O lance com os diamantes
- Mas, afinal, qual é o lance com os diamantes? - Indaguei a Forrester, após a partida de Jens Restorff da estação espacial de Gopasa-IV. - Imagino que possa trocar por dinheiro fora da Confederação, mas não seria mais simples receber em créditos e comprar o que quisesse diretamente, em vez de fazer escambo?
Forrester lançou-me um dos seus sorrisos confiantes.
- Sossegue, sei que está preocupado com a sua taxa de comissão... você vai receber, e não vai ser em diamantes. Vou lhe pagar em fito-serotonina, que você pode vender para quem quiser.
- OK. Certo - assenti. - Mas os diamantes...
- Não sei se percebeu, mas não firmei um contrato de exclusividade com Restorff - atalhou Forrester. - Dele, eu vou querer inicialmente uma certa quantidade de diamantes. Enquanto isso, vou vender para outros interessados e trocar por equipamentos agrícolas, robôs etc. O que eu quero é que Restorff pense que estou juntando diamantes para depois trocar por dinheiro noutro lugar, fora do Espaço Conhecido. Mas, não. Eu quero os diamantes por eles mesmos!
Franzi o cenho.
- Vai colecionar diamantes sintéticos?
Forrester fez um gesto negativo.
- Não, meu caro Vilmar Gardner: vou plantá-los!
- Agora é que não estou entendendo mais nada... por plantar, quer dizer esconder... para que ninguém ache?
- Não! - Redarguiu enfaticamente Forrester. - Plantar de plantar mesmo. Como se fossem sementes!
E foi então que me contou o resultado de suas pesquisas no planeta Laqsih, particularmente no que tangia às árvores-rhusi e suas "sementes", enormes diamantes enterrados no solo da floresta, seguindo os vértices de uma retícula imaginária sobreposta ao terreno.
- Notável - reconheci. - Mas o que raios os qyamun queriam com isso?
- Eles não foram os responsáveis por essa engenharia - explicou Forrester. - Foram os qa'thor, os "deuses", há dezenas de milhares de anos; os textos sagrados dos qyamun são vagos sobre qual seria o objetivo destes "deuses", mas tudo leva a crer que em Laqsih seria construída uma estrutura colossal, presumivelmente em escala planetária. Algo, contudo, fez os qa'thor deixar a obra inacabada, e nunca mais voltar.
- Há outros mundos-floresta espalhados por aí... - refleti.
- Todos fora do Espaço Conhecido, e creio que nenhum tão bem preservado quanto Laqsih - afirmou Forrester. - Quem quer que os tenha projetado, aparentemente nunca chegou até a parte da Galáxia que agora faz parte da Confederação.
- Portanto, - concluí - você quer continuar do ponto onde estes alienígenas misteriosos pararam... e ver o que acontece?
Forrester fez um aceno de cabeça.
- Eu acho que sei o que pode acontecer... há alguns planetas, além do Espaço Conhecido, que suspeito tenham servido como base dos qa'thor. Todos foram destruídos, aparentemente nalguma guerra interestelar ocorrida há milênios, muito antes que os primeiros mundos da Confederação desenvolvessem a viagem espacial.
- E você não tem medo de que, quem quer que tenha derrotado os qa'thor, ainda esteja por aí e venha atrás de você?
Ele deu de ombros.
- Se eu tivesse medo de consequências, não teria sequer ido ao Território Qyamun, anos atrás. As pistas que eu pretendo seguir agora, nos antigos planetas dos "deuses", podem justificar todo o investimento que fiz até agora. Não é o momento para hesitações.
Forrester estava determinado, e mesmo um mal antigo, à espreita nas profundezas do espaço, não parecia ter força suficiente para detê-lo em seu projeto de poder. Porque era disso que se tratava, como descobri não muito tempo depois.