Sangue do mesmo legado
— Pai, o H500 não quer comer!
O jovem segurava o pequeno ser nas mãos, como um ratinho.
— Eu já falei para não tratar a comida como bicho de estimação.
— Mas pai, eu pedi só um...
O garoto colocou o ser de volta na gaiola e ele emitiu sons que o jovem não conseguia entender.
Gamar, o garoto, tomou carinho por uma das criaturas que o pai criava. Eles foram capturados de um planeta rico em oxigênio e água. Seu pai acredita que agora tendo esses seres, eles nunca mais ficarão desnutridos, já que se adaptaram muito bem ao seu planeta. No início foi difícil, os seres se rebelaram, tentaram resistir, e até conseguiram matar alguns Thalacianos, mas foram logo derrotados.
Muitas vezes Gamar viu água saindo dos olhos de H500 e ele se sentiu chateado, pois a criatura ficava amuada e não queria interagir. Gamar percebeu que H500 não tinha medo dele como tinha de seu pai, por isso ele o levou para seu próprio quarto.
Passados alguns meses, Taudrin, pai de Gamar, o levou ao abatedouro.
— Está na hora de você começar a ajudar o seu povo. Você vai liberar os terráqueos para a esteira elétrica.
— Eu não vou fazer isso.
— Não tem que querer, você já é um rapaz, tem obrigações.
Contrariado, Gamar abriu a porta do corredor e viu quando os humanos deslizaram por uma enorme esteira, todos nus e sem nenhum pelo nos corpos. A esteira parou e uma descarga elétrica os atingiu. Todos caíram gritando e fazendo um barulho insuportável aos ouvidos de Gamar. Pela primeira vez, o garoto sentiu seus olhos formigarem, parecia que saía água, assim como os olhos de H500. Ele não suportou a cena e saiu correndo, não se importando com os chamados do pai.
Gamar se trancou em seu quarto e abriu a gaiola, tomando H500 nas mãos e o abraçando.
— Não vou deixar ninguém fazer isso com você.
No jantar, Taudrin serviu um espetinho de humano para Gamar. O jovem engoliu em seco, ele não queria comer aquilo.
— Trate logo de comer! Já estou farto dessa sua palhaçada, onde já se viu um ser da nossa espécie não comer proteína?
— Não quero! Eles são legais, sentem dor e não merecem isso!
Taudrin ficou muito bravo e se levantou. Sua esposa pediu paciência, mas a dele já havia acabado. Gamar também se levantou, empurrando e jogando seu prato no chão.
— Eu não vou comer os meus amigos! — Gamar saiu correndo.
O jovem levou uma surra no dia seguinte e foi obrigado pelo pai a pegar uma machadinha e cortar o pescoço de um humano. Mas o ódio ao pai chegou ao seu nível extremo quando Taudrin foi ao seu quarto e matou H500 na sua frente.
Gamar jurou vingança. Arrumou uma mala e fugiu para a floresta. Viveria ali até se tornar um adulto e poder enfrentar seu pai como ele merecia.
Com o passar dos anos, Gamar ia roubando alguns humanos e se aliando a eles e também outros alienígenas se juntavam, com o mesmo pensamento e propósito.
Queriam a paz, queriam a liberdade para todos os seres vivos. Se podiam comer do que a própria natureza oferecia, por que matar outros seres?
Anos se passaram, Gamar está pronto para atacar, seu pai estará preparado para enfrentar o filho?