A Saga de Godofredo Parte III – O Liverpool

16.05.24

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Na manhã seguinte, foram acordados pelo toque do clarim convocando os guardas ao pátio do Castelo. Seu avô estranhou, mas não mudou seu intuito. Colocou roupa de civil, e junto com o neto, saíram dos aposentos para embarcarem em carruagem para a estação ferroviária. No pátio, viram toda a tropa perfilada em duas filas, uma em frente à outra, um corredor humano, pelo qual passariam. Ao fundo, o Comandante os aguardava. Ficou sensibilizado. Godofredo também, pois não imaginava que ele fosse tão querido. O avô partiu firme e ereto em direção ao fim do túnel humano.

A cada passo que dava, ouvia-se o grito alto e forte da tropa, “Hurra”! Lágrimas brotaram-lhe dos olhos. Caminhou até ao Comandante, que lhe estendeu a mão com forte aperto, dizendo alto :

-Cabo Sargento Paul Scholz, seja feliz nessa sua nova etapa da vida, e sabemos que se sairá bem, pois sua passagem aqui foi inesquecível. Hurra! - com toda a tropa respondendo forte e uníssono – Hurraaaa! Godofredo ficou arrepiado. Seu avô deu um forte abraço no Comandante, acenou aos ex-companheiros, e sensibilizado, dirigiu-se a saída do Castelo para irem à estação de trem.

Já na carruagem, com os olhos marejados, falou:

-Que linda homenagem, não Gottfried? Sentirei saudades, mas a vida segue, e ali não era o meu lugar. Sentia-me muito preso, agora estou livre!

-Sim, foi emocionante, Paul! Teremos muitas emoções em nossas viagens pelo mundo, com certeza!

Chegaram à estação. Seu avô já tinha comprado as passagens para Hamburgo. Partiriam em poucos minutos e a viagem duraria cerca de três horas, devendo chegar depois do almoço à cidade portuária.

Na cabine, com o trem em velocidade de cruzeiro, o avô puxou seu cachimbo e começou a prepará-lo - um ritual de calma e placidez. Godofredo o observava cuidadosamente. Via a fisionomia de traços arianos em seu queixo quadrado, maçãs salientes, olhos azuis cristalinos, culminado com cabelos loiros como palha de milho. Tentou visualizar estes detalhes na sua mãe, reconhecendo que tinha o queixo e as maçãs do rosto semelhantes às do pai, a mesma fôrma. Percebendo que o neto o perscrutava, perguntou:

-Está me estranhando sem a farda, meu amigo ? – não desviando a atenção na preparação do cachimbo. Godofredo, pego de surpresa, voltou o olhar para a paisagem, e respondeu:

-Sim, você está muito diferente, principalmente sua fisionomia, está mais feliz, não?

-Sim, estou sim. Sempre quis conhecer o mundo e o faremos juntos, meu caro! – acendendo o cachimbo e soltando baforadas de fumaça doce do fumo, com cheiro de chocolate, envolvendo toda a cabine.

Godofredo apreciava a paisagem pelo janelão do trem. O dia estava claro e ensolarado, realçando as cores da vegetação, principalmente das florestas temperadas da região, com seus pinheiros, abetos e outras árvores frondosas, dando-lhe uma sensação de leveza e calma. Sentia-se feliz.

Degustando calmamente o cachimbo, o avô puxou conversa:

-O navio em que vamos embarcar é inglês e de passageiros, o Liverpool. Como falamos alemão e francês, será fácil o nosso trabalho, pois não teremos problemas com os passageiros, que falam, em sua maioria, o francês. A tripulação é um misto de nacionalidades, mas o oficialato é inglês. Já fiz nossas inscrições por telegrama e recebi resposta de que fomos aceitos. O soldo é razoável, mas como estaremos no mar por um tempo, será nossa poupança, para quando desembarcarmos em algum lugar e fixarmos residência - falando de forma pausada e tranquila, entre baforadas do cachimbo.

Com o balançar cadenciado do trem e o som caraterístico das rolas nos trilhos, Godofredo começou a sentir sonolência e dormiu profundamente. Foi acordado pelo avô, sacudindo-o:

-Acorde, chegamos à Hamburgo. Vamos conhecer nossa nova casa.

Godofredo acordou e olhou pela janela da cabine a cidade, com suas construções baixas, e o porto ao longe, com navios ancorados. Sorriu! Teria novas aventuras com seu avô, certamente!

Chegaram ao Liverpool. Um belo e imponente navio despontava-lhes acima dos olhos. Abraçaram-se felizes, e caminharam em direção ao acesso à embarcação. O coração de Godofredo batia acelerado e seus olhos marejaram de felicidade.

Já na ponte, apesentaram-se ao marujo:

-Fomos contratados como intérpretes no navio. Pode, por favor verificar na listagem nossos nomes? - dizendo-os ao Atendente. Este, foi ao Administrativo do navio verificar. Voltou e acenou para que subissem, pois o responsável os acompanharia às suas cabines.

Avô e neto entreolharam-se e sorriram. Subindo juntos a rampa da ponte do navio, Godofredo disse ao avô:

- O mundo nos espera!

Obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 16/05/2024
Reeditado em 16/05/2024
Código do texto: T8064348
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