A Última Arca - portal dimensional

A Última Arca

O Sol, outrora uma fonte de vida, mutara em um monstro cósmico. Erupções solares titânicas castigavam a Terra, desencadeando maremotos que varriam cidades inteiras. A atmosfera, contaminada e rarefeita, tornava a respiração um ato de resistência. A Arca, uma colossal estrutura subterrânea, abrigava os últimos remanescentes da humanidade.

Entre eles, estava Anya, uma brilhante cientista especializada em mecânica quântica. Diante do apocalipse iminente, Anya dedicou-se incansavelmente a uma única missão: encontrar uma saída para a humanidade. Após anos de pesquisa, ela conseguiu. Uma equação complexa, rabiscada em um quadro negro, continha a chave para um feito antes considerado impossível: a teleporteção interdimensional.

A teoria de Anya propunha a existência de um multiverso, onde realidades paralelas coexistiam. Uma dessas realidades, calculava ela, seria livre das catástrofes que assolavam a Terra. Com a ajuda de engenheiros e astrônomos, Anya construiu um portal quântico capaz de teletransportar seres vivos para outra dimensão.

A evacuação da Arca foi um processo lento e meticuloso. Milhares de pessoas foram teleportadas uma a uma, desaparecendo em um flash de luz. A esperança pairava no ar, mas a alegria da nova vida era ofuscada pela tristeza da despedida. A Terra, o berço da humanidade, era abandonada para sempre.

Anya foi a última a entrar no portal. Ao cruzar para a outra dimensão, sentiu uma sensação de leveza e desorientação. Abriu os olhos e se viu em um campo verdejante, sob um céu azul e límpido. A nova realidade era um paraíso. Mas a felicidade durou pouco.

A estabilidade do portal quântico era frágil. As leis da física da nova dimensão eram desconhecidas e imprevisíveis. Poucos dias após a chegada dos refugiados, o portal colapsou, isolando-os para sempre. A humanidade havia escapado da destruição, mas encontrara um novo tipo de prisão: a solidão cósmica.

Anya, a salvadora da humanidade, tornou-se a testemunha de um fracasso épico. A esperança que a impulsionara havia se transformado em um fardo insuportável. Em meio à vastidão desconhecida, a cientista contemplou as estrelas, questionando a natureza da existência e o propósito da vida. A última Arca da humanidade havia encontrado seu destino final, não em meio às chamas da destruição, mas na imensidão fria e silenciosa do espaço.