Os diamantes de Forrester
Jens Restorff e Forrester trocaram um aperto de mãos.
- Material de primeira qualidade! - Aprovou Restorff, obviamente satisfeito. - Tenho que agradecer ao Vilmar por ter me colocado em contato consigo.
Sorri, acatando o agradecimento.
- Sabia que vocês tinham interesses complementares - afirmei. - E Forrester realmente se interessa por engenharia florestal... aliás, é a área de formação dele.
A conversa transcorria no mesmo bar da estação espacial em órbita de Gopasa-IV, onde meses antes eu havia tomado conhecimento do que Forrester andara fazendo nos anos que passara no Território Qyamun. Não exatamente pesquisa científica, como ele mesmo admitia.
- Numa outra realidade, eu poderia ter sido um grande cientista, - declarou sem modéstia - mas nesta, prefiro me dedicar a produzir e vender a melhor fito-serotonina do Espaço Conhecido.
- Vilmar me disse que você criou seu próprio viveiro de mudas e que tem intenções de expandir o negócio - disse Restorff, tão logo o robô-garçom serviu as bebidas.
- Precisamente - assentiu Forrester, copo na mão. - E Vilmar também me disse que você era o homem que poderia me ajudar nesta expansão.
- Sim, eu tenho bons contatos, além de capital para investimento; desde que possa me garantir um fluxo constante do material que me enviou - especificou Restorff. - O problema de ter que lidar com contrabandistas - e não estou lhe incluindo nesse grupo - é que volta e meia eles são pegos pelos delegados da Confederação, e isso atrapalha muito o meu fluxo de vendas. Mas com você, segundo me informou o Vilmar, não corro esse risco, não é?
Forrester o encarou de modo confiante, enquanto tomava um gole de bebida.
- Realmente, não sou um contrabandista, Restorff. Não pouso minha nave num mundo-floresta interdito e saio de lá correndo, com a polícia atirando no meu encalço. Não, tenho meu próprio empreendimento, num planeta fora dos limites do Espaço Conhecido. Os delegados não sabem meu endereço, para vir bater na minha porta; e mesmo que soubessem, me tornei um pesquisador reconhecido pelo meu trabalho junto aos qyamun. Se eu precisar de referências, pode estar certo, eles me darão com satisfação.
- E se perguntarem por que não vem fazer suas pesquisas científicas dentro da Confederação, já que está agindo dentro da lei? - Questionou Restorff, sobrolhos erguidos.
Forrester já tinha a resposta na ponta da língua:
- Porque somente a mim foram confiados os segredos do mundo-floresta de Laqsih... - afirmou convicto. - Em contrapartida, tive que me comprometer formalmente com seus guardiões, a jamais compartilhar minhas descobertas com quem não fosse qyamun. Contudo eles não se opuseram a que eu comercializasse os resultados obtidos... ou seja, a fito-serotonina, pois preciso bancar as pesquisas de alguma forma. Mas todo o meu trabalho deve ser desenvolvido fora do Espaço Conhecido, pois os qyamun temem que a Confederação possa tentar tirar proveito das minhas descobertas, ou mesmo interferir no território deles para se apossar de algum recurso que percebam ser valioso.
- Notável! - Admirou-se Restorff. - Nunca conheci alguém que tivesse tamanho envolvimento com a cultura qyamun. Eles realmente CONFIAM em você, não é?
- Confiam porque sabem que não tenho nenhum interesse em falhar com o nosso acordo - admitiu Forrester. - Há muita coisa sobre Laqsih que os próprios qyamun desconhecem, e sua abordagem para o mundo-floresta sempre foi religiosa, não científica. Eles também esperam que eu possa lhes dar algumas respostas práticas.
- Isso também, por si só, é notável - observou Restorff, após secar seu copo e fazer um sinal para o robô trazer outra bebida. - Religiosos buscando explicações científicas para as suas crenças?
Forrester sorriu condescendentemente.
- Talvez, nesse aspecto em particular, os qyamun sejam mais inteligentes do que nós, não acha?
Restorff estreitou os olhos.
- Ou talvez saibam de algo que não tenham lhe contado e só estão esperando que descubra e confirme para eles - ponderou. - Desculpe Forrester, mas toda essa generosidade dos qyamun para com um alienígena que deveria ser objeto de desconfiança, nunca lhe despertou suspeitas?
Desviei o olhar de Restorff para Forrester e este me pareceu incomodado pela primeira vez. Restorff, certamente, fazia perguntas demais.
- Os qyamun certamente não estão interessados no nosso dinheiro - intervim. - Se o nosso bom doutor Forrester pode lhes dar algumas respostas para suas dúvidas existenciais, porque isso deveria nos causar estranheza?
Restorff deu de ombros.
- Bom, certamente não sou eu quem tem que arcar com o ônus de montar uma operação de extração de fito-serotonina fora do Espaço Conhecido - admitiu. - Vilmar me deu garantias de que você é capaz de manter o fluxo de entregas e estou disposto a dar um voto de confiança a ambos. Como deseja ser pago? Imagino que o nosso dinheiro não será de grande valia fora da Confederação...
Forrester voltou a sorrir, nitidamente aliviado pela mudança de rumo da conversa.
- Ah, sim; ainda tenho que lhe passar as especificações...
Retirou um cartão de dados de um bolso do casaco, o qual passou para Restorff.
- O pagamento deverá ser feito em diamantes sintéticos, mas não quaisquer diamantes: o tamanho, o índice de refração, a cor, e a quantidade de facetas de cada um, estão descritos no arquivo que lhe entreguei.
E enquanto Restorff tomava um longo gole da bebida que o robô lhe trouxera, Forrester acrescentou:
- Você vai ver tudo depois, com calma, mas só para adiantar: cada diamante tem cerca de 20 cm de diâmetro.
Restorff ergueu os sobrolhos, mas continuou a beber.