MALDITOS INSETOS
- Tenho ódio de insetos, todos os tipos, não me interessa se são úteis para alguma coisa, prefiro ve-los mortos. Minha casa é detetizada de seis em seis meses, remédios para cupins, armadilhas para camundongos, cerca elétrica contra gatos. Tenho horror dos pequenos poodles e suas pulgas e carrapatos. Tenho ojeriza, odeio estes insetos nojentos. Nojentos.
A mulher esfregava o pano molhado com Lysoform no chão. O odor do desinfetante hospitalar fortíssimo não impedia a faxina diária. Tres vezes ao dia o esfregão cobria cada pedacinho da casa.
Enquanto limpava resmungava baixinho, maldizia cada tipo de inseto na interminável ladainha.
Na parede da sala um quadro de avisos alertava os visitantes: É proibido a entrada de: abelhas, baratas, cupim, formiga, gafanhoto, grilo, joaninha, Louva-Deus, marimbondo, mariposa, mosca, pernilongo. Piolho, pulga, pulgão, vespa e vaga-lume.
Insetos não sabem ler mas o filho era fascinado por todas estas "coisinhas" malditas:- Júnior, pise no tapete. E lave as solas dos sapatos no tanque, sujeira da rua não entra em casa. Tenho medo de doenças e bichos.
- Mãe, já estou descalço, quer que eu tire a roupa também?
- Eu apenas zelo por nossa saúde, seu pai morreu de Dengue ano passado. Um mosquito matou meu marido e voce debocha de mim.
- A senhora ficou paranóica desde a morte do papai, vive escondida aqui em casa. Acabou com o jardim e todos os cômodos tem repelente 24 hrs, não consigo respirar.
- Então vá brincar com seus amiguinhos e respire o ar poluído da rua, infestado de mosquitos pestilentos.
- Mãe, eu tenho dezoito anos, não brinco com meus amiguinhos.
- Voce vive trazendo estas coisas asquerosas para casa.
- Mãe, voce prometeu não mexer nas minhas coisas. Matou minha aranha, minha colônia de formigas e o ramster. Não posso ter nada.
Joana investigou o assoalho da sala com seu novo brinquedo. A ''Pistola Sugadora de Insetos'', poderosa arma japonesa adquirida pela internet. Muito eficiente. Bastava aproximar o aparelho perto do "bichinho" e apertar o gatilho para que o inseto fosse puxado para um recipiente plástico.
Esmagar cada baratinha era um prazer somente comparável a raquete elétrica, outra arma inseparável.
Júnior estava preocupado com a mãe, já havia tentado várias vezes conversar sobre uma consulta psiquiátrica. Ela não estava bem e precisava de ajuda. Joana não aceitava :- ele gosta de viver na imundície é problema dele, ele é quem deveria procurar "médico de maluco"_E Júnior cansou e foi morar com os avós.
Joana estava tão ansiosa para fazer a faxina no quarto do filho que nem ligou para a partida.
Mal o rapaz fechou o portão, juntou baldes, líquidos e panos de chão. Calçou as luvas de borracha e entrou no aposento. A iluminação era fraca mas tudo estva no lugar. Móveis limpos, livros arrumados na imensa estante que ocupava toda parede. Prateleiras do chão ao teto. Toda a biblioteca da casa estava guardada ali. Milhares de livros, enciclopédias e dicionários.
Resolveu iniciar a faxina pela estante, pegou a escada e começou a tirar os livros um por um, descia e subia os degraus disposta a encaixotar tudo para não acumular poeira e atrair cupins. Em uma desta idas uma imensa barata voou em seu rosto.Joana perdeu o equilíbrio e caiu:- Meu Deus! elas estão por toda parte. Socorro! Elas estão subindo em mim, Socorro!
Não conseguiu descobrir por onde todas aquelas baratas estavam saindo. Em poucos minutos estava coberta , na semi escuridão procurou a porta e conseguiu sair do quarto.
Estava em estado de histeria quando foi encontrada nua correndo pelas ruas do bairro. Enxergava baratas em todos os lugares, arranhava a pele em desespero e agrediu várias vizinhos:- Isto é coisa do Júnior, ele criou estes monstros, foi ele, eu sei que foi ele.
- Dona Joana fique calma , vamos chamar a ambulância, não tem barata nenhuma na senhora, fique calma.
Após muito muitos pedidos Joana aceitou ser levada para um hospital. Enrolada no lençol não parou de acusar o filho, depois o governo e por final até os extra-terrestres.
Muito a contragosto a família chamou o exterminador de insetos. Para surpresa de todos havia um foco e mesmo com os maiores esforços naõ pôde ser destruído.
Eram muitas, milhares, pareciam indestrutíveis. As autoridade sanitárias condenaram a construção e isolaram a área.
Durante a demolição o interior das paredes estava tomado. Imensas e numerosas baratas. A colônia era tão grande que o corpo de bombeiros precisou interceder.
Nunca houve uma infestação tão intensa. Milhões de baratas cobriam os muros das casas, saíam dos esgotos, fossas e ralos. Joana gritava que era o Apocalipse, que os insetos dominariam o mundo, logo todos estavam em pânico abandonando suas residências e fugindo do local.
E os insetos travaram a luta pela sobrevivência qual exército bem organizado, avançando cada vez mais, desafiando venenos e fogo. Joana era o Arauto das desgraças apregoando o temido final dos tempos na forma de asquerosos insetos.
- Tenho ódio de insetos, todos os tipos, não me interessa se são úteis para alguma coisa, prefiro ve-los mortos. Minha casa é detetizada de seis em seis meses, remédios para cupins, armadilhas para camundongos, cerca elétrica contra gatos. Tenho horror dos pequenos poodles e suas pulgas e carrapatos. Tenho ojeriza, odeio estes insetos nojentos. Nojentos.
A mulher esfregava o pano molhado com Lysoform no chão. O odor do desinfetante hospitalar fortíssimo não impedia a faxina diária. Tres vezes ao dia o esfregão cobria cada pedacinho da casa.
Enquanto limpava resmungava baixinho, maldizia cada tipo de inseto na interminável ladainha.
Na parede da sala um quadro de avisos alertava os visitantes: É proibido a entrada de: abelhas, baratas, cupim, formiga, gafanhoto, grilo, joaninha, Louva-Deus, marimbondo, mariposa, mosca, pernilongo. Piolho, pulga, pulgão, vespa e vaga-lume.
Insetos não sabem ler mas o filho era fascinado por todas estas "coisinhas" malditas:- Júnior, pise no tapete. E lave as solas dos sapatos no tanque, sujeira da rua não entra em casa. Tenho medo de doenças e bichos.
- Mãe, já estou descalço, quer que eu tire a roupa também?
- Eu apenas zelo por nossa saúde, seu pai morreu de Dengue ano passado. Um mosquito matou meu marido e voce debocha de mim.
- A senhora ficou paranóica desde a morte do papai, vive escondida aqui em casa. Acabou com o jardim e todos os cômodos tem repelente 24 hrs, não consigo respirar.
- Então vá brincar com seus amiguinhos e respire o ar poluído da rua, infestado de mosquitos pestilentos.
- Mãe, eu tenho dezoito anos, não brinco com meus amiguinhos.
- Voce vive trazendo estas coisas asquerosas para casa.
- Mãe, voce prometeu não mexer nas minhas coisas. Matou minha aranha, minha colônia de formigas e o ramster. Não posso ter nada.
Joana investigou o assoalho da sala com seu novo brinquedo. A ''Pistola Sugadora de Insetos'', poderosa arma japonesa adquirida pela internet. Muito eficiente. Bastava aproximar o aparelho perto do "bichinho" e apertar o gatilho para que o inseto fosse puxado para um recipiente plástico.
Esmagar cada baratinha era um prazer somente comparável a raquete elétrica, outra arma inseparável.
Júnior estava preocupado com a mãe, já havia tentado várias vezes conversar sobre uma consulta psiquiátrica. Ela não estava bem e precisava de ajuda. Joana não aceitava :- ele gosta de viver na imundície é problema dele, ele é quem deveria procurar "médico de maluco"_E Júnior cansou e foi morar com os avós.
Joana estava tão ansiosa para fazer a faxina no quarto do filho que nem ligou para a partida.
Mal o rapaz fechou o portão, juntou baldes, líquidos e panos de chão. Calçou as luvas de borracha e entrou no aposento. A iluminação era fraca mas tudo estva no lugar. Móveis limpos, livros arrumados na imensa estante que ocupava toda parede. Prateleiras do chão ao teto. Toda a biblioteca da casa estava guardada ali. Milhares de livros, enciclopédias e dicionários.
Resolveu iniciar a faxina pela estante, pegou a escada e começou a tirar os livros um por um, descia e subia os degraus disposta a encaixotar tudo para não acumular poeira e atrair cupins. Em uma desta idas uma imensa barata voou em seu rosto.Joana perdeu o equilíbrio e caiu:- Meu Deus! elas estão por toda parte. Socorro! Elas estão subindo em mim, Socorro!
Não conseguiu descobrir por onde todas aquelas baratas estavam saindo. Em poucos minutos estava coberta , na semi escuridão procurou a porta e conseguiu sair do quarto.
Estava em estado de histeria quando foi encontrada nua correndo pelas ruas do bairro. Enxergava baratas em todos os lugares, arranhava a pele em desespero e agrediu várias vizinhos:- Isto é coisa do Júnior, ele criou estes monstros, foi ele, eu sei que foi ele.
- Dona Joana fique calma , vamos chamar a ambulância, não tem barata nenhuma na senhora, fique calma.
Após muito muitos pedidos Joana aceitou ser levada para um hospital. Enrolada no lençol não parou de acusar o filho, depois o governo e por final até os extra-terrestres.
Muito a contragosto a família chamou o exterminador de insetos. Para surpresa de todos havia um foco e mesmo com os maiores esforços naõ pôde ser destruído.
Eram muitas, milhares, pareciam indestrutíveis. As autoridade sanitárias condenaram a construção e isolaram a área.
Durante a demolição o interior das paredes estava tomado. Imensas e numerosas baratas. A colônia era tão grande que o corpo de bombeiros precisou interceder.
Nunca houve uma infestação tão intensa. Milhões de baratas cobriam os muros das casas, saíam dos esgotos, fossas e ralos. Joana gritava que era o Apocalipse, que os insetos dominariam o mundo, logo todos estavam em pânico abandonando suas residências e fugindo do local.
E os insetos travaram a luta pela sobrevivência qual exército bem organizado, avançando cada vez mais, desafiando venenos e fogo. Joana era o Arauto das desgraças apregoando o temido final dos tempos na forma de asquerosos insetos.
O planeta finalmente se uniu contra a ameaça maior. Sem distinção política ou ideológica, o mais importante era destruir o inimigo. Suspeitas de pesticidas mutantes foram superadas enquanto os insetos tomavam Nova York e Paris. O Japão embarcava os pilares da cultura tentando preservar a qualquer custo os preciosos alicerces da história nipônica. Londres queimava, imensas fogueiras em cada esquina afugentavam os pestilentos algozes.
Cientistas brasileiros trabalhavam em uma revolucionária teoria de cadeia alimentar tramando a libertação de predadores naturais dos insetos mas eram refutados pela população temendo uma invasão de besouros, aranhas e escorpiões.
Panfletos distribuídos informavam que as baratas existem há aproximadamente 400 milhões de anos, desde o período Siluriano. O tamanho varia de 3mm a 10 com dependendo da espécie. Hábito gregário e preferiam viver em cavernas e desertos.
O último parágrafo descrevia as Pragas Urbanas como uma ameaça a população pois são hospedeiros naturais de vermes e atuam como vetores mecânicos (vírus, fungos, bactérias e protozoários) e biológicos (ser hospedeiro intermediário de vermes); reações alérgicas (contato com as fezes e exúvias); inutilizam alimentos (deixam odor repugnante)e o aspecto psicológico ( asco, surtos, pânico).
Um último pedido: As espécies encontradas nos ataques as residencias são únicas e fogem a todos os padrões existentes. Pedimos que seja evitado qualquer contato.