A Saga de Godofredo III – Saudades

17.07.25

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Godofredo e seu avô embarcaram no Bristol na manhã seguinte. Não conseguiu se despedir de Frau Laura, ficou chateado e ao mesmo tempo aliviado. Então, escutou em seu cérebro a voz da sua mulher, Janice, fazendo novo contato:

-Oi querido, você me escuta bem? Vejo que está na amurada de um navio, certo? Aonde é?

-Estamos em um navio chamado Bristol partindo de Nova Iorque para a rota asiática. Querida, como você está? E as crianças? Quando eu volto? Tenho muitas saudades!

No quarto da UTI, em que ele estava sendo acompanhado, o telão mostrava a imagem de um navio saindo do porto, identificado pela imponente vista da estátua da Liberdade. O dia estava claro e limpo.

As pessoas na sala ficaram boquiabertas com o que viam, pois eram imagens do começo do século 20, uma volta ao passado. Janice, feliz em poder manter contato com o marido, continuou a conversa:

-Conte-nos o que aconteceu até agora?

Ao mesmo tempo, ouviu a voz do seu avô e voltou seu olhar para ele, e mentalmente disse à esposa:

-Veja meu futuro avô -mostrando a imagem de um homem alto e esguio, de cabelos loiros como espiga de milho e olhos azuis cristalinos caminhando sorrindo em sua direção.

-Bom dia meu caro amigo Gotffried, vamos tomar café? – falou em inglês, com forte sotaque alemão.

Janice se emocionou ao ver o avô que seu marido nunca conheceria, e feliz ao mesmo tempo por ele estar tendo, com ele, essa maravilhosa aventura cerebral. Os médicos em silêncio e pasmos, acompanhavam curiosos.

O cirurgião neurologista, olhava fixamente à tela e escutava com incredulidade o que acontecia na mente do seu paciente – uma maravilha da tecnologia, desenvolvida pela mulher de Godofredo e sua equipe. Então, disse com entusiasmo:

-Janice, o que você desenvolveu irá revolucionar o acompanhamento médico do até hoje inacessível cérebro humano. Estou petrificado e maravilhado com tudo o que vejo e escuto. Parabéns! – batendo palmas, acompanhado por todos na sala.

Godofredo respondeu ao avô:

-Sim, vamos sim!

Seu avô, vendo que ele estava desanimando, e Godofredo sabia que ele iria perguntar sobre Frau Laura, ficou ansioso e preocupado, pois sua esposa estava acompanhando o que acontecia. Não queria que ela soubesse sobre a moça, mesmo que não tenha tido nenhum desfecho mais íntimo, mas que poderia causar problemas de ciúmes, mesmo sendo situações desenvolvidas na memória primordial do seu DNA. Ele simulou dor de cabeça, colocando as mãos nas têmporas.

-Paul, estou com uma forte dor de cabeça, acho que é enxaqueca. Vou até a cabine descansar um pouco. Poderia avisar ao capitão do meu estado e daqui meia hora estarei recomposto no salão das refeições?

-Sim, claro! Quer que o acompanhe?

-Não, não precisa. Tenho que ficar em local escuro. Obrigado! - caminhando em direção ao corredor do deck em que estava a cabine.

Janice acompanhou toda a conversa e perguntou:

-Querido, está novamente com dores de cabeça? Ajustei os algoritmos pra que não viessem a causar as dores.

-Sim querida, estou com enxaqueca. Acho que vai precisar mais ajustes. Vou me deitar no escuro.

-Querido, vou desconectar o sistema e você deve melhorar. Estou muito feliz em poder estar mantendo contato e saber que está tudo bem. Passamos sustos nos seus duelos e na guilhotina. Beijo, e te amo! – disse ao marido, dando o comando para saída do programa. A tela no quarto da UTI ficou escura e sem som.

Godofredo suspirou aliviado. Cons., que acompanhou tudo, disse mentalmente:

-Se safou de boa, hein? Imagine se ela souber do seu caso com a Mira, o filho, e com a Juliette? Ela te largaria imediatamente, mesmo sendo tudo produzido em sua memória primordial, e registrados e armazenados em seus cromossomos ao longo de todos esses séculos.

-Sim! Fingi a dor de cabeça para que meu avô não tocasse no assunto. Mas, estou com muitas saudades da minha vida real. Está sendo maravilhoso este contato com ele, pois não o conheci de fato, mas gostaria muito de estar lúcido, e recuperado, com minha mulher e meus filhos.

-Aguarde mais um pouco, pois irá presenciar o encontro dos seus avós maternos que resultará no nascimento da sua mãe. Você não poderá encontrá-la de forma alguma, certo?

-Sim, certo! Vou ficar aqui deitado mais um pouco – visualizando em seu cérebro a sua esposa e seus filhos em um carro indo para a praia, todos alegres e felizes. Saudades....

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 16/07/2024
Reeditado em 18/07/2024
Código do texto: T8108258
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