Alívio Surreal
A estrada é praticamente deserta e cheia de curvas, ora curta, ora longa. Uma nebulosidade aparentemente sobrenatural a envolve e força o motorista solitário a prosseguir a não mais que quarenta e cinco quilômetros por hora. Se não fosse as placas sinalizadoras e as luzes dos postes, seria impossível transpôr o percurso. E, de um lado e de outro, a vegetação densa e pantanosa cerca um trecho de uma rodovia importante entre duas cidades industriais.
Dentro do carro, T.J.F não vê a hora de sair desta emboscada necessária. Ele confere o medidor de combustível, tudo certo. Não vai ser a agora que o veículo vai lhe pregar uma peça por tanque vazio, como de uma outra vez, em outro local. Mas aquilo foi puro desleixe. Agora, furar o pneu isso nunca aconteceu com ele. Era só manter atenção na estrada, principalmente nas curvas. Tomar cuidado se um animal não atravessa a pista. Ou se um carro aparece de repente numa curva na mão contrária.
Vagarosamente ele acorda de cabeça pra baixo. O cinto de segurança aperta seu peito. O cheiro de gasolina lhe envade as narinas. Sangue escorrendo pela testa. Cacos de vidro aqui e aculá. O carro em declive, o que o parou foi um tronco morto e seco há anos. A visão para fora da janela é algo esbranquiçado, verde e úmido. Silêncio total. Espere, um chiado contínuo preenche o ambiente. Começou a chover. Sorte no azar. O veículo não vai explodir. A morte por afogamento é uma possibilidade. Depois de alguns minutos de chuva crescente, a água começou a subir.
T.J.F precisa sair dessa situação. Sua perna presa parece está quebrada. É difícil respirar também. Sua costela está deslocada. Ele grita por socorro. A água corrente lhe bate a testa, em breve chegará as narinas. Depois de tentar os recursos de que dispõem nesta aflitante situação, ele se resigna. É o fim... Lembranças passam em sua memória. As felizes e infelizes. As primeiras surgem como um bálsamo e as segundas aparecem como algo sem importância.
Um raio atinge o carro. O veículo se desprende do tronco e desliza sob a água lodosa e barrenta. T.J.F percebe que mergulha totalmente o corpo, sua última consciência. Nas trevas, ele ouve vozes e sons não identificáveis. Sente que seu corpo é conduzido. Não se sabe quanto tempo se passou, mas é acordado pelo agradável som de um despertador musical.
Ele não sente dor. Antes de abrir os olhos percebe que está confortavelmente sentado e seco! A primeira coisa que vê é um painel circular de equipamentos. Alavancas, botões e luzes o rodeiam. Estou numa roupa de astronauta, pensa ele. Olha para uma janela da esquerda e estupefato nota que...está em órbita ao redor de Saturno!!!