Cortesia de Sith

[Continuação de "Palavra de Sith"]

Quando Tarja Durgen recuperou a consciência, descobriu-se deitado num leito confortável, num quarto que não era grande, mas que estava decorado de maneira suntuosa. Sentou-se aturdido, sem saber como chegara ali; há apenas alguns instantes, até onde podia recordar, estava dentro de uma câmara revestida de cristal qixoni no inóspito planeta Palateli, e agora...

Pelas amplas janelas abertas do quarto, podia ver um céu pálido, dominado pelo quarto crescente rajado do que imaginou fosse um planeta gasoso. Isso, mais a decoração nos vasos dentro do quarto lhe fizeram deduzir onde estava agora: Alikar, o mítico mundo controlado pelo mestre sith Darth Beith!

A porta do quarto entreabriu-se e nela vislumbrou uma jovem de pele púrpura e cabelos negros lisos, usando um vestido açafrão que parecia flutuar ao redor do corpo dela, e muitas pulseiras de cobre, que tilintavam. Sorriu, ao ver a expressão de perplexidade no rosto do jedi.

- Vou avisar ao mestre que despertou - ela disse em galático básico arcaico, antes de fechar novamente a porta.

O mestre, imaginou Durgen, só poderia ser o seu algoz, Darth Beith. Olhou ao redor e viu seu sabre de luz sobre uma estante baixa próxima. Ninguém parecera se importar que mantivesse a arma, o que definitivamente era um mau sinal. O simples fato de que cruzara milhares de anos-luz de espaço-tempo através do que imaginava ser uma câmara de teletransporte energizada com kyberita, já dava uma ideia do poderio acumulado pelo sith. Sua situação era complicada para dizer o mínimo, concluiu.

- Mestre Durgen! Folgo que tenha vindo se unir a mim! - Ouviu uma voz ecoar em sua mente. Desta vez, não estava falando com um holograma, mas com o próprio sith, que não devia estar muito longe dali.

- Não vim me unir a você, apenas caí na sua armadilha - retrucou mentalmente Durgen com azedume.

- Em breve, verá que sua presença aqui não é um acidente, e quando compreender o que poderemos construir juntos, não tenho dúvida de que aceitará meus termos - disse a voz, antes de romper o elo mental.

- Jamais! - Exclamou verbalmente Durgen, no quarto vazio.

Saiu da cama e colocou o sabre de luz no cinto. Em seguida, abriu cautelosamente a porta do quarto, que sequer estava trancada, e viu-se diante de um corredor de paredes de pedra, iluminado por projetores de luz amarelada que imitavam archotes. Ao dobrar uma esquina, constatou que duas alikarianas de pele púrpura e vestidos cor de açafrão vinham em sua direção, e não pareceram nem remotamente intimidadas pelo surgimento do jedi. O mais preocupante, pensou ele, é que não conseguira detectar a presença delas através da Força.

- Mestre Durgen, - disse a jovem que estivera em seu quarto momentos antes, erguendo a mão direita num gesto de paz - viemos levá-lo para o jantar de apresentação.

- Jantar de apresentação? - Questionou o jedi, testa franzida. - É algum tipo de homenagem? Não sou um prisioneiro de Darth Beith?

As jovens entreolharam-se e riram.

- O senhor é um hóspede de mestre Beith - disse a segunda alikariana, mais velha do que a primeira e com argolas de cobre pendendo das orelhas, em vez de braceletes. - Ele estava esperando a sua chegada, e nos disse para lhe dar o tratamento adequado.

Nenhuma indicação da Força sobre o que seria esse "tratamento adequado", constatou. Era como se estivesse novamente diante de hologramas, embora a presença das mulheres ali fosse bastante real.

- Nada sei sobre as intenções de Darth Beith, mas vocês definitivamente não se enquadram na categoria de ameaça - ponderou o jedi, abrindo as mãos como se reconhecesse sua impotência. - Me levem ao tal jantar, então...

- Queira nos seguir - disse a alikariana mais jovem.

Não precisaram caminhar por muito tempo. O corredor abriu-se num grande salão, dominada por uma imensa mesa coberta por iguarias exóticas e coloridas. Ao redor dela, em cadeiras de espaldar alto, estavam sentados alikarianos ricamente trajados, que ergueram-se à entrada do jedi. E, na cabeceira da mesa, um vulto escuro, que parecia sugar a luz do ambiente: Darth Beith.

- Bem-vindo ao meu humilde refúgio - saudou-o o sith sem erguer-se, indicando uma cadeira vazia na cabeceira diametralmente oposta a ele.

- O que quer de mim? - Questionou o jedi em tom desafiador, controlando-se para não ativar o sabre de luz.

- Nada demais - assegurou o sith de modo calmo. - Apenas que se sente à mesa e aprecie da hospitalidade dos meus bons amigos alikarianos.

Os nativos não pareciam incomodados com a presença do jedi ali, e ele não conseguia captar nada deles usando a Força. Era como se Darth Beith os estivesse blindando das suas tentativas de leitura; se não fosse isso, então era algo bem mais complicado, concluiu, antes de se dar por vencido e sentar-se no lugar de honra em frente ao sith na cabeceira oposta.

Darth Beith ergueu uma taça que parecia de ouro, e proclamou em tom solene:

- Um brinde ao mestre Tarja Durgen, que veio para nos liderar no caminho da glória!

Com um rugido de aprovação, os alikarianos ergueram as suas taças, olhos fixos no jedi. Para não parecer rude, ele tomou a taça diante de si e levantando-se, respondeu como provocação:

- Pela libertação de Alikar!

Doze metros distante dele, o sith comentou em tom irônico:

- Mas é justamente por isso que você está aqui, meu caro.

E bebeu da taça, gesto no qual foi seguido por todos os demais presentes antes de se sentarem, Durgen incluso e a contragosto.