Relógio da eternidade - Capítulo 1
O telégrafo é um aparelho de comunicação que foi inventado por Samuel Morse em 1837. As mensagens eram enviadas em um código que recebeu o nome de Código Morse.
O papel
18 de agosto de 1823 ~ Segunda-feira ~ 06:43
Tomás acorda cansado, foi uma noite bem longa. Sonhou que era um inseto, foi pavoroso, pois tinha medo de insetos. Ao levantar-se, notou que seus irmãos já não estavam em suas camas, desceu as escadas em direção a cozinha. Sua casa não era grande, aquele pequeno casebre de madeira possuía apenas quatro cômodos: Cozinha, banheiro, quarto dos pais e o das crianças.
Como o esperado, Isabel e Joaquim estavam se alimentando e sua mãe já havia começado seus trabalhos matinais. Enquanto se servia das sobras do café da manhã, Tomás lançou um questionamento a Isabel:
— Papai já está na mina, Isabel?
— Não sei, quando acordei, ele já não estava — Respondeu, ainda mastigando seu sucinto pão seco.
Tomás nem se deu o trabalho de perguntar a Joaquim, visto que o pirralho não o responderia nem se soubesse. Foi ao encontro de sua mãe para saber o paradeiro de seu pai.
Joana estava no riacho atrás do casebre, ocupada lavando roupas. Seu primogênito chega às pressas e lhe cumprimenta:
— Bom dia mãe. Papai já está na mina?
Joana se lembrou naquele instante que Vicente não ocupava seu lado da cama quando despertou, então respondeu:
— Verifique no ferramenteiro, seu pai comentou que precisava de ferramentas novas.
Seguiu até o Senhor Davis, um senhor barrigudo e com um bigode grisalho chamativo, Davis é o ferramenteiro da cidade há mais de vinte e cinco anos. Antes dele, seu pai e seu avô também foram ferramenteiros, a profissão e o estabelecimento serão herdadas ao seu filho Benjamin, hoje com seis anos. Quando estiver em idade apropriada para colocar em prática todos os ensinamentos de seu pai.
Ao chegar, Tomás aguardou Davis terminar de atender os clientes para falar de seu pai. Enquanto esperava, Benjamin mostrou-lhe um de seus belos desenhos feitos de giz de cera: Um cavalo amarelo pastando em um gramado azul ao lado de um lago cor de rosa. Tomás não era médico, muito menos pintor, porém achava que Benjamin tinha um seríssimo problema com cores.
O último cliente sai da loja e Tomás aproxima-se do balcão:
— Bom dia Davis, por algum acaso meu pai passou por aqui?
O velho alisava seu protuberante bigode enquanto pensava, e respondeu:
— Vicente não compra nada a semanas.
Decepcionado, Tomás se debruça no balcão. Davis faz um comentário, tentando reanimar o garoto.
— Ele deve ter ido até à cidade, o prefeito estava chamando alguns trabalhadores da mina ontem. — Junto desta informação, Davis entregou-lhe um bilhete.
Prezados Trabalhadores da Mina de Carvão de Doaporxa,
A Prefeitura convida a todos os trabalhadores da mina de carvão para comparecerem à sede municipal nos dias dezessete e dezoito de agosto. Será uma oportunidade para discutir questões importantes relacionadas ao bem-estar e segurança no ambiente de trabalho.
Contamos com a presença de todos.
Atenciosamente, Prefeito John Williams.
John Williams, o mais novo prefeito da cidade grande. “Trinta e oito anos de pura babaquice”, como dizia o pai de Tomás. Williams era extremamente narcisista e tinha planos para encerrar os trabalhos na mina. Todos do vilarejo o detestam por isso, seu pai era um deles, por isso só ia para a cidade grande em emergências, ou exigências.
Junto do bilhete caiu um pedaço de papel. Tomás o pegou, estava com uma escrita estranha, com pontos e tracejados, aparentemente quem escreveu este papel estava entediado, pensou ele:
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Tomás analisou aquele estranho papel e dirigiu-se a Davis:
— Isto é seu? Ou é algum desenho de Benjamin que não consegui entender? — Questionou enquanto virava o pedaço de papel com intuito de decifrá-lo.
O ferramenteiro respondeu negativamente com a cabeça e seguiu para a porta para atender um cliente. O jovem agradeceu pelas informações e saiu do estabelecimento com aquele estranho papel.
Tomás aproveitou que todos da mina estavam fora e resolveu se dar um dia de folga. Ao sair da ferramentaria, foi até a casa de Suzan convidá-la para fazer alguma coisa, ou não fazer nada.
Suzan tem cabelos ruivos e usa óculos com graus altíssimos para uma jovem de dezenove anos. Vem de uma das famílias mais ricas do vilarejo, Allen. Suzan e Tomás são amigos de infância, mas só conseguem se encontrar quando seu pai não está presente, pois suas famílias não gostam muito uma da outra, por conta de suas diferenças salariais.
Tomás bateu a porta da casa de Suzan, mas quem o atendeu foi uma espécie de ser maligno com cabelos desgrenhados e com uma visão bastante debilitada.
— Quem é? — Disse Suzan com uma voz sonolenta sem ter reconhecido Tomás.
— Esqueceu os óculos outra vez? Vamos, deixe-me entrar sua toupeira alaranjada.
— Tomás? Porque me acordou tão cedo? Entre logo! — Disse Suzan mal humorada, pois foi acordada no mínimo três horas mais cedo do que de costume.
Os dois subiram até o quarto e Suzan deitou-se em sua cama novamente .
— Onde estão seus óculos? Preciso te mostrar uma coisa — Disse enquanto revirava o quarto de sua amiga.
— Não sei, veja na gaveta.
Tomás tomou um susto ao abrir a gaveta da escrivaninha de Suzan, nela continha diversas tralhas como: Pedras que achava na floresta, galhos com ranhuras estranhas, até mesmo apanhou alguns carvões da mina.
Suzan denominava-se exploradora e guardava em seu quarto todo objeto que despertava sua curiosidade. Ela achava que tinha algo de errado com a cidade, que estava amaldiçoada, porém, sua mãe a ordenou a não dizer essas bobagens a ninguém. Suzan obedeceu sua mãe, e guardou seus objetos e teorias para si. E para Tomás.
Tomás arrastou os galhos, pedras e carvões até enfim encontrar os óculos, estava totalmente sujo e com algumas ranhuras por conta do conteúdo da gaveta. Ele limpou o óculos e ao virar-se para entregá-lo a sua amiga, notou que ela havia retomado o seu precioso sono.
Após algum tempo e diversas tentativas, Tomás teve sucesso em despertar a raposa sonolenta e desprovida de uma boa visão, entregou seus óculos e mostrou-lhe o misterioso pedaço de papel que encontrou mais cedo.
Logo depois de ajustar seus óculos, Suzan deu um salto da cama ao ver a folha, sua forma preguiçosa e sonolenta rapidamente transfigurou-se em uma pessoa determinada e confiante.
Suzan tomou o papel das mãos de Tomás e começou a analisá-lo minuciosamente, às vezes sussurrando palavras como “fascinante” ou “inacreditável” para expressar seu encanto.
— E então, o que isso significa? — perguntou Tomás, entediado de vê-la encarar uma folha a dez minutos.
— Eu… Não faço a menor ideia
— Está me dizendo que eu fiquei te observando encarar esta folha por dez minutos e você não descobriu nada?
— Não são só traços e pontos! Eles formam um padrão, uma espécie de mensagem. Com toda certeza isso possui um significado, só não sei qual é.
Suzan investiu contra Tomás como uma flecha sendo disparada e lançou seu questionamento — Onde a encontrou?
— No ferramenteiro, estava a procura de meu pai e este papel caiu deste bilhete — Tomás a respondeu enquanto desdobrava o bilhete recebido por Davis.
Suzan leu o bilhete com uma expressão preocupada e séria, como se tivesse recebido uma péssima notícia. — Seu pai está na cidade? Nossa!
— Está, por mais que ele odeie, porque a pergunta?
— Bem, eu soube por uma amiga da cidade que muitos de lá estão perdidamente doentes, com febre e muitos tossindo sangue. Provavelmente seu pai não vai voltar tão cedo para casa.
Tomás olhou pela janela pensativo, seu pai teria que ficar na cidade por quanto tempo? Talvez um dia ou dois? Uma semana? Um mês? Enquanto olhava pela janela percebeu que o céu estava no completo breu, já anoiteceu? O tempo passou muito rápido hoje.
— Terei que ir, já está tarde e minha mãe está sozinha com as crianças.
— Pelo visto você será o homem da casa por enquanto, faça bem o seu papel. — comentou Suzan em um tom provocativo. — Posso ficar com o papel? Preciso observá-lo com mais atenção.
Tomás não via utilidade alguma naquele papel e concordou. Logo após o término da conversa, Tomás despediu-se de Suzan e partiu em direção a sua residência.
No caminho, sentiu uma forte brisa passando por sua cabeça procurando a origem do vento, Tomás achou estranho, mas muitas coisas estranhas já haviam acontecido naquele dia.
O misterioso vento, surgiu de um local fechado, diariamente descoberto e ainda sim, se sabe pouquíssimo sobre. A origem do vento, deu-se de dentro da grande mina.
Seu pai sempre o alertou desde pequeno para não ir até a mina sozinho, por causa dos riscos de desmoronamento ou pelas lendas urbanas. Tomás não acreditava nas lendas, porém sempre com uma pulga atrás da orelha.
Com passos cuidadosos, foi-se aproximando da velha mina, ao lado da entrada eram deixados os equipamentos de segurança e lanternas, Tomás pegou seu capacete e lanterna e adentrou a mina.
Frio congelante, era a única coisa que tinha dentro da mina, não percebia aquela temperatura durante o dia por conta do número de pessoas circulando, mas ao calar da noite sua temperatura baixou drasticamente.
Alguns minutos percorrendo o velho caminho da mina, Tomás chegou até o final, o que era estranho, pois recordava-se que a demora era maior para atravessar a mina. A grande mina estava em funcionamento a mais de quarenta e dois anos, seu avô trabalhou na mina, seu pai trabalha na mina e pede para que Tomás também siga seus passos.
Frustrado, o rapaz retorna até a entrada. Caminhando cautelosamente para evitar tropeços, pôde notar o eco de seus passos percorrendo os arredores.
Ao sair da mina, observou o céu meramente clareado, estava amanhecendo. Ele havia passado a noite toda fora? Mas como não percebeu o tempo passar?
Tomás apressou os passos em direção a sua casa quando sentiu novamente o vento furioso de dentro da mina, seguido dele, um barulho, um pequeno ruído, que poderia ser notado somente para quem estava próximo da mina. “Tic, tac, tic, tac”
Icônico, pensou, um simples relógio, mas não haviam relógios na mina, tampouco relógios que faziam ventos fortes. Um mistério, pensou ele, algo que contaria para Suzan na manhã seguinte, ou melhor, nas próximas horas.
Chegando em casa, Tomás tomou cuidado para não produzir ruído algum, pois todos da casa estavam adormecidos. Subiu as escadas cautelosamente e, antes de abrir a porta de seu quarto, implorou para que ela não rangesse como de costume. Ao abrir, a porta rangeu, não de forma estrondosa, mas o suficiente para acordar alguém que arruinaria sua vida: Joaquim.
Tomás deitou em sua cama e adormeceu, pensando no estranho dia que tivera, o papel, a mina, o vento, o ruído e principalmente o tempo, que passou ligeiramente rápido.
Observação: Está história está sendo desenvolvida aos poucos, tendo muita atenção a detalhes e desenvolvimento de todos os personagens da história. Peço encarecidamente aos leitores que me ajudem a encontrar erros e/ou dar-me dicas ou comentários sobre os capítulos aqui lançados, desde já, obrigado.
Gabriel de Souza Lofy.