A Saga de Aba Jeva -Capiítulo II

CAPITULO II - O CASO

Paulo Roberto Santini sentia-se confuso.Arriscava-se em permanecer ali, mas se fosse embora,talvez seus clientes entendessem que não viera ao encontro e fizessem qualquer tipo de represália.

Acendeu mais um cigarro e mal terminara de dar a primeira tragada quando repentinamente o local se iluminou. Acima de sua cabeça ,um objeto imenso do tamanho de uma casa, feericamente iluminado descia em sua direção.

Sabia o que era aquilo. Era um OVNI* , um disco voador.Sabia porque desde criança era um apaixonado pelo assunto.Conhecia a sua história , já havia lido muitos relatos de seqüestros e abduções , e ao que tudo indicava ele iria protagonizar um deles .

Tentou dar partida no carro , embora tivesse convicção de que ele não funcionaria. O objeto agora não era mais uma luz , mas sim uma mancha feerivamente iluminada .Luzes de todos os tosns giravam em velocidade incrível em volta de uma espécie de abertura do qual jorrou um forte jato de luz . ..

Quando deu por si , Santini estava em uma espécie de quarto. Nenhum móvel , a não ser uma espécie de maca onde ele estava deitado. As paredes emitiam um brilho que fazia com que fosse desnecessária um ponto de luz . Também não observou portas , escotilhas , nada . Também o silêncio era total.

Santini sabia onde estava .No Ovni é claro. Também sabia como foi parar lá . Aschaverus e seus milhões .O que não sabia era o porquê de estar ali. Será que queriam que copulasse com uma Et , para dar orígem a uma nova raça , como tantos casos que já lera. Mas para isso não teriam que se dar ao trabalho de procurá-lo em seu escritório com aquela história de contratá-lo.

Afinal qual seria a tal causa que nenhum advogado pensou em pegar? Começou a sentir fome . Estranhou tão prosaico desejo numa hora daquelas .Devia ter comido aquele bolinho de carne, pois duvidava muito que o cardápio extraterrestre fosse lhe agradar.Percebeu que estava com a bexiga cheia e teve vontade de urinar.Pensou em fazê-lo num canto daquele quarto.Já ia se levantar , quando do nada apareceu uma abertura .Dirigiu-se até ela e verificou que era um banheiro., ou pelo menos assim Santini entendeu .

Devia ter pouco mais de metro e meio quadrado . Uma pedra hexagonal de cor avermelhada , oca e com um líquido denso em seu interior devia ser uma privada alienígena . Aliviado, procurou por alguma pia , ou similar. Nada além da pedra , Porcos alienígenas , não lavam as mãos depois de mijar. Mal terminou o seu pensamento e uma espécie de concha surgiu a sua frente , um liquído espeso como o que havia no "vaso" corria dentro dela . Com cuidado aproximou a mão e pode perceber que ele era tépido e exalava uma fragrância agradável.

Lavou as mãos e o rosto .Sentiu seu gosto , adocicado na boca . O que era mais estranho que aquele líqüido não molhava , tão logo se tirava a mão , estava seca. Saíu do quarto e dirigiu-se àquele arremedo de cama .Imediatamente começou a gritar :

Ashaverus ! Ashaverus , seu safado , cade você !

Em vão , parece que seu cliente estava disposto a ignorá-lo. Merda, pensou , certamente estava sendo observado , monitorado, como se fosse uma cobaia de laboratório . Filhas das putas , julgam-se superiores . Lembrou-se de um velho ensinamento hindu , usados pelos monges , que consistia em parar literalmente de pensar .Aprendera , com um instrutor de um curso chatíssimo de yoga que sua esposa obrigara a fazer . Para tanto você tinha que começar a sentir o seu órgãos funacionando . O coração bater , o ruído do sangue percorrendo suas artérias , etc.

Poucos segundos depois por uma abertura , Ashaverus apareceu . Santini deu uma grande gargalhada e disse :

-Preocupado , com seu advogado ?

Ashaverus olhou fixamente nos olhos de Santini demonstrando grande irritação com a artimanha usada pelo advogado mas ao mesmo tempo um certo alívio ao perceber que nada havia acontecido.No fundo estava claro, que a integridade física de seu passageiro era essencial.

Paulo Roberto, por sua vez, não deixou de aproveitar aquela oportunidade e sorrindo ironizou:

-Ah! Eis aqui o nosso cliente .Sr.Ashaverus ,se eu soubesse que teria de viajar , meus honorários seriam o dobro.

Aschaverus deu uma volta pelo quarto, permitindo que o advogado tivesse uma perfeita idéia de sua indumentária. Ainda vestia a mesma bata, ou poncho gaúcho,mas os sapatos, se é que se poderia chamar deste modo, mais pareciam, meias de um material metálico, dando a impresso de extremamente confortáveis e praticas. Alias , tudo dentro daquela nave parecia ser extremamente obvio , o que levou Paulo a imaginar que a tecnologia , para aqueles seres, identificava-se com simplicidade,o que significava uma abordagem completamente diferente do que os terráqueos entendiam como tecnologia, que na Terra era o mesmo que sofisticação e tinha como alvo apenas a um privilegiado grupo de iniciados.A voz de Aschaverus interrompeu suas divagações.

-Caro Doutor, é justa a sua ponderação, mas , veja, se mencionasse este tipo de viagem, o que o Sr. teria feito? Expulsado de seu consultório, me agredido. Mesmo assim , providenciarei para que importância substancialmente maior seja ,como é mesmo que vocês falam?....|Ah! sim. depositada em sua conta bancária...

-Um momento , Sr.Ashaverus, o que Sr. acha que irá acontecer com a minha mulher , com esta dinherama toda caindo em minha conta. Certamente pensarão que eu me envolvi com traficantes de drogas , e o imposto de renda , como é que fica.Talvez ela seja presa , forçada a dizer o meu paradeiro.

-Caro advogado, o sr. acha que nós que somos capazes atravessar galáxias,desafiar o espaço e o tempo,criar e destruir estrelas,iriamos nos preocupar com esse tal de imposto de renda, grigloxtrw vrotz .

A expressão utilizada pelo alienígena era absolutamente incompreensível para Paulo; mais parecia um grunhido.

-O que foi que disse?

-Apenas utilizei uma expressão em minha língua natal, que quer dizer algo parecido com o "pelo amor de Deus", que vocês costumam dizer.

Aquilo surpreendera Paulo Roberto.Primeiramente revelava que eles tinham um língua , e a utilizavam ,já que era razoável se imaginar que a comunicação entre eles fosse apenas telepática. O outro aspecto era que a expressão utilizada falava da existência de uma crença religiosa, que também era algo que parecia incompatível com a cultura daqueles seres.

Ashaverus ,novamente ,interrompeu seus pensamentos, mais uma vez provando que tinha comunicação direta com a mente do seu convidado

-Se o senhor quiser se espantar menos, deixe de fazer colocações preconceituosas a nosso respeito. Futuramente terá respostas que o farão compreender isto e outras coisas mais.Por hora , saiba que normalmente falamos, só usando a telepatia quando é o caso de nossa experiência com seres infe...,digo...

-Inferiores, não é isso que iria dizer !

-Sim , Dr.Paulo, inferiores, No que se refere a maneira de se comunicarem ,vocês são incluídos na categoria de H.F.I. segundo a classificação de TEWQT, ora deixa isso para lá, o que o sr ,precisa saber agora é que se precisamos falar ,falamos.Quando a segunda indagação, porque o sr.pensa que só as raças inf..., menos desenvolvidas tem crença religiosa. Quanto mais sabemos, menos sabemos.Já quanto a sua preocupação com o tal de imposto de renda, apesar de ser algo absolutamente comezinho , nós nos preocupamos com isso. O dinheiro que foi , assim como o que será depositado em sua conta , origina-se de o que chamam de loteria de prognósticos, que fora preenchido pelo senhor na semana passada, cujo resultado , aliás , o senhor não conferiu, como sempre.

-De fato eu fiz dois jogos , mas não localizei os comprovantes.

-Aí entramos.Os seus comprovantes foram cuidadosamente retirados de sua carteira..., não roubados , Dr.,eu disse retirados e os seus números escolhidos, graças ao que chamam de sorte e a ajuda de nossa tecnologia.Depois o senhor dirigiu-se ao banco ...

-Eu?

-Bem , na verdade não era o senhor, mas um sósia seu, portando documentos..., não eram falsos, mas sim idênticos, duplicatas dos seus e aplicou dentro da lei e respeitando as regras do tal imposto de renda.

-Imagino que para o próximo depósito o método será o mesmo.Pena que joguei apenas duas vezes, ou será que o meu sósia também sabe jogar na loteria.

Ashaverus, mais uma vez sem dizer nada , dirigiu-se em direção a parede, que novamente se abrira. Paulo não pode deixar de pensar que ele deveria ter escolhido o nome de Ali Baba .

Imediatamente voltou a sentir aquela sensação de solidão . não aquele vazio quase que existencial,que acompanha o homem médio, mas um vazio físico ; a certeza que era o único ser humano na imensidão do espaço. Realizava o sonho de milhares pessoas ,ia na direção das estrelas e ninguém saberias contasse sua história ,logo ela viraria uma estória de pescador , uma peça mal pregada, uma mentira.

De repente,um pensamento explodiu como uma bomba em sua mente.Será , que neste instante o seu sósia ocupa o seu lugar em sua casa? Será que estes merdas de extraterrestres tiveram a coragem de fazer um coisa desta. Desesperado gritou o nome de Ashaverus, mas apenas uma vez, porque em seguida a parede bem defronte a sua cama iluminou-se .

Paulo Roberto viu-se dentro de uma sala. Os estofados eram de couro surrado e aqui e ali se via pequenos rasgos.

O tapete era de desenhos persas e o ambiente se completava com cortinas brancas , com detalhes em tecido vermelho.No canto uma pequena mesa , guarnecida por uma toalha de crochê ,e sob elas um vazo de cerâmica rústica com margaridas .

Surpreso ,Paulo , sentiu que pisava sob um assoalho antigo e ao procurar observar melhor o chão ,deparou-se com um objeto que ao reconhecer causou-lhe uma grande emoção.Era a boneca de sua filha e aquela era a casa de sua sogra . Estava livre ,tinha sido devolvido.Era isto.Jà lera milhares de relatos de pessoas que eram levadas para dentro de U.F.O.S e depois de algum tempo eram devolvidas a terra.

Feliz , passou a chamar pelo nome da filha ,da mulher,mas ,logo percebeu que estava só.Provavelmente saíram, pensou.Agachou-se para pegar a boneca, mas suas mãos passaram por dentro dela e também pelo assoalho.Aquilo não era real.Era ,certamente , mas um dos truques de Ashaverus e sua gang.

Nesse instante , uma menininha de cabelos ondulados, vestindo um shortes vermelho ,correu em sua direção.Extasiado , Paulo abriu os braços e pode ver sua filha atravessar-lhe o corpo e agarrar a boneca .

Em seguida entrou sua mulher e sua sogra.Chamou-as , mas elas continuavam a falar ser que notassem a sua presença.

-Mamãe , eu não acredito .O Paulo ganha esta fortuna na loteria e some.Sumiu,sem tirar um tostão do banco,uma moedinha sequer.

-Calma , minha filha ,tudo se explica .Ele não disse na carta que tinha que fazer uma viagem ao exterior ,que era uma causa internacional e a presença dele não podia ser adiada.

-Ora mamãe, a senhora acredita em tudo , faça me o favor!

Paulo percebera tudo.Eles tinham mandado uma carta para sua mulher inventando uma hipotètica viagem.Hipotètica. Ah! Ah! Do mesmo modo,um brilho intenso levou Paulo Roberto para o seu compartimento .Ele percebera , enfim , que nunca saíra daquele lugar.Tivera contato com algo que deveria ser parecido com realidade virtual, só que o único equipamento exigido era sua mente

Tanto melhor, pensou ele , que não tiveram a idéia de colocar um sósia vivendo com sua família.Agora nada faltava a sua mulher e filha.Estavam ricas, e isto o confortava .

Para espantar o tédio, tentou imaginar o que representava tudo aquilo.A primeira hipótese era de que aquilo poderia ser resultado de qualquer problema que tivera no escritório.Talvez tenha caído ,batido a cabeça e tudo isto era fruto de um coma .Absurdo , os sonhos não são lógicos e tudo ali era paradoxalmente lógico.

Nem Kafka poderia imaginar algo tão absurdo.Fora pago para ser seqüestrado por seres de uma inteligência superior e viajava em uma nave interplanetária sem saber para onde, nem porque. Sentiu muito medo, lembrou da filha da mulher , e por incrível que pareça bendisse a vidinha dura que tinha e chorou.Chorou muito até dormir.