Frau vom Mond

[Continuação de "Bombshell"]

O casal acordou sobressaltado, com batidas na porta do quarto. Fazia praticamente um mês que os alemães haviam parado com sua estratégia de bombardear Londres à noite, e desde então tudo estivera relativamente tranquilo. Tão tranquilo que nenhum dos dois ouvira soar as sirenes de alarme antiaéreo.

- O que foi agora... - estremunhou a mulher, virando-se para o lado onde dormia o marido. Mas ele já estava sentado ma cama, e estendera a mão para pegar um robe estendido sobre uma cadeira estofada ao lado.

- Já vamos! Estou acordado! - Gritou ele irritado.

Sem outra opção, a esposa também girou o corpo e sentou-se, tateando na obscuridade do aposento pelo robe de seda, para jogar sobre a camisola.

Devidamente compostos, marido à frente, este abriu a porta e deparou-se com um ajudante de ordens, entre nervoso e intimidado pelo homem diante dele.

- Peço perdão por interromper o seu repouso, mas aconteceu algo que o senhor precisa tomar conhecimento imediato - disse o oficial sem mais delongas.

O interpelado virou-se para a mulher e disse, num tom tranquilizador:

- Volte pra cama, Clementine. É assunto oficial.

A esposa suspirou, mas fez um aceno de cabeça. Enquanto isso, o marido e o ajudante de ordens saíam pelo corredor afora, rumo à sala de situação da residência oficial.

- Não ouvi sirenes... não foi um ataque aéreo, imagino - disse em tom retórico para o militar.

- Não senhor... quer dizer... ainda não sabemos ao certo. Algo pousou na base aérea de Boscombe Down.

- Que espécie de "algo"? Um desertor alemão? Outro Rudolf Hess?

- Não senhor... não foi um avião dos nazistas. Foi bem... - o militar procurou palavras para exprimir o inexplicável. - Algum tipo de foguete tripulado... como os... o senhor já deve ter ouvido falar...

- Desembuche, homem! - Irritou-se o interlocutor.

- Nos filmes de "Flash Gordon" - disse finalmente o militar, olhando para o chão.

Antes que outra pergunta fosse feita, chegaram à sala de situação, que, mesmo naquela hora da madrugada, estava com sua equipe completa, gente da inteligência, do serviço secreto, militares e datilógrafas. Todos começaram a se levantar quando os dois homens entraram, mas o dignitário interrompeu a ação com um gesto de mão.

- Sentem-se! O que houve em Boscombe Down? Não é o local onde são testados os protótipos?

- Isso mesmo, senhor - confirmou o major Henry Voce, oficial a serviço da contrainteligência. - O comandante local, capitão Trevorrow, ligou para cá faz trinta minutos, fazendo um relato em primeira mão do acontecido.

O dignitário virou-se brevemente para o ajudante de ordens.

- O major Hunt estava me dizendo algo sobre... um foguete de seriado de "Flash Gordon". É isso mesmo, Voce?

Voce aprumou-se na cadeira, antes de responder, como se a menção o diminuísse.

- Bem, senhor... ainda não temos registros fotográficos do que está lá, - admitiu - mas segundo Trevorrow, trata-se de algum tipo de veículo aéreo, sem marcas de identificação, e diferente de tudo o que sabemos que os nazistas ou mesmo os americanos possuem. Teoricamente poderia ser mesmo um foguete, pois veio direto do espaço sideral e só foi detectado quando já estava descendo sobre a base.

- Vindo do espaço sideral... - o dignitário cruzou os braços, sobrolhos erguidos. - E esse suposto veículo espacial é tripulado?

- Sim... e isto é o mais notável: de dentro dele, saiu uma mulher, usando uma espécie de traje protetor prateado. E ela falou com Trevorrow, e todos os que estavam à volta dele, ouviram a mesma coisa: "eu venho em paz".

- Paz é algo de que estamos urgentemente necessitados, Voce. Mas sabe o que também me lembra uma mulher, descendo de um foguete?

Diante das expressões de expectativa dos presentes, ele completou:

- Outro filme, só que este alemão, dos anos 20: "Frau Im Mond". "A Garota na Lua", creio que foi o título que deram na distribuição internacional.

E, mãos nas costas, aproximou-se de um grande mapa da Europa que ocupava toda uma parede, marcado com alfinetes coloridos.

- Com tanto espaço livre na Inglaterra, precisamos saber porque ela escolheu precisamente pousar em Boscombe Down; temos que ter certeza de que não se trata de um truque esperto dos nazistas - concluiu.

[Continua]