A Noite dos Góticos

[História anterior: "Operações secretas"]

Noite, Cidade Inferior, imediações da nova "fábrica de tubulações" de Joh Fredersen. Numa esquina, dois policiais conversam dentro de uma viatura estacionada com as luzes apagadas, tentando matar o tempo.

- Mas afinal, o que estamos fazendo aqui à essa hora da noite, nesse ermo do Distrito Industrial? - Questionou pela enésima vez o policial Timo.

- Cumprindo ordens - respondeu mais uma vez com voz cansada o motorista, Harri.

- Uma "denúncia", foi o que disseram na Central? - Timo estava incrédulo. - Que os Góticos estavam planejando invadir e tocar fogo na tal fábrica de tubos?

Harri deu de ombros.

- Não importa que não tenha sido uma denúncia, mas ordens diretas lá de cima: temos que cumprir - replicou, apontando para o teto do veículo, e acima dele, os gigantescos arranha-céus de Metropolis, que mergulhavam a Cidade Inferior numa obscuridade quase permanente. Ali vivia a casta dominante que controlava a megalópole, e no topo dela, Joh Fredersen, o inconteste Mestre da Cidade.

- E alguém imagina que uma única viatura com dois homens vai parar os Góticos, se resolverem mesmo atacar? - Insistiu Timo.

- Ninguém vai bancar o herói - redarguiu Harri. - Se eles vierem... o que eu duvido... ficamos aqui e pedimos reforços à Central.

Mais meia hora se passou sem qualquer movimento, de homem, animal ou máquina, e Harri já estava cogitando em sair da viatura para ir urinar atrás de uma árvore, quando ouviu o som de um motor vindo da avenida em frente.

- Um caminhão... - Timo ergueu a cabeça, como que para ouvir melhor. - Talvez dois. Eles fazem entregas tão tarde assim aqui?

- Creio que não são entregas - replicou Harri, ligando o motor da viatura mas mantendo as luzes apagadas.

Não precisaram esperar muito. A cerca de 100 metros, na avenida principal, dois caminhões-tanque de combustível passaram em baixa velocidade. Não despertariam a atenção em lugar algum, não fosse pelo fato de que sobre cada um deles, amontoavam-se homens vestidos de preto, rostos cobertos por capuzes e máscaras, empunhando barras de ferro. A comitiva passou sem que a presença da viatura fosse percebida.

- E não é que os Góticos vieram mesmo... - murmurou Timo.

- Parece que a denúncia era correta - respondeu Harri, retirando o fone do rádio comunicador no painel da viatura. Apertou um botão e falou:

- Central, fala Zwillinge-4-6. Acabamos de ver os dois caminhões de benzina roubados, com vários Góticos em cima deles, rumando para o norte pela avenida Piet Wellmann.

Som de estática, e em seguida, uma resposta enfática:

- Zwillinge-4-6, suas ordens são para seguir o comboio, à distância. Não tente engajar.

- Confirmado - respondeu Harri, recolocando o fone no gancho e dirigindo cuidadosamente a viatura para acessar a viatura principal, luzes ainda apagadas.

- Ainda bem que não nos mandaram dar ordem de prisão aos vagabundos - comentou Timo.

- Creio que iríamos ter problemas se tentássemos fazer isso - avaliou Harri, mantendo uma distância prudente das luzes traseiras dos caminhões que iam já quase no fim da avenida.

Finalmente, os caminhões dobraram numa rua que levava diretamente à entrada da suposta fábrica de tubulações, e Harri parou a viatura na esquina. Os policiais observaram enquanto os Góticos desembarcavam e se aglomeravam em frente aos portões da empresa, barras de ferro em punho.

- Desconfio que não vão fazer um protesto pacífico - ponderou Timo.

- Hora de pedir reforços - redarguiu Harri, ligando novamente o rádio comunicador.

- Central... - começou ele a dizer, quando um tijolo acertou com toda a força o vidro do lado do carona.

Foi só então que percebeu que, saindo aparentemente das trevas ao redor, um grupo de Góticos encapuzados havia cercado o veículo. Um deles segurava um bidão de combustível, e outro, uma tocha. As intenções do grupo eram mais do que claras. Harri engatou uma ré e pisou no acelerador, afugentando os agressores. Enquanto ele dirigia, Timo apanhou o fone que havia caído no piso da viatura, e exclamou:

- Central, fala Zwillinge-4-6! Precisamos de reforços na fábrica de tubulações!

[Continua em "O Levante dos Góticos"]