AQUELE DIA FATAL
AQUELE DIA FATAL
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Kuwait, Terra, 10 de abril de 2014.
O sol das três da tarde caia como chumbo derretido em Kuwait, frente ao golfo pérsico.
Sem ligar para o calor, o Emir de Kuwait, Ibrahim El Faisal Sabbat dirigia velozmente seu veículo de colchão de ar pelo deserto.
Acompanhavam-lhe seus dois irmãos e seis sobrinhos armados até os dentes. Um pouco atrás, catorze veículos similares levantavam nuvens de areia, com mais parentes e seguidores, todos .
Aproximavam-se a mais de 200 kph, seguindo a prateada linha do oleoduto de um dos principais campos petrolíferos, na fronteira com o enorme cemitério calcinado do que foi o Iraque, uma nação heroica que ousou desafiar à terrível tirania assassina do governo genocida da chamada Nova Ordem Mundial.
As três e meia chegaram ao campo de prospecção e detiveram-se, descendo dos veículos e correndo a encontrar-se com os funcionários que vinham ao seu encontro, meia dúzia de árabes morenos e três norte-americanos cobertos de suor e vermelhos como camarões.
O Emir dispensou as saudações:
–Quero vê-lo! Agora mesmo!
–Sim, Alteza, por aqui – disse servilmente um árabe, indicando o caminho.
Encaminharam-se a uma negra torre de perfuração.
–Comprove Vossa Alteza mesmo.
–Para quê essa bomba?
–Era para puxá-lo quando começou a perder pressão.
–E agora?
–Funciona em seco – disse um dos norte-americanos, secando o suor da testa.
–Não sai nada? – quase gritou o Emir.
–Não, sua Alteza.
–De nenhum deles?
–De nenhum – respondeu o ocidental.
–Quer dizer que estes cinquenta e três poços estão secos?
–Estão secos; sua Alteza.
Agora, quem começou a suar foi o Emir Ibrahim El Faisal Sabbat.
Mas era um suor gelado.
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Quando aquele dia fatal; secou-se o petróleo do Kuwait o mundo ferveu em pânico.
A previsão de que o petróleo acabaria em cem anos, não se cumpriu, e os poços do oriente médio secaram.
Kuwait era um dos últimos, e em poucos anos já não haveria mais petróleo disponível. O petróleo do Iraque estava radiativo e inútil pelos próximos dez mil anos.
Desde o túmulo; os iraquianos estariam rindo dos inimigos da Raça Humana.
O mundo era um caos, fome, doenças, desemprego, revoltas populares, saques, e um descontentamento geral. As ações terroristas contra a ditadura eram diárias.
As pessoas sem esperança preferiam imolar-se, levando junto os tiranos e seus lacaios.
A contaminação era já irreversível, os alimentos da ditadura provocavam câncer e outras doenças incuráveis, deformações congênitas, retardo mental e mortes precoces.
Antártica era o único continente livre desse flagelo, mas isso significava que estava na mira do inimigo, já que produzia minério, petróleo e comida limpa para seu povo. Isso era bom demais para durar para sempre.
A guerra era iminente para o último território livre do planeta Terra.
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Desde que os antárticos conquistaram o espaço, muitas coisas aconteceram.
Estavam mais fortes, com a tecnologia alienígena e o abundante ouro marciano, que as naves traziam a cada viagem.
Este ouro foi posto em circulação em forma de moeda; o Peso Antártico, usado para transações internacionais; uma moeda forte que aumentou de valor vertiginosamente, desvalorizando a moeda do inimigo.
O Almirantado Lunar, aliado da FAECS, chegou a um acordo com Antártica, para continuar evacuando gente ainda não contaminada dos países aliados.
O governo procuraria salvar as pessoas para povoar as cidades lunares em construção e as colônias de Marte e Ceres.
Agora se abria uma nova fronteira em Júpiter, e as pessoas que recusaram a Marca, contavam com uma nova esperança.
Marcos, o Líder antártico que havia organizado a grande evacuação já contava com listagens de milhões de pessoas para desembarcar na estação de triagem e após os exames médicos de classificação seriam embarcadas para a Cidade Lunar, onde haveria uma outra triagem por profissões, número de filhos e idades, na qual alguns ficariam por lá e outros partiriam para o espaço exterior.
Grandes naves estavam sendo construídas na Cara Oculta, encouraçados, cargueiros e naves de passageiros para levar toda essa gente.
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A guarnição lunar era de quase três milhões de soldados treinados, mas não estava completa, porque ainda faltavam pilotos para os caças recém fabricados.
Foram terminadas e lançadas duas grandes naves gêmeas de passageiros e carga, a Arachânia e a Patagônia, duas cidades espaciais de incrível beleza. Tinham acomodações para cinco mil passageiros e mil e quinhentos tripulantes e estavam desarmadas.
Com a nova tecnologia de impulso, copiada da Analgopakin, podiam alcançar Marte em 20 dias na conjunção e entre 70 e 80 dias na oposição. Em breve; a nave Arachânia conquistaria vários títulos de rapidez e depois passaria à História.
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O mundo estava se dividindo em vista dos novos acontecimentos políticos e econômicos.
A Nova Ordem Mundial definia as “nações fora da lei”; como nocivas à “comunidade internacional”. Estas eram Antártica, Coréia do Norte, Líbia, Irã, Paquistão, e algumas nações africanas menores.
A China e Rússia, já eram consideradas de outra forma; “inimigos potenciais”.
Havia uma campanha de imprensa mundial, encabeçada pela JNN, para denegrir estas nações, principalmente Antártica, “nação rebelde”, que tinha armas atômicas e naves espaciais, além de clonar seres humanos e o pior de tudo: ter autonomia em energia, dinheiro e aliados neutros, como Brasil, Chile e África do Sul.
Antártica possuía uma vertente contínua de ouro marciano em abundância, pagava pontualmente suas contas, não devia para ninguém, e ainda tinha pagado as dívidas externas de Brasil, Chile e Uruguai, para poder contar com gente e recursos.
Não ter dívidas e ter pagado as dívidas de países amigos endividados era algo que não podia ser tolerado, era algo imperdoável.
Por menos do que isso já havia acontecido uma guerra mundial.
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A Nova Ordem Mundial já não sabia o que fazer para justificar uma guerra; já que o seu maior integrante, a União Europeia, não via razões para tal; sendo maioria nas chamadas “Nações Unidas”; principal instituição fantoche do governo mundial que ainda tinha algum poder teórico.
O país dominante; Estados Unidos; já tinha cometido tantas atrocidades em nome das “Nações Unidas” desde 1945; que já não se podia mais ocultá-las do povo que começava a pensar.
Para piorar tudo, existiam os chamados “terroristas”, grupos isolados que surgiram no século XX para lutar contra a opressão, e cujos mais notórios representantes eram o Esquadrão Shock de Antártica, e outro; bem maior e mais organizado; que se originara nos países islâmicos, que por acaso simpatizavam e apoiavam teoricamente a Causa Antártica.
Além do mais, os antárticos por meio da sua emissora global a RTVV, faziam terror psicológico elogiando o Esquadrão Shock e enumerando as forças antárticas equipadas com armas poderosíssimas, trazidas de Marte pela Frota Espacial Antártica.
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Ceres, Acampamento Fuchida, 10 de abril.
Zvar o sinistro, já tinha planejado sua estratégia.
Agora tinha a certeza de estar prisioneiro e devia sair dali na primeira oportunidade que se apresentasse.
Por intermédio de Ikol fez vir ao professor Patrick.
–Quê deseja Zvar?
–Quero voltar para minha câmara hibernadora. Quero dormir de novo.
–Por quê? – Pat não conseguiu dissimular sua surpresa.
–Quero paz. Não quero ser prisioneiro da forma que vocês me mantêm aqui. Talvez quando acordar de novo, acorde livre.
–Vou consultar com o governador.
–Fico esperando.
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Fuchida estava com um humor dos demônios, quando Pat entrou no gabinete.
–Coloque-o para dormir! Uma preocupação a menos! – gritou o governador.
–O quê aconteceu, senhor?
–Tudo. A guerra vai começar. Meus homens querem ir para lutar, convenceram o líder Eón para mandar uma pequena frota de apoio para defender o Japão, a frota está em pé de guerra e eu estou com dor de cabeça.
–Não intervenha, senhor. Essa guerra não é problema nosso...
–Como que não? Logo você, um antártico, disser uma barbaridade dessas?
Pat ficou vermelho de vergonha, mas conseguiu balbuciar:
–Justamente agora que estamos a nos organizar aqui...
–Você parece esquecer que todas nossas realizações foram feitas em função dessa guerra, Pat. – disse o governador com os olhos em fogo e acrescentou:
–Você não devia ter casado com a minha neta. Nem com ninguém. Alguns homens casam e ficam moles. Onde está sua convicção e seu patriotismo?
–Desculpe. O senhor tem toda a razão. Fui atacado pelo comodismo.
Fuchida pareceu se acalmar:
–Comodismo seria ter ficado lá e recebido a Marca. Está perdoado.
–Quando começou a guerra? – perguntou Pat, aliviado, mudando de assunto.
–Não começou ainda. E nem consigo comunicação com Aldo em Júpiter. Há interferência solar além de Pomona.
–Quando parte a frota?
–Quando eu ordenar.
–É muito poderio nas suas mãos senhor...
–Mas é impossível ficar neutro. Eón já liberou os seus, para ir à lua da Terra e ficar de prontidão.
Eles eram os amos aqui antes...
–Eram. Ele me deu duas naves de cabotagem para enviar soldados...
–Bem. O que tiver que acontecer que aconteça. Posso congelar Zvar?
–Sim.
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Vinte seres, entre humanos e ranianos; desceram pelo túnel pressurizado de rocha sólida até as entranhas da pirâmide escoltando Zvar, em perfeito estado de saúde.
Ao final do túnel, um raniano abriu a grande porta hermética da cripta, feita com um material muito denso que não se encontra puro neste sistema solar.
Dentro da cripta estavam os pertences de Zvar Zyszhak, ou quase todos, porque Pat tinha mandado tirar tudo o que tivesse aparência de armas.
A câmara hibernadora estava aberta, com o coletor de energia cósmica ligado, esperando pelo sinistro ancião, que sem rodeios entrou e deitou-se.
Antes que a tampa descesse; ele disse:
–Você foi amável comigo, Patrick. Por isso direi que sua esposa vai ter dois filhos gêmeos, homens, daqui a quatro frações de ciclo.
–Como sabe? – maravilhou-se o humano.
–Sei muitas coisas. Esses meninos terão um preceptor que ensinará muitas coisas que ao seu devido tempo permitirão que sobressaiam sobre os demais seres.
A tampa começou a descer.
–Esperem! – gritou Pat aos ranianos.
–Não, agora me deixe dormir. Não poderei dizer mais nada.
Dito isto, Zvar fechou os olhos, enquanto a pedra da sua testa brilhava com uma luz sinistra.
A tampa fechou-se.
Antes que o sono milenar o invadisse, Zvar concentrou-se e projetou seu espírito para fora da cripta, antes que ficasse preso com ele no sarcófago.
O que estava sendo hibernado era apenas um corpo sem alma.
Zvar agora estava livre, elevando-se no céu negro de Ceres, segurando nas suas mãos imateriais seu próprio cordão de prata, coisa nunca antes tentada por ele.
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No momento preciso em que a tampa se fechava, o raniano inferior Ikol estava tomando um banho.
Quando Ikol secava seu corpo, o espírito imaterial de Zvar desceu sobre ele e fez-se visível.
Ikol apavorou-se e retrocedeu espantado dentro da ducha.
–Não! – gritou, tomado por um pavor ancestral.
–Sim! – disse o ectoplasma com uma risada malvada.
Ikol retrocedeu até escorregar no chão molhado e cair dentro da ducha, batendo a cabeça na parede.
Ficou inerte no chão e o fantasma, ao ver que a alma do infeliz abandonava o corpo, desprendeu o cordão de prata do infeliz ser e colocou o seu próprio, introduzindo-se em seguida naquele corpo raniano e úmido; enquanto o outro espírito, o de Ikol vagava pelo espaço, agora para sempre.
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Próximo: A REUNIÃO DE CÚPULA. (já publicado)
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F1-V2-C18-P143-146
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O conto "AQUELE DIA FATAL " forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume II, capítulo 18, página 143-146; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados, sarracena.blogspot.com.
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1.
Gabriel Solís.