A Saga de Godofredo III – A Caçada ao Saphira

26.06.25

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Atracaram o Liverpool no cais do estaleiro, para a execução dos reparos no costado do casco danificado. Um enorme rombo nas placas de aço, causado pelo abalroamento do Hamburg, seria restaurado em uma semana.

Godofredo, seu avô e a tripulação ficariam aguardando na cidade inglesa de mesmo nome do navio. Os passageiros, poderiam escolher entre esperar o conserto, ou embarcarem em outro barco, que partiria alguns dias depois.

Toda a tripulação do navio permaneceria alojada a bordo durante os trabalhos de recomposição da embarcação. Godofredo e seu avô, iriam aproveitar para aprender melhor a língua inglesa, pois era necessário. O comandante se prontificou a dar-lhes as aulas durante as manhãs.

No segundo dia após o acidente, em plena aula no salão das refeições do navio, receberam uma visita inesperada: era o barão Krupp com sua filha, Frau Laura. Godofredo sentiu arrepios ao vê-la, pois estava linda, com seus cabelos loiros como palha de milho, olhos azuis cristalinos e vívidos, a boca bem feita e sensual, usando um belo vestido azul real envolvendo graciosamente as formas do seu corpo firme e rijo. Ao vê-lo, sorriu insinuante. Era a primeira vez que a encontrava após o acidente. Cons., como sempre, o alertou em sua mente:

-Sai fora dessa encrenca, Godofredo!

O comandante, ao vê-los, levantou-se e foi ao seu encontro, como o avô, com ele ficando um pouco mais atrás. O Barão perguntou:

-Olá capitão Winston, com o está indo o conserto? Qual a data prevista da partida? Não iremos em outro navio, vamos neste, pois deixamos todas as nossas coisas nele. Estamos aproveitando para conhecer esta importante cidade portuária britânica. Aliás, fornecemos aço para este estaleiro que repara o seu navio.

-Bom dia barão, Frau Laura! A previsão para partirmos é para daqui três dias. Os trabalhos estão bem adiantados. Também, estão instalando novas turbinas que farão com que aumente nossa velocidade de cruzeiro.

-Então, vamos ser o Flâmula Azul, capitão? – disse Frau Laura, sorrindo para Godofredo.

O avô acompanhava o diálogo, com um sorriso de canto de boca para o seu futuro neto. Godofredo, desviou o olhar do da moça e continuou quieto. O capitão respondeu:

-É possível! A senhorita tem acompanhado esse evento marítimo?

-Apostei com Herr Gottfried um jantar em Nova Iorque. Se ele ganhar, pois acha que seremos o Flâmula Azul, eu pagarei; se não, ele pagará.

-Ah, entendi! – respondeu o comandante, olhando para Godofredo de forma inquisitiva.

-E o que estão fazendo aqui na sala? – pergunta o Barão ao comandante, mudando o rumo da conversa.

-Estou dando aulas da língua inglesa para eles aperfeiçoarem o idioma, muito importante na área da navegação.

-Ah, entendo! Bem, vamos à nossa cabine querida, pegar alguns pertences? – diz à filha o barão, dirigindo-se para a saída da sala das refeições.

-Sim vamos papai – acompanhando o pai, sem deixar de olhar sensualmente para Godofredo. O avô, presenciando toda a conversa e os olhares da moça, não se conteve e disse ao futuro neto:

-Ela o está seduzindo, hein meu amigo Gottfried? É um ótimo partido e poderá ser um homem rico – completou seu avô.

-Voltemos à nossa aula, meus amigos – disse o capitão, sentando-se à mesa.

Passaram-se os dias e o navio ficou pronto para a partida, embarcando os passageiros que preferiram nele viajar.

Godofredo e seu avô acompanhavam a entrada das pessoas na embarcação, ajudando aos que tinham alguma dificuldade em se comunicar. Em dado momento, o Barão e sua família subiu a ponte de acesso. Ele cumprimentou o avô e Godofredo, que retribuíram com uma mesura. E ao passarem, a filha disse a Godofredo:

-Agora vamos ver quem vai ganhar a aposta, hein? – dando-lhe uma piscada.

Partiram de Liverpool no inicio daquela tarde, com a previsão de chegada à Nova Iorque em 4 dias e 20 horas, mas com as novas turbinas, poderiam antecipar este tempo, e consequentemente ganhar a Flâmula Azul, e Godofredo ganhar a aposta com Frau Laura.

Godofredo e seu avô estavam com o comandante na ponte de comando, que exultante com os novos motores e consequente velocidade de cruzeiro maior, exclamou:

-Acho que meu amigo Gottfried irá ganhar a aposta. O navio está muito rápido e ágil. E teremos companhia, pois o Saphira partiu dez horas à nossa frente. Teremos uma bela jornada competitiva, pois fiz os cálculos e acredito que chegaremos antes deles, ou junto, ganhado a Flâmula.

-Assim espero, capitão! – respondeu Godofredo, entusiasmado.

Começou então, a caçada ao Saphira, com todos no barco animados com a novidade. Pela manhã, no desjejum no salão das refeições, perguntavam ao comandante como estava a posição do Saphira, se perto, se quando o veriam, por exemplo. Alguns, tentavam visualizá-lo no horizonte, postados na amurada do navio com seus binóculos. Marinheiros se revezavam na gávea, alegres. O navio era movido pela disputa.

-Acho que vou ganhar a aposta, hein Frau? – brincava com a linda moça nobre que se insinuava para ele, e que Cons. o demovia de qualquer envolvimento.

O Liverpool avançava veloz, cortando as águas geladas do Atlântico Norte, e já estavam no inicio do 3º. dia de viagem, quando se ouviu um grito da gávea:

-Lá está ele! – apontava o marinheiro em direção a bombordo do navio, um pequeno ponto negro no horizonte.

Todos se juntaram na proa do transatlântico com seus binóculos, sorridentes e alegres, pois poderiam vir a ser o Flâmula Azul. Godofredo, junto com seu futuro avô na ponte de comando do navio, acompanhavam o comandante olhando de binóculos o navio ao longe; aguardavam a sua opinião. Ele voltou ao interior da ponte, debruçou-se sobre o mapa e começou a fazer cálculos. Os outros dois, olhavam-no com ansiedade.

O velho lobo do mar, levantou o semblante com um largo sorriso no rosto, dizendo:

-Vamos alcançá-lo hoje ao cair da tarde e chegaremos, caso nada nos atrapalhe, à Nova Iorque em 4 dias e 12 horas. E seremos a Flâmula Azul, vai ganhar a aposta, caro Gottfried! – dando-lhe forte abraço, emocionado, pois seria a primeira vez que o capitão ganharia esta competição tão tradicional.

A travessia seguiu , com o Liverpool a todo vapor, fazendo com que a silhueta do Saphira aumentasse de tamanho, ficando totalmente delineado o seu formato ao fim da tarde daquele terceiro dia. Passageiros e tripulantes se aglomeravam nas amuradas do navio para acompanhar a ultrapassagem, que se daria em alguns minutos. O comandante deslocou a manete de controle de velocidade para a máxima, fazendo as chaminés soltarem grossas massas de fumaça preta, e apitando forte. Ultrapassou o outo navio, com todos acenando. A costa americana estava a um dia de distância.

Godofredo acompanhou a ultrapassagem junto de Frau Laura, que o abraçou fortemente e com seu rosto quase colado no dele e com olhos de desejo, disse com voz sensual:

-Você ganhou! – inclinando seu rosto mais perto do dele, quase encostando na sua boca. Ele tentava se segurar, mas arrepiado e seduzido, sentiu os lábios doces e úmido dela junto aos seus, e não resistiu, foi para o beijo, quando Cons. gritou em sua cabeça:

-Não faça isso!

Godofredo imediatamente recuou dos lábios sedentos dela. Ela sorriu, e disse mansamente:

-Agora, iremos comemorar de fato em Nova Iorque. Pagarei com o maior prazer o jantar – falando de forma insinuante, frisando a palavra “prazer”.

Godofredo todo arrepiado e ofegante, nada disse. Somente sorriu, decepcionado.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 27/06/2024
Reeditado em 16/07/2024
Código do texto: T8094912
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