A 5ª ERA

O ano é 2013. Há tempos, ele não comia nada decente. A época de alimentos saudáveis havia findado. Só restavam os sintéticos, os quais resultavam em malefícios orgânicos. "Malditos transgênicos. Milhões de vidas se perderam por eles e, agora, só estou vivo por causa deles", praguejava enquanto comia salgadinho vencido, que achou na última vez que pôde sair do porão, onde dividia espaço com ratos e aranhas. Às vezes, até que os ratos eram comestíveis, quando a fome se tornava mais forte que o asco. A comida estava acabando e nada da chuva ácida parar. Por mais caótica que fosse a situação, tinha esperanças de salvação. Ele riu. "Esperanças? Quais?" Esperanças existiam nos primeiros anos do 2° Milênio, bem antes da 4ª Grande Guerra eclodir.

- Foi como Einstein previu: com paus e pedras. Provamos que somos mesmo irracionais. Nunca esperei testemunhar aquilo: pessoas consideradas civilizadas atacando os próprios semelhantes numa fúria irracional na luta por sobrevivência, por um pedaço de pão ou por um cobertor rasgado. Isso aconteceu a partir de 2012. No entanto, tudo poderia ter sido evitado há séculos. Em 2003, tinha apenas 15 anos e mal prestava atenção às aulas de História a respeito dos povos Maias. Hoje, sabia tudo sobre esse povo misterioso que habitou a Terra há milhares de anos os quais, dizem, teriam antigas ligações com os lendários atlantes.

- Os desgraçados faziam cálculos astronômicos de notável exatidão e previram o que aconteceu. Em sua ignorância, pensava que as profecias eram bobagens. Claro, preferia acreditar nos cientistas modernos que diziam que tudo estava sob controle, do que num bando de índios que idolatravam divindades que vinham do céu (discos voadores?). Os Maias haviam previsto para 2012 um grande cataclisma, o que de fato ocorreu com a precessão dos equinócios, resultando na oscilação do eixo da terra, o que ocasionou a reversão nos pólos. Logo depois, os maremotos, terremotos, erupções vulcânicas, influenciados pelo campo gravitacional de um planeta vermelho, chamado Hercólubus. Os cientistas financiados pelo governo sabiam da sua existência, sabiam de tudo, mas ocultaram a informação. Poucas foram as vozes que se ergueram para revelar a verdade, mas também foram poucos os que deram ouvidos. "A luz veio às trevas, mas as trevas a rechaçaram". Por causa disso, do desastre que se alinhou, o mundo virou do avesso, mais ou menos como ocorre com um grão de milho-pipoca numa panela quente.

- Aqui estou, no fim de tudo. No início da era de aquário. No fim da 5ª era, no fim da raça humana...

"Em 1999 e sete meses, do céu virá um grande rei do terror. Ressuscitará o grande rei D'angolmois, antes que Marte reine pela felicidade". Nostradamus.

Ele lembrou que, em 1999, a mídia propagou a referida profecia com estardalhaço, lembrando de outras previsões acertadas do oráculo francês. Como nada houve naquele momente, qualquer profecia apocalíptica passou a ser encarada com incredulidade. Por isso, a notícia que cientistas civis divulgaram, em 24 de junho de 2008, de que a Terra estaria em rota de colisão com a órbita de outro planeta foi desacreditada pelos poderosos. Os mesmos que há muito elaboravam um plano de fuga rumo ao planeta Marte, com propósitos de colonização. Nostradamus viveu no século XVI e fez profecias para além do ano 3.000. Muitos o tinham como um lunático, outros como um visionário. O que ninguém sabia era que Nostradamus não previu o futuro. Ele viu. Depois, foi instruído a escrever, simbológicamente, sobre o que testemunhou.

- Por quem?", perguntou ao homem que lhe revelou o segredo.

- A resposta que você espera, Erich vön Däniken já deu em forma de pergunta: Eram os Deuses astronautas? É o título de seu mais famoso livro". Nostradamus teria viajado no tempo, a convite de seres extraterrenos, para testemunhar o que iria suceder com a humanidade. Em 2012, ocorreu uma sizígia, um raro alinhamento, quando os nove planetas do sistema solar estiveram paralelos ao sol.

- O universo funciona como as engrenagens de um relógio. Tudo se encontra num movimento circular contínuo: homens, animais e galáxias", observou. "Cada vez que um alinhamento desses ocorre, significa que uma era chegou ao fim. Que uma raça deve perecer para o princípio de outra. A última vez em que isso aconteceu foi há cerca de 14 mil anos. Coincide com a lenda da Atlântida, uma civilização avançadíssima científica e tecnológicamente, mas que sucumbiu submersa, após mudança planetária resultante da queda de um imenso meteoro. Os poucos que se salvaram, plantaram as bases para a 5ª raça. Todos conhecem parte dessa lenda. Na Bíblia, ela é descrita como a história da Arca de Noé...

Seu estômago ainda estava doendo por causa da fome. Ouviu o ruído dos ratos, que disparavam para a saída do porão. Lembrou que, em casos de naufrágio, eram os primeiros a abandonar o navio.

- Siga os ratos", ordenou-se.

Arriscou sair e percebeu que a chuva ácida havia terminado. Os ratos tinham saído para procurar algo para comer e era o que ele pretendia fazer também. Ao seu redor, os destroços do que outrora tinha sido uma cidade. Assim era com o resto do planeta, destruído depois de duas guerras sucessivas e dos cataclismas astronômicos. Se realmente existia um Juízo Final, era aquele. O organismo planetário, enfim, havia dado o troco contra todos os atentados que sofreu das "bactérias" sob sua crosta que insistiam em alterar o seu estado original, com embates estúpidos, extração abusiva de recursos naturais e despejos de lixos nucleares sob os oceanos, entre inúmeras outros formas de poluição.

Ele nunca leu muita a Bíblia, a não ser a parte do Apocalipse, com seus selos, anjos, trombetas e estrelas despencando. Aquilo lhe intrigava, pois parecia ter saído da mente de algum roteirista de cinema, especializado em ficção científica. Fantasioso demais para um dia ser verdade.

Por isso, o ceticismo que sempre teve não o preparou para a cena fantástica que estava para testemunhar. Olhou para o céu e percebeu um objeto de proporções gigantescas, rasgando o firmamento e desafiando a Física conhecida ao se manter no ar. Lembrou um antigo filme, "Independence Day", onde seres extraterrestres surgiam para destruir os humanos e dominar a Terra. De dentro do imenso aparelho, foram despejadas centenas de outras naves, que se espalharam num piscar de olhos. Mais que velozmente, uma delas estava sobre ele, emando uma luz intensa. Foi a última coisa que viu.

Quando tornou a abrir os olhos, não soube precisar quanto tempo havia se passado: horas, dias, anos. Não sentia fome e estava curado de todas as dores. Se encontrava numa espécie de hospital de leitos flutuantes. Ao seu lado, centenas de humanos repousavam. Logo, um ser extraterreno veio até ele. Apesar de sua fisionomia diferente, sentiu que ele era parecia ser do bem, graças a Deus.

- Nós também acreditamos em D-Us, irmão.O demiurgo que criou desde o ínfimo átomo às gigantescas galáxias", foram palavras projetadas em sua mente, para seu espanto, já que não o tinha visto abrir a boca. - O verbo é sagrado e não deve ser pronunciado em vão. Vocês é que vulgarizaram a palavra, justificou.

- Há tempos, observamos a história humana e o seu processo involutivo. Sabíamos que não conseguiriam subjulgar o seu triste destino, apesar de que tinham todas as possibilidades para isso. De acordo com a sua medida de tempo, a humanidade foi julgada no final da década de 50, quando o relógio do Apocalipse começou a se aproximar dos segundos finais".

De forma ingênua, o humano questionou aquele ser angelical sobre as suas origens e motivações para vigiarem a Terra.

- Nunca acreditei na existência de vida em outros planetas. E muitas pessoas que eu conhecia que acreditavam, achavam que teriam planos de conquistar o nosso planeta.

- Como disse, há muito tempo observamos o seu planeta. Não apenas nós, mas também irmãos oriundos de outros universos. Tenha em mente que toda a obra de D-US se encontra interligada, mas só tem consciência disso, àqueles despertos na própria essência. Para sintetizar, é como se estivesse concentrado numa orquestra e percebesse quando algum instrumento não está harmônico com todos os demais. Assim, sabiamos que precisariam de ajuda, mais cedo ou mais tarde, como já ocorreu na história de outras raças que habitaram a terra, antes de vocês. O que aconteceu com a sua raça é que, assim como outras, avançou científicamente, apenas. O nível tecnológico superou o nível de amor e isso causou a sua destruição. Resgatamos apenas os que tinham nível de amor necessário para a formar uma nova raça. De minha parte, estou dando prosseguimento a missão assumida de meus antepassados, que fizeram o mesmo há cerca de 14 mil anos. Com relação a existência de vida em outros planos, isso sempre foi ocultado por pessoas e órgãos de seu planeta, por contestar as amarras religiosas que os impediam de enxergar a verdade. E posso lhe garantir que povo evoluído algum possui planos de conquistar outros mundos. Isso é proibido por leis superiores. Por isso, a idéia de que cientistas terráqueos possuiam de pisar no solo marciano não vingou. Até porque Marte não é um planeta sem vida. Tenha em mente que eu e você vivemos uma existência material, mas a vida existe em diferentes planos, observou.

O humano começou a chorar, pelas possibilidades perdidas de evolução por parte dos seres humanos.

- Quando descobriu a energia atômica, Einstein ficou feliz, pois ela serviria à humanidade. Quando sua criação foi usada para destruir vidas, ele se arrependeu de não ter se tornado um simples relojoeiro, refletiu, enquanto chorava pelo bem que poderia ter sido feito por seus semelhantes e não foi. Chorava pelos pecados da humanidade, pela soberba, pelo ódio, pela disputa de poder, pela traição, pela ganância, pela vaidade, pela luxúria, pela inveja, pela guerra.

- Tudo está perdido para sempre?", perguntou ele.

- D-Us diz sim para todas as questões. Pergunte se a humanidade terá uma nova oportunidade de se corrigir e obterá a resposta.

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 01/02/2008
Código do texto: T842142
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