A Saga de Godofredo III – “Quase nos Matou!”
18.06.25
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Godofredo e Frau Krupp saíram do salão das refeições para o deck superior da embarcação, ela com seu braço esquerdo apoiado no direito dele. Faziam um belo casal.
O dia estava claro, com um sol pálido e céu opaco. Ventava um pouco, que provocava o esvoaçar dos lindos cabelos aloirado da moça, realçando ainda mais a sua beleza. Caminhavam com vagar e conversavam como dois namorados, com seus trejeitos e expressões.
-Soube pelo Capitão, que estão indo conhecer os Estados Unidos da América, é fato? – perguntou à moça.
-Sim! Meu pai quer saber sobre a construção de prédios lá, pois usam o aço, ao invés da Alemanha, que pouco utiliza – respondeu ela, com olhar longe.
Godofredo sentia arrepios a cada resposta dela, pois sua voz era leve e sensual. Uma forte lufada de vento abateu sobre o convés, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio e o abraçasse com força, encostando seu corpo rijo no dele. Ele a segurou com firmeza. Ficaram de rostos quase colados. Ela, com seu olhar insinuante e lábios carnudos abertos, deixava-o totalmente excitado.
-Nem pensar! Saia já desta situação – disse-lhe Cons. na sua mente, impedindo-o que a beijasse.
Godofredo se separou dela. Ela, continuou insinuante, e disse-lhe:
-Quero ver quem vai pagar o jantar em Nova Iorque. Não esqueci, Herr Gotffried! – apoiando-se na amurada do barco. A silhueta da moça era uma bela visão.
Inesperadamente, uma forte bruma surgiu sobre o oceano, deixando-o sem horizonte algum. A visibilidade ficou de menos de cem, duzentos metros. Luzes indicativas e de segurança acenderam, o vigia subiu à gávea, perscrutando o mar com binóculos. O forte e alto apito do navio começou a soar a cada minuto, e a embarcação reduziu a velocidade. Godofredo achou melhor que ela se resguardasse, voltando ao salão ou à cabine, mas ela não quis, queria ficar e apreciar essa mudança tão brusca e misteriosa da paisagem.
Então, tão inesperado quanto o aparecimento da bruma, um navio surgiu vindo perpendicularmente ao meio do Liverpool pelo seu lado direito. Mesmo com baixa velocidade, a colisão seria inevitável. O capitão Winston, desesperadamente colocou a manete do controle de velocidade na aceleração máxima e o leme totalmente à esquerda.
Godofredo viu que a proa do outro barco iria se chocar exatamente onde eles estavam. Frau Laura, estática com o aproximar daquele enorme monstro de aço, não esboçou reação alguma. Godofredo então a puxou e saíram correndo para a proa do Liverpool, fugindo do impacto. Um forte estrondo correu.
A outra embarcação abalroou o Livepool a meia nau, inserindo-se cerca de 2 a 3 metros, elevando sua proa acima da ponte de comando com a colisão. O alarme de emergência soou!
Com o impacto, o Liverpool adernou para a esquerda em cerca de 20graus. Os passageiros em pânico, escorregavam pelo convés e agarravam-se à amurada. Godofredo atônito e preocupado, disse a Frau:
- Vamos vestir coletes salva-vidas. Me espere aqui, vou pegá-los.
Ele escorregou até a amurada do navio, e por ela foi se arrastando aos coletes salva-vidas dependurados. Voltou e vestiram. Mentalmente, falou com Cons.
-O impacto perfurou o casco do nosso navio? Vamos afundar?
-Está fazendo água e os escaleres vão ser baixados, mas não irá afundar. O comandante enviou SOS e navios próximos estão vindo em socorro. A sorte é que estão perto da costa inglesa e francesa, e o resgate será rápido e total.
O outro navio deu ré e se desgrudou do Liverpool, que voltou à sua posição, nivelado. Os oficiais da tripulação começaram a conduzir os passageiros aos escaleres, primeiro os mais velhos, mulheres e criança, ficando os homens por último.
O navio que causou o impacto, o Hamburg, alemão, emparelhou com o Liverpool. Os escaleres eram baixados com os passageiros, que embarcavam no Hamburg. O Liverpool fazia água, mas lentamente. Os compartimentos do casco foram fechados, eram individualizados para este fim, ficando somente o que estava perfurado e enchendo de água, que era bombeada para os demais, nivelando-o e aumentando o seu calado. Ou seja, estava com a linha d’água mais alta.
Frau Laura, preocupada com sua família, disse a Godofredo:
-Quero encontrar com minha família e sair do navio juntos – disse chorosa.
-Você não deve procurá-los, o risco é muito grande de se afogar com o naufrágio do navio. Deixe que vou achá-los, pois conheço o navio melhor que você. Me aguarde, que volto logo.
Imediatamente acionou Cons., perguntando sobre os familiares dela, respondendo que estavam na cabine recolhendo seus pertences. Godofredo correu para lá, encontrando o pai, a mãe e o irmão fechando suas malas e baús. Disse-lhes de forma autoritária e firme:
-Herr Barão Krupp, não há tempo para levarem seus pertences. O navio está afundando e serão tragados pela água, que já começa a inundá-lo. Vamos imediatamente aos escaleres, que Frau Laura lá os aguarda.
O barão olhou para sua esposa e abanou desoladamente a cabeça. A esposa chorava. O filho a amparou e concordou com um aceno de cabeça à Godofredo, dizendo:
-Vamos papai, mamãe, nossas vidas são muito mais importantes.
Nesse instante, o navio adernou para a frente, inclinando um pouco a proa. Eles saíram correndo até a escada de acesso ao convés, e viram que quase todos os escaleres tinham sido baixados, com muitos passageiros ainda aguardando subir nos restantes. Frau Laura, ao ver seus pais e irmão, correu em sua direção, abraçando-os.
-Vamos, subam no escaler, rápido! – disse Godofredo ajudando a mãe dela a se instalar no barco. Depois, pegou a mão da moça e a conduziu, sentando-a ao lado da mãe. O pai embarcou também. O irmão não, pois os homens mais jovens seriam os últimos, como a tripulação e o comandante, que assistia a tudo da ponte de comando. Seu avô, estava ao lado do capitão.
-Vocês não vêm? – disse ela com angustia, vendo-o com seu irmão ajudando a descer o escaler. O navio, com o enchimento e equalização da água nos compartimentos, estabilizou com a linha d’água em cinco metros, facilitando o resgate dos passageiros.
Godofredo, vendo seu avô com o comandante, que assistia à movimentação, fumando calmamente seu cachimbo na amurada da ponte de comando, foi até eles.
-Estão calmos assim? O navio não vai afundar, capitão Winston? – perguntou atônito.
-Não vai não! Ele estabilizou e conseguimos isolar a caldeira com o coque. Assim, com todos os passageiros em segurança no Hamburg, vamos levá-lo para Liverpool para ser restaurado.
Seu avô, olhando para Godofredo com ar de brincadeira, disse-lhe:
-O Hamburg estragou a sua côrte com Frau Laura, não é mesmo Gotffried?
-Quase nos matou!
Riram os três.