A Cidade Submarino

Após a última grande guerra, a maior parte da superfície fica contaminada e os sobreviventes se aglomeram nas poucas áreas habitáveis que restam. Com o passar das gerações, cidades surgem nos ambientes mais inesperados: nos picos das montanhas gélidas, dentro de cavernas obscuras, pântanos alagados e nas águas dos mares.

Assim surge Leviatã, a cidade submarino, uma cidade construída sobre uma plataforma marítima de proporção descomunal com quilômetros de extensão, capaz de navegar pelos oceanos. Feita dos escombros das antigas metrópoles, conta com milhares de habitantes divididos entre aqueles que vivem na parte de cima, em suas enormes torres espremidas, formando ruas e corredores apertados onde a vida fervilha. Os transeuntes se aglomeram nos bares, restaurantes, hospitais, moradias, cassinos e todo tipo de comércio. Na parte de baixo, ficam a maioria da tripulação, como engenheiros, mecânicos, eletricistas e outros profissionais, trabalhando incessantemente para manter toda a cidade em funcionamento.

Uma obra inigualável da engenharia humana, a cidade nunca fica à deriva. Impulsionada por enormes turbinas movidas a energia nuclear, navega constantemente pelos mares vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Mas o maior trunfo de Leviatã não está na sua grandiosidade ou capacidade de navegar, mas de submergir como um submarino.

Quando as sirenes tocam, é o sinal de alerta. Todos os seus habitantes se abrigam e as comportas se fecham. Leviatã pode mergulhar até os fundos abissais onde passa maior parte do tempo, como um titã feito de luzes e metal, longe da radiação da superfície. Seus longos tentáculos sugam tudo que encontram pela frente, desde alimentos como frutos do mar, peixes, baleias, crustáceos, até qualquer material que vá parar no leito, como embarcações naufragadas.

Uma vez submerso, as pessoas se locomovem entre enormes corredores labirínticos e sistemas de transporte coletivo eficiente. A visão aquática é iluminada por poderosos holofotes, contemplando o cotidiano dos moradores de Leviatã, com o verde refletido pelo acúmulo de musgos e algas nas paredes de fora das construções.

A cidade é controlada pelo que todos conhecem como "a torre", um enorme prédio localizado no centro da cidade. Ninguém sabe quem realmente fica ali; alguns acreditam que no topo existe um computador controlado por uma inteligência artificial, enquanto outros dizem que lá vivem os descendentes dos antigos que governavam o mundo. Ninguém nunca viu alguém entrando ou saindo daquele lugar; o prédio sequer possui entradas ou janelas.

Existem muitos mistérios sobre a construção da cidade. Sem registros históricos, muito do seu passado vai sendo perdido com o tempo. Tudo o que se sabe são histórias passadas de pai para filho. Talvez, alguma coisa dentro da torre central poderia responder essas questões, mas com seu acesso restrito essas dúvidas continuam.

Em um futuro onde não há mais fronteiras e os humanos vivem em comunidades isoladas, Leviatã segue navegando e dominando os mares, submergindo e emergindo conforme sua vontade. Passarão gerações e seus habitantes jamais saberão como é viver em terra firme, ainda levarão centenas de anos até que a superfície seja totalmente descontaminada, para que a cidade surja pela última vez e finalmente se atracasse em uma superfície limpa e segura.

technomancer
Enviado por technomancer em 08/03/2024
Reeditado em 08/03/2024
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