A Saga de Godofredo Parte III – A Aposta
20.05.24
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Janice voltou no dia seguinte ao hospital. Trabalhou o dia e a noite anterior nos algoritmos do programa, para que não provocasse mais as terríveis dores de cabeça em Godofredo, quando dos últimos contatos mantidos. Este, teve uma noite tranquila e calma, segundo lhe disse o médico, que concordou em fazer mais uma nova tentativa. Preparou os equipamentos, iniciou o sistema, e a tela instalada no quarto da UTI começou a mostrar o convés de um navio navegando. O dia estava claro e limpo, com o mar azul anil e fragatas planando majestosamente no céu. Lindo dia. Janice falou com seu marido:
-Bom dia meu amor?
Godofredo estava sozinho, encostado na amurada do Liverpool, observando ao longe os prédios do porto de Hamburgo, quando escutou em seu cérebro a voz da mulher. Desta vez não lhe doeu a cabeça tão forte.
-Janice? É você? Saudades, minha querida!
-Sim querido, sou eu! Muitas saudades também. Está em um navio indo para qual lugar? E o seu futuro avô? – respondeu ela feliz e com os olhos lacrimejantes de felicidade.
-Estamos deixando Hamburgo no Liverpool, nos alistamos neste navio como interpretes e partimos hoje para o porto, de mesmo nome, na Inglaterra, e depois para Nova Iorque. Meu futuro avô, está conversando com o comandante do navio. Eu dei uma escapada, mas tenho que voltar ao salão das refeições para atender aos passageiros agora, pois irão tomar o café da manhã – respondeu ele já caminhando de volta.
-Ah, que bom que está tudo bem com você, estávamos preocupados, pois quase foi guilhotinado.
-Querida, como faço para voltar? O que eu preciso fazer, me diga?
Janice olhou inquisitiva para o médico, esperando a resposta. Respondeu a ela que, por enquanto, nada poderia se fazer, mas que tentasse ter menos estresse e emoções fortes.
-Vou tentar querida, mas não é fácil. Você sabe como sou, gosto de desafios e aventuras. Aliás, acredito que esta etapa, de conhecer o mundo com ele, vai ser maravilhosa - já entrando no salão do navio com várias mesas ocupadas com os passageiros degustando seu “breakfast”. Então, sua cabeça começou a doer mais forte. Janice, percebendo o gesto do marido com as mãos nas têmporas, perguntou:
-Está doendo?
-Muito!
Imediatamente desligou o sistema, ficando totalmente negra a tela de vídeo no dormitório. Ficou triste de não poder continuar com ele conectado, mas iria voltar a avaliar com seus colaboradores o que fazer para melhorar o programa e diminuir ao máximo as dores.
Godofredo, após as pontadas na cabeça passarem, viu que o avô o olhava com preocupação, encerrando sua conversa com o comandante do navio. Veio ao seu encontro e perguntou:
-Dores de cabeça de novo, meu caro?
- Sim, às vezes eu tenho essas dores, mas logo passam. A conversa com o capitão foi boa? – mudando o assunto.
-Foi. Chegaremos à Liverpool amanhã pela manhã. Agora, vamos nos ater aos passageiros, indo às mesas perguntar se está tudo de acordo – respondeu o avô.
O navio estava quase que totalmente ocupado por imigrantes alemães, que iam em direção às Américas do Norte e do Sul, fazendo lembrar Godofredo da sua avó, mas não pensou em saber por onde andariam, pois poderia sumir instantaneamente do salão. Concentrou-se no atendimento aos passageiros, com suas perguntas características.
Em uma das mesas, uma família estava muito animada. Eram os pais e um casal de filhos. A filha chamou a atenção de Godofredo pela sua beleza e delicadeza de traços, com cabelos e grandes olhos negros, pele branca como neve, lindo sorriso e corpo escultural. Ela retribuiu ao interesse dele.
Conversavam animadamente, e ele, ao se aproximar hipnotizado pela bela moça, ouviu em seu cérebro a voz estridente de Cons.:
-Meu caro Godofredo, se aquiete! Já não teve aventuras amorosas suficientes nestes últimos tempos?
Antes de responder a sua consciência, a moça lhe dirigiu a palavra em alemão:
-Não é mesmo Herr? O que acha desta questão que estamos discutindo? – olhando fixa e sensualmente nos olhos de Godofredo, que ficou estático e sem palavras. A mesa toda se aquietou, esperando que respondesse, mas como estava magnetizado pela moça e pela fala de Cons., não sabia o que dizer. Imediatamente Cons. veio ajudá-lo, dizendo na mente de Godofredo:
-Estão discutindo se o “Liverpool” é mais rápido que o “Oceanic” no cruzamento do Oceano Atlântico, se será o Flâmula Azul, pois este último, ganhou este troféu na sua última travessia meses atrás. Diga que sim, que farão em torno de 4 dias e 10, 15 horas, quando o “Oceanic” fez em 4dias e 20 horas.
-Desculpem-me, mas qual é o nome da Frau que me pergunta? O meu é Gottfried e responderei com muito prazer à questão que discutem – fazendo uma mesura em direção à moça.
-Laura, Herr Gottfried. Diga-nos então, qual será o seu prognostico? – sorrindo-lhe com seus lábios sensuais e carnudos emoldurando a bela dentadura branca e luminosa. Seu olhar de fêmea, deixou-o desconcertado, era linda Frau Laura.
-Bem, o “Oceanic” cruzou o atlântico meses atrás em 4 dias e 20 horas, uma bela marca! Mas, acredito que faremos a travessia de Liverpool à Nova Iorque em um tempo menor, talvez entre 4 dias e 10 horas ou quatro dias e 15 horas – falou ele sem tirar seus olhos enfeitiçados da Frau.
Todos na mesa deram urras e vivas, mas Frau Laura, interessada em Godofredo, fez uma proposta a ele:
-Caso aconteça sua previsão, lhe pagarei um jantar em Nova Iorque; caso não, Herr Gottfried pagará. Fechado?
Godofredo sorriu! A proposta era ótima: jantaria com ela em qualquer situação. Respondeu de pronto:
-Aceito o desafio com o maior prazer Frau Laura – embebecido pelo encanto da moça.
A mesa gritou viva, brindaram, e ela, sensualmente lhe lançou um olhar e disse-lhe:
-Vamos ver quem vai ganhar? – deixando-o desconcertado.
Cons. veio à mente de Godofredo e disse:
Isso não vai acabar bem!
Obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência