O GRANDE SILÊNCIO INFANTIL - (Contra-contos #19)
O GRANDE SILÊNCIO INFANTIL
Tornou-se questão de emergência nacional e ameaçava transformar-se em mundial, a cada instante se avolumava o fragor do estranho acontecimento: as crianças do país não faziam barulho, não mais eram ruidosas, não mais se inclinavam ao estrondo, estampido, gritos, barulho de qualquer tipo!
Tudo começou em Vinerói quando, no bar da esquina, Polifácio explodiu seu desabafo contra a mulher Garibaldina, seu primeiro desabafo depois de doze anos de casado.
Aguentara o que pudera mas naquela tarde a represa estourara.
E Polifácio desfiou o rosário de queixas da mulher, do casamento como instituição alquebrada e falida e até dos filhos.
Seu companheiro habitual de copo após copo para esquentar o frio ou refrescar o calor, Cordolino Ambrósio da Anunciação, era homem mais experiente e vivido, tratava Polifácio com a benevolência natural dos irmãos mais velhos.
A confraria da bebida após o trabalho é a maior do mundo, a mais compreensiva e mais fraterna do mundo.
O fato é que Polifácio dispunha de Cordolino para desabafar suas queixas contra a mulher, o casamento, os filhos, o patrão no emprego por fora e o chefe no emprego público.
E não se restringia a universo tão multifacetado e presumivelmente completo: queixava-se da vida, da idade, da saúde, da música nacional e da estrangeira também.
Os chopes iam longe e o extravasamento fundo, Polifácio não aguentava mais, baixou a cabeça no ombro do amigo -- amicíssimo -- de Cordolino e chorou, soluçou.
Dos olhos de Cordolino as lágrimas irromperam em solidariedade e compreensão as mais fraternas e autênticas.
--Tudo é esquisito lá em casa! -- bradava agora em desespero o pobre Polifácio, enquanto o zunzum do bar prosseguia, todos colaborando fraternalmente na tarefa de não envergonhá-lo como homem macho que era.
Para colaborarem nisso bastava fazerem de conta que não viam nem ouviam, seguiam as conversas intermináveis e gostosas sobre a vida, a morte, as mulheres, o dinheiro, os cavalos -- quê mais, mesmo? -- Tudo é esquisito lá em casa!
Até meu filho, aquele idiota redondo, é diferente do normal, ele não grita, não faz barulho!
Polifácio gritou essas palavras grifadas, gritou-as no dilaceramento amargurado de pai amantíssimo porém perturbado diante de tal comportamento estranhérrimo do filho.
O filho não fazia barulho!
No mesmo instante, ditas essas palavras em tom alto e amargo, o silêncio se formou, inquieto e hesitante, no barzinho lotado de operosos funcionários-empregados-empresários do bairro elegante.
Aquela rodinha firme de gente que se conhecia tanto de vista e de papos e detalhes -- só que tudo isso dentro do bar, da porta para fora desconheciam-se solenemente.
Vinerói tem dessas coisas.
O silêncio, portanto, se formou no barzinho onde os trinta e tantos fregueses habituais se encontravam em pouco espaço, tomavam conta de todas as cadeiras e bancos de modo que nenhum corpo estranho achava onde encostar os ossos.
Bar-clube fechado aquele, e Manoel Gonzales ou Manoel Espanhol, com seu sócio Camacho, sem comentar e sem propaganda, caprichavam o que podiam para manterem a atmosfera aconchegante que facultava a esses trinta e poucos fregueses-amigos as horas do bar, diariamente, na certeza de que só isso os mantinha em pé diante da vida de luta e batalha.
O silêncio se formou no barzinho, pois os presentes haviam ouvido perfeitamente aquelas palavras berradas, sofridas, com travo do mais dilacerante sofrimento: 'Até meu filho, aquele idiota redondo, é diferente do normal, ele não grita, não faz barulho!
Manoel Gonzales parou na caixa, pelega de mil paus na mão, olhou para Polifácio, queixão estendido à frente, cigarro semi-mordido entre os dentes, careta de quem levou uma paulada de mau jeito ou de corintiano ao ver sua meta vazada pelo adversário.
Camacho, virando mais um whisky na mesa de Artur e Sobralzinho, parou igualmente e só deu cobro de si quando o sinal de alarme automático se fez ouvir em seu cérebro e notou que pusera no copo de Sobralzinho uma dose tripla de whisky -- e o freguês servido igualmente não o percebera, perdido nas palavras de Polifácio.
Sobralzinho e Artur, aliás, apanhados de surpresa por aquelas palavras/gritos lancinantes de Polifácio, não perceberam a generosidade de Camacho, mas este, muito vivo, imediatamente virou metade do copo de Sobralzinho no de Artur.
Conhecia o eleitorado, seus fregueses e amigos, àquela altura da noite ligavam pouco para as regras de higiene -- e ele não ia perder tanto whisky.
Só que continuava aturdido com o impacto e importe das palavras sofridas de Polifácio: 'meu filho não grita, não faz barulho!'
--Ora, essa é muito boa!
Alguém pigarreou, arrastaram-se cadeiras, houve um entreolhar geral pelo salãozinho, ao balcão, Cordolino fitava Polifácio com expressão a mais esbugalhada que pode ter quem atingiu sua capacidade máxima de álcool no sangue.
--Ora, essa é muito boa!-- explodiu em seguida, no meio do meio do silêncio do salão, o zunzum não se refizera, pairava no ar um silêncio agourento de terremoto.
--Puta que me pariu e eu pensei que era só meu filho que tinha essa esquisitice!
Olhares voltavam-se para ele e sabendo-se observado por todos, sem se voltar, ele explicou:
--Tá fazendo tempo que isso me aporrinha e torra o saco. O negócio é que meu garoto, o Genivaldo, é criança anormal, ele também não gosta de fazer barulho!
Manoel Gonzales e Camacho aproximavam-se interessadíssimos e formaram um semicírculo com os dois.
--Ma que negócio é esse? -- berrou Manoel, bigodão e queixo a espetar o espaço à frente da carantonha enérgica.--Meus neto também não faz barulho, não grita, não fala alto, nem toca as corneta que eu dei preles de presente. Que que está havendo com esses moleque?
E Camacho:
--Porra, eu "tou" com o mesmo "pobrema" lá em casa! Meus neto não parece criança de saúde, não grita nem faz barulho, eu já levei eles pro médico e mais outro médico e os besunta não acha nada nas criança, diz que tá tudo bem, já viu só se isso é possível?
Os quatro enfrefitavam-se, haviam descoberto alguma coisa especial -- todos os quatro remoíam íntima e sigilosamente a mágoa-drama de não ouvirem os filhos e netos fazendo barulho, gritando, como crianças normais.
Mas esses instantes de tomada de conhecimento da situação, reconhecimento de fato novo -- a coincidência de outras crianças igualmente 'silenciosas'-- tiveram curta duração.
--Você tá falando sério? -- era Marcial quem chegava e interpelava Polifácio, a quem nunca dirigira a palavra.
Deixara a mesa e viera em companhia de Zezefredo e Dr. Colderotta, os três em expressão séria, intrigada, cheios de curiosidade e alarme.
No frigir dos ovos eis que o bar em peso se mobilizou e pela primeira vez em tantos anos ali se formou uma assembleia comunitária e comunicante, todos falando com todos e todos ouvindo todos.
Porque o fato afinal vinha a nu, estarrecendo todos: os presentes que tinham crianças por filhos, netos, sobrinhos e o mais, morando ali nesse bairro, desde algum tempo haviam notado com desgosto, alarme e sigilo que tais crianças não gostavam de fazer barulho, não eram ruidosos, falavam sem gritar, não punham rádios e discos a berrar, evitavam fogos de estampido, não gritavam os goals de seus clubes -- em suma, eram crianças silenciosas!
No consenso geral dos adultos agora interessadíssimos ao verificarem que não se tratava de caso ou drama pessoal e familiar seu, mas de estado coletivo e geral, tais crianças estavam evidentemente enfermas.
Já se viu criança que não faz barulho?
A presença ou proximidade dessas crianças silenciosas e não-ruidosas, en suas casas ou nas casas de filhos e parentes, causava-lhes arrepio, ensombrecia lhes os pensamentos e disposição e estado de alma.
Não era natural!
Criança é feita pra fazer barulho, encher o saco, a gente tem de mandar ficar quieto, calar a boca, parar de estar dando porrada em lata de goiabada!
E ali se verificara, viera a furo, que as crianças não faziam barulho!
Falavam, sim, cantavam, sim -- mas sem fazer barulho ou ruído.
Não gritavam nem punham à toda os controles de televisão, rádio, toca-discos, gravadores e demais aparelhos sonoros.
E isso em casa, no apartamento, no carro, no sítio, nos passeios de fim de semana, na praia!
--Pensando bem -- era constatação que Zezefredo fazia mas parecia ter ocorrido a todos eles -- nunca vi aquela criança -- referia-se ao neto -- fazer barulho, seu!
Dali o assunto saíra para comentário geral na cidade pois alguns se puseram naquele mesmo bar a telefonar para casa, comentando com as mulheres a descoberta feita no bar, de que as crianças dos outros também estavam nessa esquisitice de não fazerem barulho -- e quantos choraram ao telefone, podendo afinal abrir o coração e despejar a preocupação com a leal companheira, que em silêncio e preocupada igualmente observava aflita a não-ruidosidade dos filhos, netos, sobrinhos, etc!
No telefone, afinal e por sua vez, impondo-se aos demais pelo fato de ter sido aquele cujo berro fizera todos tomarem conhecimento do estranho fato, Polifácio tirou a mulher da novela, obrigou-a a chamar o filho ao telefone.
--Eduardinho, meu filho!-- Polifácio chorava, todos os olhares no bar cravados nele. -- Me diz uma coisa, meu filho... Você está bem?... Não está sentindo alguma coisa?... Tem certeza?... Escuta aqui, por que você não grita?... Hem?!... Quero saber por que você não grita, pô!... Eu sei que não tem ninguém te dando porrada, idiota. Quero saber por que você nunca grita, entendeu?... O quê? O quê, seu... Não tem vontade? Não há motivo?
Perdia-se no tempo e no espaço, inteiramente apalermado, desarvorado, desorientado, buscava simiesca mente (o fácies o dizia) uma árvore oriental na qual pudesse arvorar-se e orientar-se.
Os demais confabulavam, alguns se retiraram decididos a tomar providências.
Propunha-se polícia como primeira medida mas alguém fez ver que a polícia nada tinha a ver.
Médicos!
Médicos eram a salvação, as pessoas a procurar para examinarem o fenômeno.
O prefeito?
Ora, que pode o prefeito ter com isso, carpinteiro?
Larga de ser burro!
Manoel Gonzales não fazia por menos.
Assim estourou a bomba.
Bomba porque, ao propalarem o acontecimento, divulgarem o ocorrido, a descoberta feita no bar de Camacho e Manoel, os pais-avós-tios-irmãos presentes alertaram toda a cidade de Vinerói para o fato assombroso, logo verificado em poucos dias senão horas: as crianças da cidade não faziam barulho, não gostavam de gritar e ruidar, viviam e se comportavam sem ruídos desnecessários e evitáveis.
Eram, em suma, crianças silenciosas!
E quando a coisa chegou a esse nível de constatação eis que a imprensa e meios de comunicação se mobilizaram, saltaram à cata de tudo quanto era aspecto da questão.
O estardalhaço de tal movo se avolumou que as autoridades estaduais e federais se mobilizaram.
O país inteiro apercebeu-se de algo mui singular: nos últimos dois anos as crianças tinham deixado de fazer barulho, ruído, algazarra, etc.
Tornara-se questão de emergência nacional e ameaçava-se tornar-se mundial, a cada instante se avolumava o fragor do estranho acontecimento, exatamente o silêncio das crianças, sua não-ruidosidade.
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--Sr. Presidente, eis o relatório final do Ministro, confirmando o que tem sido verificado. As crianças são normais, não têm problemas de audição, fonação ou problemas mentais. Simplesmente parecem não gostar mais de fazer barulho, só isso.
O Presidente remexeu-se na poltrona.
Quando, em sua vida militar iniciada em jovem na caserna, iria imaginar que se defrontaria com questão de tal modo estapafúrdia, fósmea?
O grande problema da descoberta de que as crianças não estavam fazendo barulho!
Por toda a parte isso criava angústia e neurose junto aos pais e adultos em geral, por certo faltava alguma coisa a essas crianças silenciosas ou alguma coisa lhes acontecera, alguma coisa certamente pairava no ar, era sinal dos tempos, augúrio, o que estava acontecendo?
Voltou-se calmo e inflexível para o auxiliar de quem acabara de receber o relatório oficial sobre a questão, relatório elaborado com todos os recursos de seu governo, efetuado em tempo mínimo e dispondo de todos os dispositivos mobilizáveis, públicos e particulares do setor.
Jamais uma pesquisa-estudo fora feita com tanta precisão e rapidez em país afeito à burocracia.
Calmo e inflexível, determinou-lhe (tinha de determinar alguma coisa!):
--O que acha que está acontecendo, Sr. Ministro?
--Algum fator na dieta dessas crianças, alguma coisa que receberam nas escolas, na televisão, que as fez desgostar de barulho -- era a resposta mais inteligente, a explicação mais sensata.-- Mas faz pensar em algum plano cuja existência e execução não tem o conhecimento ou aprovação do Governo! -- assim fazia sentir que estava alerta ao que se passava, apercebia-se dos fatos com precisão e profundidade.
--Mandar abrir inquérito? -- o Presidente enunciava de tal modo que ninguém, nem ele, podia encarar a palavra como pergunta, afirmação, proposta ou manifestação de dúvida.
--O que o presidente determinar -- porte ministerial conhece todos os macetes desencabuladores e capoeirístico-vocais do idioma; conhece ou não se aguenta no escalão.
Modo todo especial de falar e de ouvir.
--Mandar ao Conselho de Segurança Nacional -- decidiu o primeiro mandatário. -- A opinião deles é indispensável, pode haver influência estrangeira no acontecimento.
O ministro rotundo e caladão, porém, não tolerava asneira e o fez ver:
--Vão me permitir a observação mas acontece que o fato se verifica em todo o mundo, como a televisão tem noticiado. Do Afeganistão á Patagônia acontece o mesmo, por toda parte. O Conselho de Segurança Nacional não vai descobrir mer... perdão, coisa alguma de novo nisso aí -- estava decididamente enjoado com tudo aquilo, a qualquer hora pediria demissão e entregaria o cargo, não aguentava mais tanta estupidez, incompetência, preguiça, corrupção e safadeza e calhordismo em todos os escalões .
Ganhou o olhar prolongado -- e atravessado -- dos demais componentes da reunião;
'Será que afinal me mandam embora, esses coelhinhos assustados?' imaginava. 'mas quem tem colhão aqui para decidir isso?'
O Presidente via-se publicamente enxovalhado, isto é, tão publicamente quanto uma reunião ministerial pode ser pública, coisa tão pública quanto a pelação púbica de adolescente não muito pública.
Mas os acontecimentos nesse escalão sempre decorrem devidamente filtrados ao conhecimento público.
Ele suprimiu com esforço a vontade de mandar o gordo tomar no olho do cu, fresco e corno dos infernos e segurando tão bem quando podia a paciência, evitando a explosão e pensando no colesterol voltou--se para a assistente de imprensa.
--Alguma sugestão, Patty?
A vigorosa/enérgica solteirona parecia esperar a deixa e foi fundo.
--Toda a pesquisa chegou a resultado nenhum, pelo visto. Gastou-se tempo e dinheiro à-toa quando há instituições precisando -- lembrava-se de sua favorita, a Casa das Mães Solteiras em Nova Izaguá, subúrbio da metrópole onde nascera, aliás de mãe solteira. -- A quest]ao pode ser muito mais simples, é fazer as mães perguntarem aos filhos, a essas crianças que parecem doentes, o que está havendo e pagar mil paus pelas mil respostas que chegarem em primeiro lugar até o dia quinze.
Esquema complexo mas altamente inteligente -- quem ia saber se estava entre os mil primeiros para receber o dinheiro?
Quem mandasse além dos mil primeiros não teria a carta devolvida -- e sua resposta ia aumentar o número das primeiras.
--Ponto de vista e sugestão eminentemente sensatos -- manifestou-se o gordão super ministro, o que correspondia à fala oracular de Delfos, o que ele dissesse tornava-se lei. -- Mas, afinal, para quê queremos saber o que se passa?
A reunião ministerial encerrou-se nesse diapasão.
Providências enérgicas seriam tomadas para exame de toda a formação de professores, pedagogos e demais artífices da educação infantil, tendo em vista que haviam ocultado o fato iniludivelmente afeto à sua área -- o silêncio das crianças nas escolas.
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--Tu vai dizendo logo "cume quié", seu desgraçado, ou te sento o sarrafo, já ouviu? -- Jordelina não era mulher de meias palavras ou meias promessas, o filho sabia disso e sabia que ela estava disposta a ganhar mil pau de qualquer maneira.
--Mas, mamãezinha, eu já falei! -- e o menino se contorcia, sabia que aquilo não ia dar certo, sentia nos nervos e ossos do corpo.-- Eu já falei como é que é, você não me acredita?
Jordelina largou a esferográfica com que estava pronta a escrever no papel de carta a explicação dada pelo filho, passou a mão na vassoura e saiu atrás do moleque.
Pegou-o de rijo no canto da cozinha de porta trancada, medida preliminar para ele não escapar à rua.
Bateu até quebrar o cabo da vassoura.
Chiquinho não gritou uma vez, só chorava baixinho.
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--Veja esta aqui! -- Curialdo estendeu ao colega uma das respostas recebidas no terceiro dia de apuração e seleção. -- Não está ruim.
Acabara de ler pacientemente a caligrafia difícil da mãe semianalfabeta que se assinava Doralice.
Benzedrino tomou-a do colega e leu:
"Dr. Presidente, que esta linhas encontre o Senhor com "sahude", junto aos seu isso tudo de bom que lhe desejo.
A resposta que eu mando é dois ponto criança não grita nem faz barulho porque não tem vontade ela acha gritar e fazer barulho burrice e eu quero ganhar mil pau porque "tamos" precisando muito e "quarquel" tutu ajuda sua amiga criança obrigada. (assina)
Doralice Pinheiro Rebelo travessa Coristão Sacroluz 35 fundo vila de pina mardemaio."
A bem do fato a esmagadora maioria das respostas dizia precisamente o mesmo, em poucas palavras: as crianças não tinham vontade de gritar, nem no choro nem na brincadeira, na tristeza ou alegria.
O barulho parecia repugná-las.
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O fenômeno se espalhara pelo mundo e a julgar pelas datas/épocas aproximadas em que cada centro humano/urbano assim se modificara era de supor que precisamente a cidade de Vinerói fora a primeira do mundo onde as crianças haviam pura e simplesmente deixado de gostar de ruído, fazê-lo e ouvi-lo.
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O bar de Gonzales-Camacho, jocosamente conhecido como o Bar Ca-Gon, via-se guindado à posição um tanto incômoda de lugar célebre.
Os fregueses amigos, de cadeiras cativas, começavam a retirar-se e não mais frequentá-lo, diante da avalanche de curiosos e estudiosos de todos os tipos, nacionais e estrangeiros, que pretendiam descobrir uma pista para o fato real de que dali partira o primeiro achado/berro sobre o fato/fenômeno.
Cabeça encostada no ombro de Cordolino, Polifácio lamentava-se da vida.
--Tem um mês que aquele filho da puta não faz outra coisa, é barulho e só barulho, lá em casa! Liga o rádio a toda, a televisão berrando, o toca-discos o mais que pode! Não aguento mais, ele quer me deixar surdo e maluco!
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Em paragens outras os operadores haviam tomado as medidas necessárias para o fim da experiência com seres habitantes da superfície naquele orbe.
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Valpii 860503-801128
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O GRANDE SILÊNCIO INFANTIL
Forma parte da Coletânea
CONTRA-CONTOS, de Affonso Blacheyre, (1928-1997),
cuja biografia está publicada no RECANTO..
Trata-se do décimo nono dos contos da coletânea.
(editado por Gabriel Solis.)
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Affonso Blacheyre