As visitadoras do espaço

— Aqui está o homem — levanta-se o Coronel López.

— Sente-se, Capitão Pantoja — aponta um sofá o General Collazos. — Fique à vontade e segure-se bem para o que vai ouvir.

A presença dos militares de alta patente não deixou dúvidas quanto à importância da reunião.

— Sim, Pantoja, trata-se de um assunto bastante delicado.

— A presença dos senhores é uma honra para mim — responde o Capitão Pantoja, batendo os calcanhares.

— Quer beber alguma coisa? — pergunta o Coronel olhando para a ficha de Pantoja. — Então, não bebe? — "O serviço secreto acertou uma, para variar", pensou.

— Conhecemos o senhor mais que o senhor mesmo — levanta e larga a pasta na mesa — Ficaria bobo se soubesse quantas horas dedicamos estudando a sua vida. Sabemos o que fez, o que não fez e até o que fará, capitão.

— Sua ficha está limpa, apenas meia dúzia de advertências leves. Por isso foi o escolhido, Pantoja. — levanta uma sobrancelha o Coronel López.

— Diz aqui: "Organizador nato, sentido de ordem, capacidade executiva; conduziu a administração na Terra com eficácia e verdadeira inspiração". — "Que otário", pensou.

— Agradeço o bom conceito que têm de mim, darei o máximo para honrar essa confiança, meu coronel. — Respondeu Pantoja, sem saber em que estava se metendo.

— Bem, vamos ao que interessa. A missão exige o mais absoluto segredo, capitão.

Como era de conhecimento público, desde 2099 a Terra mantinha tropas nas colônias da lua Alpha para manter a ordem, repelir saques e, isso não era público, espionar o planeta Fônton.

Recentemente a Rede Nebulosa de H2DTV veiculara uma série de reportagens com colonos reclamando de ataques sexuais por parte da tropa. Isso causou constrangimento ao executivo.

— O presidente da Federação de Planetas não quer sua cara, associada a esse escândalo, exposta em 3D por todo o universo.

Um acordo custoso com a emissora para parar com as reportagens foi feito. Só que os concorrentes sensacionalistas estavam se mobilizando para ir para as colônias, de modo que o alto comando queria uma solução definitiva para o problema. Nada de tapar o sol ( sóis, no caso ) com a peneira.

— Resumindo, a tropa anda se atirando às mulheres, abusando delas. Toda a colônia está em polvorosa. É preciso dar de comer a esses esfomeados, Pantoja. Aí entra você, é aí que vai usar o seu cérebro organizador.

— Cá entre nós, não quero que ponha nunca mais os pés no comando ou nos quartéis da Terra ou das colônias. Fica liberado de assistir a todos os atos oficiais. Proibido, também, de usar uniforme. Vestirá traje civil. Seu sacrifício será lembrado.

Agindo na clandestinidade, Pantoja recebeu documentos falsos e uma conta bancária para custear as operações undercover.

Comprou uma velha ambulância da policia espacial que ainda estava em bom funcionamento, embora necessitasse de uma pintura. Pensou em deixar o símbolo da Cruz Vermelha, mas desistiu. A nave possuía quatro cômodos com macas, o que vinha de encontro às necessidades de Pantoja.

Retocou a pintura branca e colocou o símbolo de Vênus por cima da cruz vermelha.. Conseguiu com um amigo da Força Aeroespacial um número de transponder que era usado para testes. Assim poderia passar sem problemas pelas defesas planetárias e sua rota não seria registrada pelos sistemas de controle de navegação.

Marcou um encontro secreto com o Coronel em uma tourada para definir o nome da operação. Pantoja queria "Putas do espaço" mas o General preferiu chamar de "Cabaré do Futuro", menos chamativo. Por fim concordaram em chamar simplesmente de Barbarella.

Seria um serviço de "Putas delivery" que atenderia as colônias da Terra. Pantoja elaborou uma planilha de cálculo, usando teoria de filas, para dimensionar corretamente a quantidade de mulheres necessárias para atender às tropas e o tempo de cada "serviço". Tentou entregar os resultados ao Coronel, mas foi desencorajado. — Daqui em diante você está por conta própria, eu não te conheço, e só depositar a minha parte nessa conta numerada.

Recrutou e selecionou pessoalmente as mulheres. Testou cada uma na nave ambulância. Após um breve treinamento espacial o Cabaré do Futuro estava pronto para operar. Abriu uma empresa para poder faturar as Forças Armadas como prestadora de serviço de entretenimento. Pantoja pensara nos mínimos detalhes.

Ao contrário do que dizia a ficha de Pantoja, ele não era totalmente isento de defeitos. Quando bebia, era bocão. Gostava de se gabar, da sua organização, de como tinha todos os procedimentos por escrito, blá, blá, blá.

O repórter Garcia ouviu, sem querer, parte da conversa enquanto urinava no banheiro da Tropical Dances. Papo de bêbado pensou, mas seu faro por escândalos falou mais alto. Não deu outra. Infiltrou uma colega na equipe de Pantoja e descobriu tudo.

Um dia antes de partir, saiu a manchete "Exército vai mandar putas para o espaço". O governo negou tudo.

Pantojas percebeu tardiamente que se metera em uma roubada. Já sabia que a operação era ilegal, mas não esperava que desse tudo errado. Que fazer agora?

Sacou o saldo da conta corrente, escondeu uma parte. Com a outra parte comprou uma passagem para Marte. Boatos dizem que hoje ele é segurança de uma empresa chinesa que fabrica água e combustível para naves espaciais. Mudou até o nome.

(Inspirado em Pantaleão e as Visitadoras do peruano Mário Vargas LLosa)