A Convenção dos Viajantes do Tempo

O grêmio estudantil havia conseguido convencer a direção da universidade a ceder um salão para o evento: os organizadores o haviam denominado como uma "experiência sociológica" (embora a maioria dos seus integrantes fosse de Exatas). Quando entrei, já havia um bom número de estudantes aglomerado por ali, a imensa maioria do sexo masculino, em grupinhos ou circulando pelo ambiente com copos de cerveja na mão; sim, havia cerveja à venda, mas apenas "Texas Select", sem álcool, como ressaltaram os organizadores. "Não queremos que alguém beba e comece a ver coisas que não existem", havia assegurado solenemente o idealizador do encontro, Danny McGee, um terceiranista de física nuclear. Embora, na verdade, o objetivo do encontro fosse justamente ver coisas que não deveriam existir. Ou, mais precisamente: algo que não deveria estar ali.

- Olá! - Acenei, quando todas as atenções se voltaram para mim. - Conseguem me ouvir bem?

- Alto e claro - respondeu o citado Danny McGee, aproximando-se de mim acompanhado por um grupo de rapazes, todos com copos de papel na mão. Estendeu-me a mão.

- Eu sou...

- Danny McGee, claro - repliquei, apertando a mão dele com a minha, enluvada. E apontando para os demais membros do grupo:

- Fernando Medina, Bob Young, Fred Briggs e Ian McCarty. Briggs está com um corte de cabelo diferente da foto que eu vi no anuário.

Os rapazes entreolharam-se, entre a surpresa e a desconfiança.

- Quem é você? - Inquiriu McGee.

- Vocês podem me chamar de Ted Garrett.

- E como sabe tanto sobre nós, Garrett? - Briggs me encarou de braços cruzados.

Abri as mãos enluvadas, como se a resposta fosse óbvia.

- Vocês organizaram esse encontro e não imaginavam que alguém de fora fosse vir?

McCarty aproximou-se e me olhou de cima a baixo.

- Não sei se ele é quem diz, mas pegou o espírito da festa, Danny. Esse traje parece de verdade!

- Posso lhes garantir que funciona perfeitamente - repliquei.

- Por que precisa de um traje espacial, se aparentemente é um humano como nós? - Questionou Medina.

- Para não correr o risco de causar algum tipo de interferência no ambiente e gerar um efeito borboleta desastroso - expliquei. - Só decidimos fazer a experiência porque ela já havia sido documentada historicamente...

Uma das garotas aproximou-se com uma Polaroid e a apontou para o nosso grupo. Pus as mãos na cintura, numa pose de super-herói.

- Meu melhor ângulo, Caitlin - alertei, enquanto ela disparava o flash.

- Ele conhece a Caitlin - murmurou Medina.

- Parece que conhece todo mundo aqui - determinou McGee. - Então, a minha ideia deu certo?

- Eu sou a melhor prova disso - afirmei, examinando a foto que Caitlin me estendera, após sacudi-la no ar para que a imagem aparecesse.

Era a mesma foto que me haviam mostrado no Instituto de Cronotaxia, e que me fizera compreender que eu era parte da História. Ao menos, da história da I Primeira Convenção dos Viajantes do Tempo, na qual eu fora um participante ilustre.

Devolvi a foto e despedi-me dos rapazes. Afinal, meu tempo ali era limitado, e o melhor que eu faria era me retirar, antes que começassem inevitavelmente a me perguntar sobre acontecimentos futuros ou os números do prêmio acumulado da loteria estadual...