Travessia de Barco

Local não especificado e próximo da Baixada Maranhense. O ano é 1977.

Dois pescadores enchem dois baldes de carangueijos numa ilha do outro lado da cidadezinha onde ambos moram. Há tranquilidade, mas também há pressa. Não podem bobear. Até que aconteceu. Uma bola de luz voadora em pleno céu crepuscular. Os dois olham para cima e ficam embasbacados. A bola desce como um raio de luz e vai em direção à praia onde estava o barco dos dois. Por volta de cinco segundos, um estrondo. A pressa dos dois fica maior.

“Caralho, caralho, caralho!”

“Vamo levar o que der pra levar! Não dá pra perder nem mais um minuto aqui!”

“Mas que porra foi aquilo?”

“Não sei, mas vamo logo!”

“Você não ouviu os boatos?”

“Ouvi e não acredito em nada daquilo!”

A luz misteriosa intrigava, porém os dois pescadores temiam outra coisa. Na visão deles, algo muito pior. Na verdade, pior do que a luz foi o barulho que a luz provocou. É possível que tenha chamado atenção indesejada.

Os pescadores correram e conseguiram chegar à praia.

“Ainda não apareceram! Pode ser que a gente chegue sem precisar lidar com eles!”

Os dois empurram o barco até a água.

“Talvez dê…”

A fala de um deles foi interrompida porque ambos se assustaram com algo. Um homem nu na praia.

“A civilização de vocês é próxima daqui? Me levem até lá, por favor.”

“Civili… o quê?”

“Me levem daqui!”

“Não vai dar”, disse um dos pescadores.

“Vamo logo, porra!”, bradou o outro.

“Por favor”, disse o Homem Nu.

De alguma maneira o Homem Nu os convenceu.

“Tá, mas coloca isso aí”, disse um dos pescadores oferecendo um pedaço grande plástico. “Ninguém aqui é viado”.

A pressa fez os homens ignorarem quem seria o cara e por que ele estava nu, o que estava fazendo ali etc.

Começaram a remar.

“Droga, o barco está mais lento por causa do peso.”.

“Deixa que eu ajudo”, disse o Homem Nu.”Apenas observando vocês, eu aprendi”.

Bastou uma única remada e o barco andou numa velocidade inaudita, assustando os dois pescadores.

“Que diabos de força é essa? Quem é você? Você é daqui?”

“Não sou daqui.”

“Você é de onde?”

“Vim de uma civilização há anos-luz daqui”.

“Quê?”

“O que são essas coisas?”, perguntou o Homem Nu.

Ele estava prestes a descobrir, pois a Ameaça enfim apareceu. Primeiro os disparos, depois o outro barco indo em direção a eles. Os adversários tinham barco a motor.

“Maluco, dá outra remada daquelas!”.

Ele deu. Se não fosse isso, já teriam sido alcançados e mortos.

“Quem são esses seres iguais a vocês?”, perguntou o Homem Nu.

Os Homens do outro barco dispararam com mais intensidade.Os pescadores se abaixaram. Outra remada. A cidadezinha ainda está longe. Os Homens do outro barco aumentaram a velocidade. Os pescadores atiravam de volta, mas erravam tudo. Não tem remada que resolva, eles serão pegos.

Então, o Homem Nu tinha outra carta na manga. Seus olhos ficaram amarelos. Horrendos e brilhantes. Os pescadores ficaram horrorizados. O outro barco explodiu. O Homem Nu e os pescadores afastaram-se enquanto a carcaça de barco pegando fogo afundava na água.

“O que é você?! O diabo!?”

Chegaram na praia próxima à cidadezinha.

“Eu vim de outra civilização”, disse o Homem Nu. Revelou estar aqui para preparar uma ocupação e posterior colonização.

“Não entendi nada. Mas você poderia nos ajudar a passar por essas águas em segurança”, propôs um dos pescadores. O outro ainda estava com medo. O Homem Nu não respondeu nada.

Um dos pescadores começou a comentar com banhistas sobre as façanhas dos Homem Nu, que percebeu que agora poderia estar com problemas. Dois homens viram ele e do que ele é capaz e ele ainda revelou coisas que não poderia. Isso poderia comprometer tudo, arruinar tudo. Se as forças defensivas daquele planeta levassem a sério pescadores de uma cidadezinha pobre? Os caras vivem de pegar carangueijo, uma ocupação que, pelo que ele estudou, sabe que é simples. Mas e se fossem levados a sério? Vale a pena o risco?

Decidiu que não vale.

Os pescadores viram sua aparência, viram seus olhos amarelos, testemunharam as suas habilidades. Tinham que calar a boca para sempre.

Seus olhos ficaram amarelos de novo…

FIM

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 22/01/2024
Reeditado em 23/01/2024
Código do texto: T7982412
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