um homem pouco mais alto que ela a chamou. Ficou atrapalhada, pois o imaginava enorme. Contou para ele da sua impressão e riram os dois do que o computador havia feito com a imagem corporal dele, Jack , que ficou um gigante, um ser sobrenatural ,cheio de amor e inteligência.Tudo isto na cabeça de uma Natalie confusa entre a realidade e os escritos via computador.

O fim de semana foi perfeito, seguindo os parâmetros da correspondência virtual, claro.

Sozinha, no quarto, Nat pensou em como a primeira impressão da realidade a havia enganado. A confusão entre o real e o virtual começou a ficar difícil. Em verdade , preferia Jack na vida virtual, em verdade somente o queria na realidade no momento das relações e, de preferência, sem falar. Para que falar? Preferia os escritos,as doces palavras,os poemas, conselhos, indicações de livros e promessas. Quem sabe o real combinado ao virtual fazem a dose certa? Não, mas isto é perfeccionismo! Aí, também, ninguém agüenta ! Sorriu, virou para o lado,dormiu, e parou de se questionar.

Jack fez diversas viagens até propor que vivessem juntos. Nat acabou cedendo: ele era sempre perfeito, parecia mesmo tudo irreal, ou um virtual maravilhoso ,tão espetacular se mostrava o namorado.

Foi para a cidade dele de malas e bagagens. Correu tudo bem, no primeiro dia. Segundo dia e Jack, sem querer, quebrou um prato. Passou se culpando o dia todo, não podia ter ocorrido este descuido, etc. Nat, a principio achou graça, até que começou a enxergar melhor a realidade, a notar e, pela primeira vez, sentiu inveja do armário de um homem. As roupas arrumadas com perfeição dentro dos sacos plásticos. Ao chegar ele lhe mostrou o lugar para tudo, o que reservou para ela, e onde ficava o seu sagrado computador. Que organização! E que computador organizado! Lembrou de uma frase do passado dos dois:

”- Sou organizadíssimo, planejo e calculo tudo perfeitamente.”

Sómente o prato quebrado não foi planejado, e o príncipe começou a desabar ,e desabou porque a mulher a quem ele conquistou era excepcionalmente inteligente e sagaz o suficiente para intuir que ele a devia ter localizado por computador antes da viajem.Profissional conhecida que era, ele a pegou por computador, preparou o encontro, fez tudo de maneira calculada porque era um perfeccionista e, assim sendo, queria como mulher alguém fora de série, perfeita para ele ,Nathalie.

No avião ,depois de o deixar, rumo a casa paterna imaginava:

- Havia chegado a fazer confusão entre o virtual e o real .A confusão adveio do fato dele se apresentar agir e ser um perfeccionista. Não há quem suporte! Invejar o armário do companheiro! Nunca poder quebrar um prato! Estar sempre impecavelmente arrumada! Ser sempre boa, compreensiva, inteligentíssima! Nunca dizer bobagens ou palavrões ou ser meio criança! Ainda bem que escapou a tempo do que deveria ser virtual,o perfeccionismo de Jack, mas se transformou em real. Que trapalhada!

O mundo virtual dos dois ficou real e foi quase fatal para Nat que se remexeu no avião, deixou cair a bandeja com o lanche no chão e gostou . Riu, e riu de prazer em ter seus defeitos sem culpa . Ora bolas! Vivia errando no computador! O virtual ,o computador, não aceita erros, pede para fazer de novo, mas os humanos,exceto Jack, porque nunca pode errar ,aceitam .As gargalhadas ecoavam alto enquanto a aeromoça recolhia os cacos da garrafinha de vinho, também risonha, a desculpando:

- Só esse pouquinho subiu!

- Foi um poucão querida, vem há horas! Tenho andado meio confusa, meio embriagada, vendo tudo , assim, meio virtual. Mas com o choque que levei ao ver o a garrafa quebrada, estou começando a me sentir normal .Estou até gostando de ser desastrada.

Jack sentou no computador, abriu uma janela, clicou na ferramenta busca e digitou no google: -Onde encontrar a mulher perfeita e que tenha as seguintes características, etc,etc?

O google escreveu:

-Para você há uma página no romance ideal -pg.-1.

Jack procurou , a página abriu com um único nome e uma observação o que não era comum :

"- Natalie , você sabe!"

Ora computadores não emitem opiniões!

Acordou no outro dia dopado no sanatório ,não pelo nome da mesma mulher ,mas porque o computador, o seu computador Pentium super equipado, certíssimo, errou! O seu computador com defeito,dando sugestões!

A Nathalie não era perfeita para ele, tanto que fugiu! E Jack chorou todas as lágrimas pela perda e desilusão da sua máquina perfeita...

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 07/05/2008
Reeditado em 08/01/2011
Código do texto: T978868
Classificação de conteúdo: seguro