Bombshell

[Continuação de "A incógnita celeste"]

Amesbury, sul da Inglaterra, verão de 1941.

As sirenes antiaéreas soaram no meio da noite, na base da RAF em Boscombe Down. Mas antes mesmo que os pilotos chegassem aos seus aviões de combate, os alto-falantes ao redor do campo de pouso trouxeram uma informação surpreendente:

- Atenção: o radar detectou um objeto desconhecido descendo verticalmente sobre esta base com velocidade controlada. Repito: velocidade controlada.

Os pilotos, parados à beira da pista de pouso gramada, olhavam para o céu escuro, parcialmente nublado, tentando entender o que seria "velocidade controlada" e qual seria a natureza do objeto desconhecido. Não tiveram que esperar muito. Um brilho avermelhado surgiu entre as nuvens, seguido de um rugido constante. O que quer que fosse, lembrava um cone truncado metálico, com três estruturas metálicas ao redor da parte inferior, como que para suportar o objeto quando pousado. O ruído vinha do que pareciam ser foguetes na base do cone, que disparavam para reduzir a velocidade.

- É algum tipo de bomba nazista teleguiada? - Indagou o mecânico Bird para Lewis Mitchell, um piloto que estava ao seu lado.

- Se fosse uma bomba, não precisaria desacelerar - replicou Mitchell, mão em pala sobre os olhos. Os refletores do aeródromo estavam voltados para o objeto, e acompanhavam sua descida rumo a um ponto nos limites do campo de pouso. Jipes com soldados armados começaram a se deslocar para lá, em grande velocidade, e o pessoal do campo também seguiu na mesma direção, mesmo que essa não fosse em verdade uma boa ideia: ninguém sabia se o tal aparelho não-identificado simplesmente não iria explodir ao tocar o solo.

Finalmente, levantando uma nuvem de poeira, o cone truncado pousou sobre seus trens de aterrissagem, sendo cercado de uma distância considerada segura por soldados empunhando fuzis, e até mesmo por um jipe, com uma metralhadora Vickers montada no capô. O silêncio que se seguiu, após os foguetes terem sido desligados, foi tão completo que era possível ouvir até mesmo os grilos cantando na noite de verão. O comandante do campo de pouso, capitão Raymond Trevorrow, chegou pouco depois, a bordo de outro jipe que parou atrás do círculo defensivo.

- Sargento Crayford! - Gritou o capitão, encaminhando-se para o jipe com a Vickers no capô.

- Senhor? - Respondeu o interpelado, erguendo-se do assento do carona.

- O que temos aqui? - Questionou Trevorrow, indicando com exasperação o cone metálico, de cerca de três metros de altura por quatro metros de diâmetro, placidamente pousado a trinta metros de distância, no meio de um círculo de vegetação queimada e fumegante.

- Difícil dizer, senhor... nunca vi nada parecido - admitiu Crayford. - Parece ser algum tipo de veículo aéreo, tripulado ou controlado à distância.

- Nenhuma marca de procedência? - O capitão encarou o cone com os olhos semicerrados, por causa do brilho dos holofotes sobre o metal polido.

- Nada. Nenhuma inscrição, nenhum símbolo. Não chegamos muito perto, todavia. Pode ser que consigamos descobrir, se abrirmos e vermos o que tem lá dentro.

- Não vamos nos arriscar a fazer isso aqui, dentro da base aérea - replicou Trevorrow. - Pode conter explosivos ou coisa pior.

- Naturalmente, senhor - aduziu Crayford. - Eu vou solicitar um caminhão-guindaste para remover o objeto, e aí levamos para algum lugar isolado, longe da cidade.

- Certo. Eu...

O capitão parou de falar porque um som viera do cone. Um rangido. Em seguida, a origem do ruído tornou-se nítida: uma seção retangular no casco do objeto havia se destacado e começou a baixar como que para prover uma rampa de desembarque. Os soldados que ainda não o haviam feito, imediatamente ergueram as armas, apontando-as para a abertura escura que lentamente se formava.

- Será que vai aparecer uma criatura hedionda, cheia de tentáculos, como n'"A Guerra dos Mundos"? - Murmurou o mecânico Bird, que acompanhara o piloto Mitchell até o local do pouso.

- Marcianos não existem - resmungou o piloto, mas mantendo a mão na coronha da arma de serviço.

A espera tensa não foi longa: quando a rampa tocou o solo enegrecido, uma luz brilhante tomou a abertura no casco. Contra ela, delineou-se uma figura nitidamente humanoide, vestida com uma espécie de macacão prateado largo. Sobre a cabeça, um capacete fechado, com a parte da frente lembrando vidro negro polido.

- É um habitante de outro planeta! - Exclamou Bird, entusiasmado.

O capitão virou-se para ele, cenho franzido, e o mecânico calou-se imediatamente.

O vulto, ainda imóvel contra a luz azulada, ergueu vagarosamente a mão direita espalmada, como que em saudação. Os soldados entreolharam-se, sem saber o que fazer, mas Trevorrow deu um passo à frente do círculo defensivo e emulou o gesto.

- Não podem pensar que somos selvagens - declarou para si mesmo, e aguardou.

A figura ergueu o outro braço, e usando as duas mãos, começou a soltar o engate que ligava o capacete ao traje. Houve um instante de suspense, até que o seu rosto fosse revelado para os homens atônitos.

- Não pode ser... - murmurou Trevorrow, dando um passo para trás. - Não pode ser...

Com o capacete sob o braço esquerdo, a figura emoldurada em luz ergueu novamente o braço direito e pronunciou em alto e bom som, com um sotaque nitidamente do sul dos Estados Unidos da América:

- Eu venho em paz.

- [Continua em "Frau vom Mond"]