A Ira de Poseidon

“Dos solos contra o mar. do oceano aos continentes,

jogam-se os temporais com ímpeto profundo;

zona de assolações e criações potentes,

que desfaz e refaz perpetuamente o mundo.”

Fausto, Goethe

O maior pesadelo em alto mar é ficar sem propulsão. Um barco sem motor não consegue se posicionar de frente para as ondas.

Três horas antes, o veleiro granma II navegava calmamente na direção nordeste. Logo o sol iria nascer, todos no convés para apreciar o espetáculo. O cruzeiro iniciara em Cozumel, com escala em Los Roques.

_Vocês estão vendo a fosforescência na água ? Aqui é o poço descrito por Hemingway, rico em peixes e camarões arrastado pelas correntes marítimas contras as paredes da fossa submarina. Nessa rota chegaremos ao Mar dos Sargaços, cemitério de navios.

_É onde ficava Atlândida. Disse Daniela, namorada mística, meio hippie, que John conhecera em Mendoza.

_Nunca foi provado que Atlântida existiu. Respondeu John, cético.

O nascer do sol foi deslumbrante. Desceram para o desjejum.

O debate sobre Atlântida estava animado quando John foi chamado. Subiu ao convés para observar estranha nuvem cinza a frente . O vento fraco, mal dava para inflar a balão, que foi recolhida.

_Aquilo não parece uma nuvem, parece fumaça ou então... uma nuvem de insetos! Já me aconteceu ser atacado por enxame de abelhas, só que estava próximo da costa.

A medida que se aproximavam, a nuvem adquiria uma aparência mais ameaçadora, como que tentando convencê-los a voltar. Os primeiros insetos chegaram ao barco com um zumbido, mas não pousavam no mastro como esperado. O radar daria um bom ninho...

O vento cessou totalmente. A superfície do mar parecia um espelho.

_Acionar motor principal.

O motor não dava partida, estava com algum problema elétrico. O reserva também.

_Chamem a guarda costeira!

O rádio também não funcionava, só estática. O mesmo com o GPS; sem contato com os satélites.

A nuvem ficou parada como uma parede no meio do mar.

Naquele momento já estavam todos no convés, desconfiados da gravidade da situação. Deram as mão e rezaram pelas suas almas, temerosos da ira dos elementos. Uma tempestade naquelas condições seria o fim.

Uma grande muralha de água se ergueu no oceano, era como se uma grande bolha de ar fosse estourar repentinamente na água. Estranhamente não se sentiu nenhuma perturbação no barco. Parecia que as leis da física estava sendo subvertidas.

A água voltou a baixar, sem propagar nenhuma onda. Surgiu uma imensa nave prateada, com formato alongado. O objeto pairou em silêncio até que a nuvem de insetos fosse recolhida. Depois acelerou, como se não tivesse peso, até sumir no céu.

O mar se encrespou suavemente; o vento voltou. Alívio geral.

_John!

_Sim, Daniela.

_Aquelas abelhas, não eram de verdade.

_Fala sério.

_Pareciam minúsculas máquinas voadoras. Sabe o que mais?

_Sim, meu amor.

_Eu juro que vi o Paulo Coelho na janela da nave.