Calmaria
Nos minutos seguintes à explosão da RR "Eroberer", uma estranha calmaria tomou conta da cabine da "Krasnoye Nebo", que agora seguia um curso paralelo à órbita da Terra, distanciando-se cada vez mais do planeta, e grosso modo, indo rumo ao Sol. Em seu posto, diante do monitor circular de fósforo verde do computador de bordo, a engenheira de voo Alla Afanasievna comparou posteriormente aquele momento ao instante em que liberava o dedo do gatilho do seu rifle Mosin 7.62 e via, pela mira telescópica, que o alvo - algum maldito nazista - havia sido abatido. E foi com isso em mente que quebrou o silêncio, erguendo a cabeça e virando-se para a comandante, a coronel Lisenka Nikolayevna:
- Eles não estavam esperando por essa, não é?
A comandante esboçou um sorriso e balançou negativamente a cabeça.
- Não, Alya; nem sei se tiveram tempo de entender o que estava acontecendo.
Diante do painel de controle da espaçonave, a piloto, capitã Stella Yevgenievna, ouvia com atenção a conversa, mas sentindo-se impotente por não poder mudar imediatamente o curso. As ordens eram para aguardar até que Baikonur transmitisse a manobra de correção de curso, com base na telemetria transmitida pela "Krasnoye Nebo"; no longo trajeto de ida e volta até a Lua, não era esperado - nem necessário - que a piloto tocasse nos controles, já que os procedimentos eram inteiramente automatizados. Mas se não fosse pela perícia da piloto, as três mulheres muito provavelmente não estariam agora pensando se iriam ficar à deriva no espaço, até acabar o oxigênio, ou se ainda tinham alguma possibilidade de voltar para casa com sua preciosa carga. Para quebrar a própria tensão, mudou a frequência do rádio para o canal usado pelos "Reichsraumfahrer".
- Ei! - Alertou as companheiras. - Acho que os nazis ainda não descobriram o que aconteceu... estão tentando fazer contato com a RR "Eroberer"!
- Não vai demorar para que somem dois mais dois - replicou a comandante. - Eles manobraram para se aproximar de nós, e depois... sumiram do radar e da telemetria. A qual conclusão vão chegar?
- No futuro, vão batizar essa manobra em homenagem à Stella - troçou Alla Afanasievna, sem desviar os olhos da tela do computador.
- Está preparada para ficar famosa, camarada Stella Yevgenievna? - Indagou a comandante num tom relaxado.
- Gente, acho que para o nosso próprio bem, vai ser bom que NINGUÉM saiba o que nós fizemos... na Lua e de volta - redarguiu a piloto, bem-humorada.
- Oficialmente, nós nem estamos aqui - disse Alla Afanasievna, erguendo as sobrancelhas: uma linha de código acabara de surgir no console diante dela.
- Preparem-se para a correção de curso - alertou às companheiras.
Os retrofoguetes foram acionados por um breve espaço de tempo e a "Krasnoye Nebo" girou horizontalmente sobre seu eixo, apontando o nariz de volta para a Terra. Em seguida, o motor principal foi acionado e as cosmonautas sentiram-se pressionadas contra seus assentos por um período que embora tenha parecido excessivamente longo, não durou mais de trinta segundos.
- Estamos de volta ao curso! - Anunciou exultante Alla Afanasievna, atenta ao console.
- Não corremos mais o risco de ir parar no Sol - comentou com alívio a piloto.
- E vamos ter combustível para retornar à Baikonur? - Questionou Lisenka Nikolayevna, testa franzida.
Alla Afanasievna olhou para o console e balançou negativamente a cabeça.
- Duvido que tenha sobrado combustível suficiente para permitir esse grau de precisão, comandante. Vamos nos dar por satisfeitas se conseguirmos pousar em terra firme, não no oceano.
- Se tivermos que descer nalgum ponto do Großes Deutsches Reich, todo o nosso esforço terá sido inútil - lamentou-se a piloto.
- Ninguém em Baikonur se arriscaria a corrigir a nossa rota se houvesse uma possibilidade, mínima que fosse, de que isso acontecesse - sentenciou a coronel. - Prefeririam nos deixar vagando pelo espaço até acabar o oxigênio.
Por desagradável que fosse a conclusão, todas sabiam que aquilo era essencialmente verdadeiro. Com o que estava em jogo, Moscou não pensaria duas vezes em deixar que as três morressem, e montar um grupo de resgate posteriormente, apenas para tentar salvar a carga.
- Alya, sei que você não substitui a equipe de terra em Baikonur, mas preciso que descubra as coordenadas aproximadas do nosso local de pouso - ordenou a comandante. - Imagino que se trate de algum lugar dentro da União Soviética ou ao menos no território de um dos nossos aliados. Quem sabe, na China...
- Farei o possível, comandante - prometeu a engenheira de voo, apanhando sua fiel régua de cálculo e começando a escrever equações num caderno de anotações. - Mas talvez só tenhamos a resposta quando estivermos bem perto de reentrar na atmosfera... e aí, bastará olhar pela escotilha e descobrir para onde estamos indo.
- Algum lugar onde eu possa tomar um banho quente - suspirou Stella Yevgenievna. - Não estou pedindo muito mais do que isso, atualmente...